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Entre títulos e tijolos: a urgência de profissionalizar o investimento imobiliário

Como colunista de marketing, costumo explorar o comportamento do consumidor sob diferentes ângulos. Nesta edição voltada ao mercado imobiliário, escolhi refletir sobre um ponto pouco discutido, mas fundamental: a forma como tratamos o investimento em imóveis em comparação com o mercado financeiro.

No Brasil, há mais investidores imobiliários do que investidores na bolsa. Estima-se que mais de 10 milhões de brasileiros tenham imóveis como forma de investimento, contra cerca de 6,7 milhões de CPFs cadastrados na B3.

O montante também é expressivo: o valor estimado de imóveis residenciais adquiridos com fins de investimento ultrapassa os R$ 8 trilhões, frente a R$ 5 trilhões aplicados por pessoas físicas em renda fixa, ações e fundos.

Mesmo com esse volume, a cultura de controle e análise é quase inexistente. No mercado financeiro, o investidor acompanha mensalmente o desempenho de suas aplicações em relação a índices como CDI, Ibovespa e inflação. Já quem investe em imó-veis raramente sabe qual foi o retorno real após custos, impostos e tempo de permanência.

Esse cenário se torna ainda mais curioso quando lembramos que boa parte dos investidores compra imóveis na planta com o objetivo de revender após a entrega. Em algumas regiões, a valorização do metro quadrado entre o lançamento e a conclusão da obra pode chegar a 35% em dois ou três anos. Mas poucos acompanham esses ganhos com rigor — e menos ainda os comparam com outras formas de investimento.

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Enquanto o investidor de bolsa recebe extratos e relatórios, o investidor imobiliário ainda se guia por intuição. Incorporadoras que souberem comunicar claramente o potencial de valorização de seus empreendimentos têm uma vantagem. E compradores que tratam imóveis como ativos — e não apenas como bens físicos — tomam decisões mais estratégicas.

Diante dessa realidade, participei da criação de uma ferramenta que ajuda a projetar e acompanhar os ganhos financeiros de investimentos imobiliários. É uma contribuição modesta, mas que busca trazer mais clareza a um mercado que movimenta muito, mas mede pouco. Aos que quiserem apro-fundar essa discussão, terei o maior prazer em trocar ideias com quem, assim como eu, acredita que investir em imóveis também pode — e deve — ser uma decisão baseada em dados.

*Matéria originalmente publicada na edição #303 da TOPVIEW.

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