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Empresas familiares precisam ser profissionalizadas? O que a Disney nos ensina.

Empresas familiares precisam ser totalmente profissionalizadas?  Essa é uma pergunta que sempre me fazem. Eu respondo: depende da família, depende da empresa, depende do objetivo do negócio.

Perguntei a 2 conselheiros e ex-executivos experientes e as opiniões são complementares.

Um deles acredita que sim, uma família deve profissionalizar totalmente a gestão e ir para o conselho para ajudar a guiar a estratégia e cobrar resultados.

O outro acredita que deve haver um “mix” entre família e profissionais de mercado.

Eu gosto de observar e ler exemplos de sucesso e aprender com eles. Talvez um dos mais emblemáticos seja o da Disney em que Roy E. Disney (sobrinho dos fundadores) contratou Frank Wells e Michael Eisner, mas depois declarou uma guerra contra os executivos.

A Disney que conhecemos hoje, lucrativa, grande e com negócios em diversos segmentos é um misto entre tradição (os sonhos de Walt e Roy Disney) e foco em resultados (a visão de Eisner, Wells e depois Bob Iger).

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Convidei o Claudemir Oliveira, o maior especialista em Disney do Brasil, conselheiro de diversas empresas e que foi executivo da The Walt Disney Company por mais de 15 anos para falar disso em detalhes:

Diego: Claudemir, muito obrigado por topar participar! Você como um dos maiores especialistas e estudiosos da Disney do Mundo, acredita que a convergência e as brigas entre a família Disney e os executivos Michael Eisner e Frank Wells foram o que trouxeram o equilíbrio perfeito entre tradição (legado de Walt e Roy) e performance?

Claudemir: Eu que agradeço, Diego! Essa é uma história fascinante. Roy E. Disney, filho de Roy Disney, foi quem viu a necessidade de trazer para a empresa na década de 1980, dois executivos com semelhanças de liderança com seu pai Roy e com seu tio Walt Disney.

A The Walt Disney Company na época estava para falir. Foi Roy E. Disney que teve a visão de trazer duas pessoas parecidas com os gênios Roy e Walt.

Michael Eisner, que veio da Paramount Pictures, tinha outra particularidade que era seu ego gigante, bem parecido com o de Walt Disney. Frank Wells, que veio da Warner Brothers, era mais de bastidores, como Roy Disney. Até nisso, os se pareciam com os gênios do passado.

O que ocorreu é que realmente os dois novos executivos tiraram a Disney da quase falência e a transformaram num império.

Com esse crescimento, Michael Eisner, começou a cometer vários erros que batiam de frente com a cultura família da Disney. Assim começaram as brigas entre Roy E. Disney e Michael Eisner. Isso culminou com a saída de Michael e a entrada de Bob Iger.

Resumindo, o crescimento começou a mexer numa cultura muito forte de família. Filmes como “Pulp Fictionn”, de bandeira da Disney, já alertavam para erros de Michael. Foi uma briga de gigantes.

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Na foto: Frank Wells, Roy E. Disney e Michael Eisner ainda sorrindo juntos

Diego: Como você vê isso nas empresas? Essa ideia muitas vezes obsessiva de que precisamos profissionalizar as empresas pode matar a cultura e o legado que dá alma ao negócio?

Claudemir:

“Eu costumo dizer que cultura antecede lucros, em meus livros, seminários e entrevistas.”

A cultura de uma empresa fica intacta quando há líderes que a protejam. Sabe aquela história que diz que a cultura vai comer a estratégia logo no café da manhã? (frase de Peter Drucker) É disso que estamos falando. Veja o caso da Disney: o principal curso da Disney University no qual tive o privilégio de ensinar, se chama TRADITIONS. É quase todo baseado no legado dos fundadores, tamanha a importância de manter essa cultura viva.

Diego: Empresas longevas necessariamente respeitam seus legados?

Claudemir: De uma forma geral, a resposta é sim. Dito isto, durante a história podem sofrem adaptações a novos tempos.

Veja o caso da Disney. Com o tema inclusão a empresa nos últimos anos começou a ceder em vários princípios que seriam impensáveis alguns anos atrás.

Outro exemplo é que um dos pilares da empresa é que a realidade não deve jamais entrar num parque temático.

“Pois bem, como vamos evitar acesso a internet num parque nos dias de hoje? Impensável, não é mesmo?”

Então, há adaptações ao longo dos anos, mas de uma forma geral, a cultura, o DNA da empresa sempre está presente de alguma forma.

Essa visão do equilíbrio é uma boa forma de pensar na profissionalização de negócios profissionalização ou na estruturação de governança corporativa.

Perguntas interessantes:

Quem devemos trazer como executivo(a)s para as nossas empresas?

O que queremos de fato com isso?

Queremos salvar a empresa? Aumentar nossos lucros? Manter a tradição?

Espero que tenha gostado da reflexão e até o próximo artigo! Abraço!

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