Marcus Yabe: o jovem disruptivo que está revolucionando a TOPVIEW
Quem vê Marcus Yabe em um dia comum de trabalho pode imaginar que ele não para. Super comunicativo, ele é capaz de dar sugestões criativas sobre qualquer assunto, de astrologia a gastronomia, com a mesma vitalidade com que fala sobre o negócio que dirige no momento. À frente da TOPVIEW desde maio de 2017, o publisher promoveu a maior ruptura da história desta marca, reposicionando a revista e o portal e lançando este Journal. Mas nessa uma hora e pouquinho de entrevista, descobri que Yabe – também conhecido como meu chefe – é um viciado em filmes e livros, e que filosofa bastante sobre o que é importante na vida. Nesse bate-papo, o publisher fala sobre sua trajetória, família e revela uma certa timidez ao ter que lidar com o lado social que sua nova função exige.
Você já sentiu preconceito por ser tão novo, com apenas 30 anos, e já em uma posição de grande impacto?
Eu não sinto preconceito das pessoas por eu ser novo. Óbvio que eu sinto uma desconfiança. As pessoas também levam um susto. Um dia eu cheguei em um evento e fui conhecer uma pessoa que eu só conhecia por troca de e-mails, conversas de WhatsApp e tudo mais, e quando ela me viu, a primeira coisa que ela falou foi “nossa, eu te imaginava mais velho”, com aquelas ideias de filme, de que o publisher ou o responsável por uma publicação é um senhor. Ela ficou assustada e falou “você é muito jovem”. Eu não me vejo tão jovem assim, como as pessoas me enxergam.
E como você chegou ao posto de publisher?
Quando voltei do Japão [onde morou por quatro anos], estava decidido a fazer faculdade de Artes Cênicas, com Bacharelado em Direção Teatral. Passei na FAP no ano seguinte e consegui um emprego em uma agência de gestão de e-commerce. Fui promovido muito rápido para um cargo de gestão e eu ia para a faculdade na maior correria. A faculdade e o momento da vida profissional não bateram. Decidi me dedicar, então, totalmente à carreira de negócio. Na agência, a WB4B, havia várias revistas sobre mídias digitais, sobre internet. Todo dia eu pedia licença e levava umas três para casa, e depois as devorava. Passou um tempo, e uma agência muito grande chamada JWT ligou para mim, querendo marcar uma entrevista. Depois que eu fiquei sabendo o tamanho da agência, como era, eu quis trabalhar lá. Fiquei triste porque não me ligaram. Me ligaram depois de seis meses, me oferecendo o cargo de consultoria de mídias sociais de uma nova agência, a Sky Monkeys Trabalhei nas duas agências ao mesmo tempo, e depois de seis meses passei a trabalhar apenas na Sky Monkeys. Depois de um mês, uma ex-cliente minha, a MITI, me fez uma proposta de trabalho. Eu acabei aceitando. Fiquei lá por seis meses, e acabou acontecendo a mesma coisa. O GRPcom virou meu cliente, na época em que eu dava aulas de Mídias Digitais no Centro Europeu, e a Angélica Lopes [coordenadora de plataformas digitais] virou minha aluna. Ela tinha uma vaga no grupo dela, e perguntou se eu não tinha ninguém para indicar. Eu tinha interesse nessa vaga, e acabei indo para a Gazeta do Povo, e fiquei por 5 anos. Até aí eu não tinha faculdade. Foi quando comecei a fazer Marketing na FAP. E me formei no ano passado. Decidi que estava em um novo momento da vida, e precisava desenhar projetos próprios e criei minha consultoria. O grupo RIC foi um cliente da minha consultoria. Fiz um diagnóstico e planejamento da nova TOPVIEW, e logo depois disso fui convidado para ser o executivo da nova companhia.
A TOPVIEW passou por importantes mudanças nos últimos seis meses [o projeto editorial da revista foi remodelado, assim como o site e as redes sociais; o TOPVIEW Journal foi lançado em julho]. E você?
Muitas são relacionadas à TOPVIEW, que exige de mim uma configuração diferente do que eu tinha em momentos passados da minha vida. Eu gosto de falar, de conversar muito, mas não consigo com quem não conheço. A empresa exige que eu faça isso com todo mundo. As pessoas falavam que eu sou metido. Na verdade eu sou tímido. Quando chego em um evento e não conheço ninguém, me recolho. Nesses últimos seis meses eu tive que lidar com essa timidez. Outra coisa que mudou muito na minha vida é que comecei a enxergar necessidades que eu não tinha, como ter uma vida mais saudável. Há seis meses eu não pensava muito nisso. Hoje levo uma vida bem mais saudável. Quando você faz 30 anos, parece que bate essa preocupação, de que você precisa se cuidar, começar a prestar atenção em outras coisas.
E como você se cuida?
Como não tenho a melhor pele do mundo, uso cremes todos os dias. Lavo o rosto todas as noites, passo adstringente, depois eu passo uma água para estabilizar um pouco. Já uso creme antirugas e quando não uso esse creme, passo ácido.
Você se considera uma pessoa vaidosa?
Já fui mais. Engordei muito nos últimos tempos. Eu era muito vaidoso, hoje sou menos. Quero voltar a ser mais vaidoso, acho que chega um momento em que é preciso. Ainda mais agora, que cuido de uma marca que fala sobre estilo de vida, beleza, moda… Tem uma cobrança inerente a estar bem vestido, estar bem.
Você não para. Está sempre envolvido em algum projeto novo, pensando em novos formatos, novas formas de inovar. Sempre foi assim agitado?
Sim. Já foi pior. Há pouco mais de três anos comecei a tomar remédios para controlar a ansiedade e diminuir o déficit de atenção. Hoje não tomo mais. Eles me ajudaram a ver como eu precisava trabalhar alguns pontos, o que não conseguiria sem a ajuda desses medicamentos. Eles ajudaram muito a me enxergar e a melhorar. Agora, não preciso tomar mais.
E como você descansa a mente?
Sou viciado em joguinhos de celular. Quando encontro um joguinho, fico jogando muito. As pessoas acham que eu não descanso, mas eu descanso mesmo, consigo me desligar completamente. Deixo três finais de semana por mês, pelo menos, e me desligo completamente do trabalho. Só me permito trabalhar durante um, se tiver muito agitado mesmo. Gosto muito de me encontrar com os meus amigos, de jantar – é por isso que eu tenho engordado tanto – e eu tenho prazer em ler. Leio muito. Agora estou lendo a biografia do Beethoven, e acabei de ler a biografia do Marlon Brando. Estou lendo mais três livros junto com a biografia do Beethoven, e assim vai.
Algum livro marcou a sua vida?
Sim, dois: um é Levo Você Até Lá, da Joyce Carol Oates, uma das escritoras americanas contemporâneas mais brilhantes da história. O livro conta uma história de degradação humana, sujeita ao amor e ao comportamento social, que me faz arrepiar até hoje. Sempre penso na personagem dela. O outro livro, que é o mais lindo de todos, difícil de superar, é a Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery. O livro traz uma dualidade entre o velho e o novo, entre as possibilidades, então isso me marcou bastante.
E filmes? Quais te conquistaram?
Vários. Tokyo Tower, um filme japonês, foi um dos filmes que mais tocou a minha vida. Melancolia é um filme que me causou arrepios, me deixou pensando por muito tempo, fez pensar muito nas relações humanas que tenho comigo mesmo, e me fez me enxergar de outra forma.
Você morou durante quatro anos no Japão. O que te fez viver lá?
Meus pais moram no Japão há muito tempo. Quando eu fiz 18 anos, passei em vários vestibulares, menos o vestibular que eu queria – Artes Cênicas Bacharelado em Direção Teatral na FAP, aqui em Curitiba. Eu não queria mais que o meu padrasto pagasse as minhas contas. Sou de uma geração que quando os jovens faziam 18 anos tinham que sair de casa. Eu tinha essa ideia. Fiz 18 anos e pensei “vou para o Japão. Aproveito e conheço outro país, trabalho e ganho o meu próprio dinheiro. Depois decido o que eu vou fazer”, e foi por isso que eu fui para lá.
Você sente o Japão presente na sua vida?
Em alguns momentos da minha vida, em algumas datas específicas do ano, eu fecho os olhos e espero que quando eu os abrir, esteja no Japão. Alguns cheiros, algumas coisas me remetem a isso… Para mim, esse período em que morei no lá foi como um filme. O Japão volta muito nos momentos de saudades.
Falando em família, o que ela representa para você?
Família é aquela que dá suporte, que puxa você para o chão, deixa você com os pés no chão. É o amor incondicional. Tenho uma família bem diferente de uma família tradicional: minhas irmãs, meu cunhado e meus amigos. Nós almoçamos juntos, saímos juntos. Minha mãe mora fora, meu pai mora em outra cidade, então não é a minha família próxima. As pessoas discutem muito sobre o que é família e vivem pouco a questão familiar. Tem muita gente preocupada com essas configurações. E isso realmente não é importante. O importante é essa rede de suporte e amor que as pessoas podem ter umas com as outras, independente se tem uma mãe e um pai, se a mãe é solteira, se tem irmãos, se são duas mães ou dois pais… Para mim não importa muito. E eu acredito que a família é a base de toda a sociedade.
Pelo Instagram dá para ver que você ama muito o seu sobrinho. O que você quer ou procura passar para ele?
Na primeira carta editorial da revista, escrevi sobre o Nicolas. Ele mudou tudo, uniu a família. A minha família era unida pelas minhas avós. Com o falecimento delas, a minha família perdeu o pólo magnético e se reestruturou novamente com a chegada do Nicolas. Ele é o pólo magnético que nos une, além do amor. Eu espero para ele aquelas obviedades que todo mundo espera: saúde, que ele tenha uma vida feliz, e tudo mais. Quando eu olho para ele, eu enxergo o poder que uma criança tem, todos aqueles clichês, que falam de renovação, de esperança… Tudo é verdade. Quando você ganha um novo membro da família muito próximo, você começa a entender que é uma nova geração, que tudo o que você pode ensinar de bom pode perdurar. Em 2060, talvez eu não esteja mais vivo, e meu sobrinho pode estar aí e ter um pouco de mim nas ações dele.
De 2017, qual aprendizado você destaca?
A coisa mais poderosa no mundo, na vida, é o relacionamento. O dinheiro, o status, o poder são importantes? Tenho minhas dúvidas. Essas três coisas são pimentinhas, todo mundo gosta, a vida fica mais fácil. Mas nada disso é importante se você não tiver bons relacionamentos, que te ajudam a olhar para si, a se modificar, sempre tendo suporte, apoio. Quanto mais relacionamentos eu conseguir construir, mais feliz eu vou ser, e eu entendi isso plenamente em 2017.
Você acha que está no caminho?
Sim, mas acho que sempre devo ficar atento e me policiando, porque com a tecnologia, com a rapidez das coisas, com a correria do dia a dia, nem sempre conseguimos deixar isso como prioridade, apesar de ser extremamente importante.
E qual você diria que é seu maior sonho na carreira?
Não tenho grandes sonhos. Não sou uma pessoa que sonha para chegar em um determinado momento. Sempre falo que eu sou uma pessoa de muita sorte, que tenho uma sorte fora do comum. Uma das características que acho que me ajudam muito é que eu sou um bom negociador. Passei por uma formação em São Paulo, justamente de negociação, e isso me ajuda a conquistar as coisas. Não tenho muitos planos futuros, vou desenhando as coisas, e conforme as oportunidades vão surgindo, vislumbro que posso ir por um caminho, a coisa é mais orgânica. As coisas vão acontecendo e eu vou aproveitando as oportunidades. Acho que vai chegar um momento que eu vou precisar desenhar melhor a minha vida, mas nesse momento eu tenho vivido muito de acordo com o caminho do rio. Quando vejo alguma coisa bacana no barranco do rio, vou lá e paro por um tempo naquela ilha, naquele espaço.