O bom da vida
Ah, o amor! Quem nunca embalou um sonho romântico e quantos de nós conseguiu transformá-lo em um projeto de vida a dois? A TOPVIEW de maio fala de noivas, de casamento, de família. E resolvi dar minha contribuição. Mas não se preocupem. Não vou desfiar conselhos sentimentais!
Só quero falar um pouco sobre o que venho aprendendo ao longo dos anos. E uma constatação inevitável é que o amor é uma construção. Sem esse investimento, o poeta corre o risco de suspirar em vão.
Karla e eu estamos casados há 36 anos. Criamos dois filhos. Construímos família e prosperamos profissionalmente. Em algum momento, ela optou por deixar o Direito e uma desejada carreira como cantora para se dedicar ao nosso projeto mais compartilhado, o de garantir um bom alicerce para a vida em família.
Nesse tempo todo, mudou o mundo e mudamos nós. Há três décadas o cenário dos casamentos no Brasil era bem diferente. Falo sem saudosismo, recorrendo à estatística. Em 1984, tínhamos uma taxa de apenas 0,5 divórcios por 1.000 habitantes acima de 15 anos. Desde então, mudanças legislativas e culturais transformaram esse panorama. Em 2010, por exemplo, a Constituição foi alterada para eliminar a exigência de separação judicial prévia, facilitando o processo de divórcio. Em 2021, o Brasil registrou uma taxa recorde de 2,6 divórcios por 1.000 habitantes. Ou seja, cinco vezes mais.
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Entre um cenário e outro, aprendemos que um casamento longo é formado por uma infinidade de “casamentos curtos”. Conviver é casar todo dia, renovando não só os votos clássicos de amor e fidelidade, mas também o enxoval de paciência, resiliência, negociação, perdão, atenção…
Há muita energia envolvida na vida a dois. E, quando os dois viram três, quatro, enfim, quando chegam os filhos, a família só funciona ao tornar-se uma usina. Nem sempre acionamos os botões certos, nem sempre as engrenagens deslizam em harmonia. Há ruídos, panes e consertos a fazer. E, por isso, as ferramentas devem estar a postos.
Lembro que casamos com nossas economias modestas de recém-formados e sem todo o conforto que tínhamos na casa dos pais. Tudo estava por fazer e fomos fazendo juntos. Hoje, temos visto os jovens saindo de casa bem mais tarde. E a maioria só encara o casamento se gabaritar a lista dos eletrodomésticos mais caros e modernos.
Em tempos de divórcio mais acessível do que nunca e valores sociais em constante mudança, manter um relacionamento amoroso e comprometido é uma prova de que o verdadeiro sucesso não está apenas nos números corporativos ou nos prêmios profissionais — mas na capacidade de construir algo sólido e significativo ao lado da pessoa amada.
Não há receita, todo mundo sabe. Mas há pistas sobre como proteger o casamento e mantê-lo vivo. Na nossa casa, acreditamos na comunicação para compartilhar sentimentos e desafios. Apostamos em projetos em comum, que reforçam nossos laços ao permitir que olhemos para a mesma direção. Cultivamos a resiliência, a compreensão e a tolerância. Perdoamos e somos perdoados.
Ah, o amor! Dá um trabalho danado, mas é a melhor coisa do mundo.
*Matéria originalmente publicada na edição #300 da TOPVIEW.