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O preço da voracidade da construção civil

O desafio de preservar os bairros em meio à urbanização

A América Latina é uma das regiões com urbanização mais rápida do mundo. Até 2050, mais de 90% da população deverá residir em cidades. E, como o planejamento urbano tem dificuldades para acompanhar esse ritmo, é preciso pensar em soluções inteligentes. Com construções cada vez mais arrojadas e projetos arquitetônicos que impressionam, não apenas por dentro, como, também, por fora, as cidades estão ficando cada vez mais bonitas e agradáveis para se viver.

Porém, junto com isso, surge um alerta: é preciso cuidar para que esse arrojo não avance sinais e cause impactos em médio e longo prazo.

A audácia da construção civil já gera reflexos. No Ecoville, bairro nobre de Curitiba, as construtoras conseguiram preservar o afastamento entre as edificações, privilegiando os moradores, mas também os cidadãos. Por outro lado, no Batel, que era um bairro essencialmente residencial, criou-se um novo zoneamento que vai acabar com todo esse legado. Prédios comerciais construídos com aproximação excessiva têm criado uma verdadeira selva de pedra. É a sagacidade da estrutura pública e a pressão de engenheiros e arquitetos que não conseguiram preservar o bairro como espaço residencial, diferentemente de São Paulo, que, independentemente da especulação imobiliária, preservou a região dos Jardins de forma inteligente e sustentável.

Outro fator que tem relação direta com esse investimento inteligente é o que se chama da “cidade limpa”, com a eliminação de outdoors e de poluição visual. Maringá e Londrina já são municípios livres de poluição visual. Nesse sentido, a oportunidade para o ramo da publicidade vem para o ambiente digital. Investe-se cada vez mais em mídias virtuais, com ações que beiram verdadeiras experiências de marketing. Além disso, em Porto Alegre, 400 quilômetros de rede subterrânea eliminam o cabeamento por meio de postes e fios expostos, também contribuindo para a limpeza visual.

E, para frear essa voracidade da construção civil com soluções inteligentes, é sugestiva a criação de um movimento que envolva o poder público, as entidades representativas, como o Sinduscon, e os profissionais da área, como construtores, engenheiros e arquitetos. É preciso pensar em construções que levem a beleza além dos projetos e em benefício da comunidade. Há alternativas tão grandiosas quanto os projetos que vemos por aí. 

*Matéria originalmente publicada na edição #254 da revista TOPVIEW. 

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