Fogo e cinzas sobre o Pantanal
No momento em que escrevo esta coluna, já no final de agosto, continuava em chamas a maior área úmida do mundo, o Pantanal. E estava secando, castigada pelo fogo. A temporada de incêndios deste ano é uma das maiores da história, já queimou 10% do bioma e nem as chuvas impedem a devastação.
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No começo de agosto, eu estava na região de Corumbá, no noroeste do Mato Grosso do Sul, muito perto da Bolívia. Junto com meu filho Mário Petrelli Neto, vi de perto, com o coração apertado, os efeitos causados na flora e na fauna pelas labaredas que destroem o que está pela frente.
Na ocasião, integrava um grupo de amigos e conhecidos, percorrendo o Rio Paraguai para praticar pesca esportiva. Nessa modalidade, os pescadores não consomem os peixes: devolvem-nos vivos para as águas. Essa é uma prática turística de grande importância para a economia do Mato Grosso do Sul, assim como para outras regiões brasileiras de grande beleza e riqueza natural, como a própria Amazônia.
No passado, quando meus filhos ainda eram pequenos, frequentei muito a região do Pantanal e guardava na memória a incrível extensão de vegetação e cursos de água, a diversidade da vida natural e a força dos pantaneiros.
Desta vez, fui impactado por um contexto completamente diferente. A terra queima, o homem luta contra as perdas e a incerteza e os animais morrem. Praticamente não existem mais peixes.
O empresário Antônio Spolador, que foi presidente da Associação Comercial do Paraná, lidera, anualmente, um grupo de pescadores esportivos no Pantanal, ao qual me juntei neste ano. Ele é testemunha do que acontece no Pantanal, região que frequenta há 35 anos, e diz ser muito comum que pescadores passem o dia inteiro dentro do barco, no Rio Paraguai, sem pescar um único espécime de pintado, dourado ou pacú, os peixes mais comuns na região.
Spolador explica que as cinzas resultantes das queimadas são levadas para os rios quando as águas sobem e a degradação da água compromete a sobrevivência dos peixes. Quanto mais fogo, mais cinzas e menos vida. A paisagem mostra árvores calcinadas e carcaças queimadas de jacarés, antas, grandes pássaros, entre outros animais. Veados-campeiros e onças-pintadas são resgatados muito feridos, com queimaduras graves, sem ter mais para onde fugir.
Um ciclo perverso que destrói o ambiente natural, amedronta os habitantes e reduz o turismo, uma das fontes de renda mais relevantes para o pantaneiro.
Muitas perguntas estão sem resposta. Por que as queimadas estão fora de controle? Os incêndios são criminosos? Quem ganha com isso?
Especialistas creditam a explosão do fogo à seca severa de vários anos no bioma, combinada às mudanças climáticas, e também à falta de articulação pública preventiva contra o fogo.
As queimadas são usadas historicamente na região para práticas da agricultura, tanto por indígenas e pequenos produtores quanto por grandes fazendeiros. Em situação de seca, essas práticas acabam por sair de controle. O governo federal e os governos estaduais têm sido cobrados pela população e por ambientalistas para que o manejo do fogo tenha mais fiscalização e acompanhamento.
Como cidadão, quero ver ações mais contundentes que ponham um fim a essa tragédia e permitam que o Pantanal se recupere.
*Matéria originalmente publicada na edição #292 da TOPVIEW