O mundo não espera!
Pense no perfil de um profissional que se formou há 20 anos em uma das universidades mais renomadas do mundo, que segue fielmente os aprendizados trazidos por seus professores durante a graduação. Agora imagine um outro profissional, que se formou na mesma época, em uma instituição pouco conhecida mas que, ao longo dessas últimas duas décadas, nunca parou de aprender e realizou cursos para evoluir em sua área e, também, se desenvolver como pessoa. Qual deles têm mais chances para aproveitar as oportunidades do mercado?
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O relatório The Future of Jobs, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, apresenta as principais perspectivas para o mundo do trabalho até 2025. Entre elas, está a evidente quebra entre as aptidões que são exigidas pelo mercado e a preparação por quem busca uma posição, situação que deve ficar cada vez mais evidente nos próximos anos.
Segundo o economista Claudio Shimoyama, no mercado 5.0, em que a tecnologia e a inovação avançam sem precedentes, “a verdade passa a ser provisória. O que é certo hoje, passa a não ser mais amanhã”, afirma. Para o especialista, as transformações estão sujeitas em todos os âmbitos: social, ambiental e econômico.
Shimoyama explica que é preciso se adiantar às inovações que estão por vir, como a robotização nos processos de produção, a segurança em setores como saúde e a educação cada vez mais online, por exemplo.
Novas perspectivas
O mundo mudou e, junto com ele, a educação. A realidade está cada vez mais longe da imagem de alunos com livros abertos em uma sala de aula. É possível aprender no trânsito, enquanto se ouve um podcast. Palestras ou cursos online transformam a sala de casa em uma pequena universidade. As próprias experiências da vida se traduzem em insights e aprendizados aplicados em todas as áreas.
O termo lifelong learning surgiu para explicar uma necessidade que já é bem conhecida: a de continuar aprendendo ao longo da vida. Nesse mesmo sentido, o diploma e os títulos perdem importância para a postura ativa em busca do desenvolvimento, seja ele voltado à atualização curricular ou no desenvolvimento pessoal.
Daniella Forster é psicóloga, consultora em RH, coach e mentora. Ela explica que o aprendizado contínuo e constante é importante tanto para a manutenção da empregabilidade quanto para a abertura a novas oportunidades e cenários. Essa linha de pensamento, que propõe aos seus mentorandos, ecoa na sua própria trajetória: após mais de 20 anos de atuação em psicologia, Daniella deu início à uma graduação em educação física. A ideia é atender pessoas mais velhas unindo as duas áreas de conhecimento.
“As coisas mudam muito rapidamente: a tecnologia, as ferramentas que temos à disposição, as práticas profissionais”, explica a profissional, que completa: “A gente vivia dentro de uma organização, isolados, e hoje convivemos com pessoas do mundo inteiro, temos oportunidade de formação em qualquer lugar. Ao prestar atenção nessas mudanças, sabemos o que incorporamos, esperamos e o que aplicamos.”
Eles nunca param: o desenvolvimento contínuo de quatro perfis profissionais
Uma publicitária que dominou a tecnologia, uma chef de cozinha, um jovem empreendedor na comunicação e um executivo na área de educação. São perfis que podem parecer completamente diferentes, mas se encontram em um ponto: a vontade e a disposição em aprender algo novo todos os dias.
A seguir, você conhece a trajetória exemplar e inspiradora de quatro profissionais e suas dicas para evoluir sempre.
Como começar?
Incorporar o aprendizado a uma rotina já estabelecida está mais fácil do que nunca, de acordo com Daniella Forster: “existem cursos disponíveis em qualquer lugar, gratuitos ou não, presenciais ou online.” A profissional destrincha em dois passos simples a busca por formação complementar: identificar quais são os maiores déficits e, em seguida, procurar por cursos que abram o leque de habilidades necessárias. Ela ainda indica realizar formações de curta duração antes de dar início a cursos mais longos.
Cris Alessi
A trajetória de Cris Alessi pode ser dividida em três grandes fases, de 10 anos cada. Primeiro, ela saiu da graduação em publicidade e propaganda direto para o empreendedorismo, em sua agência própria. Depois, tornou-se uma executiva de marketing e foi quando percebeu a necessidade de se adaptar à transformação digital pela qual as empresas passavam. Começou, então, a ajudar agências de publicidade na jornada de mudança do off para o on. Mais 10 anos se passaram e ela integrou o setor público, como Diretora do Conselho de Inovação na Prefeitura de Curitiba, em que desenvolveu projetos importantes, como a Agência Curitiba e o Vale do Pinhão.
Hoje, ela já tem um novo desafio em mãos: voltou para o mercado privado, como consultora de projetos de inovação e transformação digital para empresas. Ao longo de toda essa história, ela nunca deixou a curiosidade e o desejo de aprender de lado. Junto com pós-graduações, ela fez cursos livres que foram do desenvolvimento de aplicativos à inteligência emocional. A própria maternidade e a dedicação aos esportes são experiências, segundo ela, transformadoras e cheias de aprendizados.
Como o seu trabalho impacta o mundo?
Eu me vejo como uma conectora. Acho que meu trabalho faz com que as pessoas enxerguem o futuro com menos medo e com a vontade de um propósito maior.
Com qual frequência você aprende algo novo?
De segundo a segundo.
Qual foi a formação mais importante que você fez além da formal?
Ser mãe.
Qual foi a lição mais importante que você aprendeu fora da escola?
Empatia. Eu acho que, quanto mais maduro a gente fica, mais empático a gente fica também. A lição de se colocar no lugar do outro, de enxergar os lados e, mesmo sem entender, aceitar. Se o mundo fosse mais empático, seria muito melhor.
Qual conhecimento você considera mais importante para qualquer profissional?
O conhecimento de reaprendizagem. Ter a capacidade de, apesar de saber algo, reaprender com uma nova realidade com uma nova lupa em um mundo mais complexo e rápido.
Qual conselho você daria para um profissional de tecnologia e inovação?
Quanto mais a gente colabora, mais a gente se desenvolve. Cocriar e trazer diversidade no grau mais amplo da palavra nos leva muito além.
Stephan Younes
Para Stephan Younes, o melhor jeito de aprender é ensinar. Não por acaso, logo depois de se formar em marketing, ele começou a dar aulas. Depois de passar por agências e ser gestor de algumas marcas, entre outras experiências de sucesso, ele encontrou na educação o seu lugar definitivo, e começou logo pelo Grupo Marista, um dos maiores grupos do Brasil.
Depois de mais de quatro anos, chegou o momento de empreender e Stephan se torna sócio da Inspira Rede de Educadores, que reúne 37 unidades próprias, 34 escolas conveniadas e mais de 20.000 alunos pelo Brasil. Hoje, ele contribui com o crescimento e consolidação da +A Educação, uma edtech de ensino superior e profissional.
Fora das instituições formais de educação, Stephan aprendeu as próprias formas de se manter atualizado, principalmente lendo e se relacionando, aprendendo com os novos desafios e com as pessoas. Ele defende uma postura ativa diante da vida, que inclui mergulhar nos assuntos de interesse e manter trocas genuínas e consistentes com outros profissionais.
Como o seu trabalho impacta o mundo?
Transformando a vida das pessoas e as gerações que estão por vir. A educação transforma a vida de tal maneira que a geração seguinte já tem um outro padrão.
Com qual frequência você aprende algo novo?
Todos os dias. Uma coisa chave é estar aberto aos aprendizados da vida todos os dias.
Qual foi a formação mais importante que você fez além da formal?
Foi empreender. Seja quando eu montei as minhas empresas, seja com o intraempreendedorismo.
Qual foi a lição mais importante que você aprendeu fora da escola?
Que é preciso continuar aprendendo e acreditar que dá sempre para ir mais longe.
Qual conhecimento você considera mais importante para qualquer profissional?
Conhecer profundamente a empresa e o setor. Numa segunda camada, conhecer as pessoas com quem você trabalha e saber lidar com gente.
Qual conselho você daria para um profissional de educação?
Estude, estude, estude. Trabalhe, trabalhe, trabalhe. E se relacione. Com pares, professores, profissionais, pessoas de outros setores…
João Pedro Novochadlo
João Pedro Novochadlo tem 32 anos e uma trajetória de experiências dignas de grandes líderes. Formado em publicidade e propaganda, ele também fez uma pós-graduação em gestão e, mais recentemente, um mestrado em empreendedorismo. Muito rapidamente, ele colocou seu interesse por tecnologia para jogo em competições do setor e aliado ao empreendedorismo social com a Veever, uma ferramenta para pessoas com deficiência visual poderem se deslocar e interagir com o ambiente de forma mais autônoma.
Depois disso, João foi convidado a assumir a diretoria de Inovação, Marketing e Comunicação do Club Athletico Paranaense. Ele também assumiu posições de liderança em empresas ligadas à tecnologia e apoiou projetos nesse sentido.
João sempre foi estimulado à educação informal e desenvolveu conhecimentos por conta própria e a tecnologia sempre foi uma grande aliada. “Assisto muitos vídeos na internet. Busco fontes confiáveis. Tento ir pra literatura, buscar informações mais aprofundadas. Inicio estudos no Chat GPT, quando não sei o que preciso estudar ou aprender e peço para essa inteligência me dizer”, diz.
Como o seu trabalho impacta o mundo?
Dificilmente vou me envolver em um trabalho que não tenha um impacto social no mundo. Sempre vou tentar impactar de uma forma melhor, que a solução venha de uma forma diferente e fora da caixa.
Com qual frequência você aprende algo novo?
Quase todo dia. O aprendizado leva um pouco mais de tempo, mas todo dia eu me exponho e me interesso por algo novo.
Qual foi a formação mais importante que você fez além da formal?
Certamente, foi trabalhar e conviver com pessoas muito melhores do que eu.
Qual foi a lição mais importante que você aprendeu fora da escola?
Você consegue aprender coisas que a universidade ou a educação formal sem sempre será o melhor caminho.
Qual conhecimento você considera mais importante para qualquer profissional?
A flexibilidade, a maleabilidade e a empatia. Se você consegue se colocar no lugar do outro, isso vai te ajudar a resolver problemas.
Qual conselho você daria para um profissional de tecnologia ou comunicação?
Na maior parte das vezes, entender que a tecnologia e inovação sempre vão ser o meio – e não o fim.
Gabriela Carvalho
Antes de integrar a lista de chefs mais reconhecidos de Curitiba, Gabriela Carvalho foi uma estudante que se jogou no mundo. Ela fez a graduação em hotelaria na Suíça e, durante a formação, realizou um intercâmbio nos Estados Unidos e na China. No Brasil, ela atuou em empreendimentos da Bahia e do Ceará. Ao voltar a Curitiba, mesmo com o desafio de um novo negócio, Gabriela não deixou de aprender, com cursos que a permitiram entender mais sobre a gastronomia e a gestão de negócios e pessoas.
Para Gabriela, o aprendizado contínuo é uma orientação que vem da natureza, que está sempre evoluindo e se transformando. Por conta dessa intuição, ela se colocou no máximo de experiências possível. Foi dessa forma que ela encontrou uma ocupação alinhada com seus valores e visão de vida, hoje traduzidos no Quintana Gastronomia. O restaurante traz, a cada novo dia, um menu saudável e inspirado em uma parte do mundo.
Como o seu trabalho impacta o mundo?
Ele me traz energia para trabalhar com mais vontade de estar aqui e fazer o meu serviço nesse plano. Faz com que todo o entorno seja melhor e inspira pessoas daqui e de fora.
Com qual frequência você aprende algo novo?
A cada meia hora.
Qual foi a formação mais importante que você fez além da formal?
Ser mãe.
Qual foi a lição mais importante que você aprendeu fora da escola?
É importante a gente acreditar em si mesmo (a).
Qual conhecimento você considera mais importante para qualquer profissional?
O respeito é tudo. Se respeitar e respeitar o outro.
Qual conselho você daria para um profissional de gastronomia?
Se entregue totalmente ao que você está fazendo. Busque sentir se é isso mesmo o que você quer. Encontre essa resposta e, sendo esse o seu caminho, vá de coração aberto para todas as experiências e tenha certeza que vai dar certo.
*Matéria originalmente publicada na edição #289 da TOPVIEW.