Leonardo Guedes: de São Paulo o melhor dos salões de beleza para Curitiba
“Podemos sentar aqui?”, perguntou Leonardo Guedes, apontando para uma cadeira em frente ao espelho. “Porque escritório de cabeleireiro é na cadeira do salão”, brinca ele. Foi assim que o paulista de 28 anos, sócio da Casa W e gerente do salão em Curitiba, me recebeu para a entrevista.
Leonardo é hoje um dos cabeleireiros mais badalados da capital e começou sua carreira de forma peculiar. Após perder a mãe na adolescência, escolheu morar com sua irmã, Marcela Guedes, uma dos oito irmãos, que na época trabalhava no Studio W. “Ela me disse que poderíamos morar juntos, desde que eu trabalhasse. Eu disse: ‘faço qualquer coisa’”, conta Leonardo, que em seguida começou a trabalhar ao lado da irmã, ainda na capital paulista.
Em meio ao barulho do secador, foi crescendo e amadurecendo. “No começo, eu não sabia nada sobre moda ou sobre salões. Limpava escovas e segurava cabelo”, relembra. No entanto, em menos de um ano já sabia que levava jeito para a profissão e que seguiria com ela. Foi se desenvolvendo e profissionalizando e, aos 22 anos, recebeu uma proposta do seu chefe, Wanderley Nunes, de tocar um projeto aqui em Curitiba. Leonardo aceitou e se mudou para Curitiba. Hoje Leonardo é sócio da Casa W e pretende expandir a marca.
Nessa entrevista, Leonardo compartilhou suas opiniões sobre sua profissão, a importância de ser cabeleireiro e as razões pelas quais seu salão é hoje um dos mais respeitados (e procurados) na cidade.
“Eu acho que quando você trabalha com respeito à cliente, você erra menos. E quanto menos você erra, melhor você fica.”
Como você descobriu que levava jeito para ser cabeleireiro ?
Trabalhar em um salão de beleza nunca foi um sonho para mim. Eu brinco que caí dentro do salão porque a minha irmã me levou para lá. E eu sempre tive muita facilidade para aprender, em parte porque era uma criança, então para mim era um trabalho “fácil”. No começo eu fiquei encantado em como um salão de beleza podia ser grande. Aos poucos vi que era uma profissão gostosa, que podia me oferecer retorno não só financeiro, mas de networking, vivência e aprendizado de vida. E eu devo todo o meu começo de carreira à minha irmã.
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Em qual contexto veio para Curitiba? E como você chegou ao cargo de diretor técnico da Casa W daqui?
O Wanderley [Nunes] queria fazer um projeto em Curitiba porque é paranaense. Quando ele me fez a oferta de gerenciar o salão, aceitei. No começo não pretendia me mudar, vinha de 10 em 10 dias para estruturar a empresa. Quando o Wanderley me pediu para morar aqui, eu disse me mudava, com a condição de poder ser sócio também. Não queria me mudar de cidade só para ser cabeleireiro. Então ele me disse: faz o negócio acontecer que eu abro para você ser sócio. Em um ano e meio de empresa nós alcançamos as metas propostas, e então ele abriu o capital e eu me tornei sócio.
“Tratamos a cliente como a melhor pessoa do mundo. E quando essa cliente se senta na nossa cadeira, ela também deposita no cabeleireiro o cargo de melhor do mundo, porque foi ela quem o escolheu e está confiando nele.”
Em sua opinião, qual é o diferencial da Casa W?
Nosso diferencial é a formação técnica da equipe. Tudo o que tem de novo no mercado, seja em tecnologia, produtos ou moda, trazemos primeiro para o nosso cliente. Todos os nossos profissionais são formados na nossa academia, para garantir o DNA da empresa, o respeito e o cuidado com o cabelo da cliente. Temos grandes profissionais de sucesso no Brasil que começaram a carreira com a gente. Exemplo disso é a minha irmã, Marcela Guedes, uma das melhores cabeleireiras do país, que trabalha ao lado do Marcos Proença, que também começou com a gente.
Você concorda como o título de “queridinho dos cabelos” das curitibanas?
Olha, eu sou bem modesto. Quando me mudei, fui muito bem recebido pela cidade. Antes de me mudar definitivamente eu tive a oportunidade de conhecer a capital e me encantei com o que vi. Quanto ao salão, eu digo que ainda somos um bebê. Para uma empresa ter uma tradição no mercado, é preciso no mínimo 15 anos. E, por mais que a Casa W tenha uma tradição e reconhecimento nacional, nós ainda estamos em processo de maturação. Estamos caminhando e temos muito o que fazer ainda.
Que tipo de relação você procura manter com os clientes?
Nós temos um relacionamento de muito respeito. Tratamos a cliente como a melhor pessoa do mundo. E quando essa cliente se senta na nossa cadeira, ela também deposita no cabeleireiro o cargo de melhor do mundo, porque foi ela quem o escolheu e está confiando nele. Aqui temos uma tradição de casa, de aconchego, diferente do que tínhamos no shopping. Aqui, por estarmos na rua, em uma casa histórica de Curitiba, temos clientes que vêm cortar o cabelo e não querem mais sair.
“Nosso diferencial é a formação técnica da equipe. Tudo o que tem de novo no mercado, seja em tecnologia, produtos e moda, trazemos primeiro para o nosso cliente.”
E quando a cliente não fica satisfeita?
Nós temos um índice de rejeição bem baixo. Eu acho que quando você trabalha com respeito à cliente, você erra menos. E quanto menos você erra, melhor você fica. Mas a questão da linguagem visual é sempre um desafio. Posso pegar um mulher tímida e fazer um corte extrovertido, mas talvez ela não vá se reconhecer no espelho. O cabeleireiro tem que ter essa sensibilidade para fazer uma leitura dessa mulher e fazer um look que seja especial para ela. O cabelo é orgânico e nós passamos essa confiança para a cliente, que também se sente segura para falar que não gostou. Aí, juntos, nós mudamos até ela ficar satisfeita. A pior cliente é aquela que não fala quando não gostou. Nós precisamos desse feedback para melhorarmos.
Quais cursos fez ao longo da carreira?
Toda a nossa formação é com técnicas estrangeiras. Infelizmente, hoje, no Brasil, a profissão de cabeleireiro não existe. Para virar cabeleireiro, basta uma tesoura e um secador. Eu acho que nos próximos anos teremos faculdades de cabeleireiro, o que acabará com a informalidade. Vivemos em uma situação em que há falta de conhecimento dos profissionais. Mesmos os excelentes nunca estudaram e trabalham intuitivamente. Mas esse trabalho poderia ser muito melhor com uma formação técnica, que também é importante para a cliente. Com capacitação, acabamos com as loucuras como quebrar cabelo, errar o tom, erros básicos que geram um descontentamento das mulheres com o mercado no geral.
Então acredita que o salão de beleza vai deixar de ser um trabalho fácil de começar?
Mexer com cabelo é algo muito sério porque afeta diretamente a auto estima. Você pode deixar uma mulher mais feliz com seu penteado, ou deixá-la ainda mais triste. Eu sou muito vaidoso e quando não gosto do corte do meu cabelo, nem tenho vontade de sair de casa. Imagina então para uma mulher que foi ao salão com uma expectativa alta, e então o cabeleireiro acaba com o cabelo dela. Não dá mais para ficar brincando e aprendendo com cabelo de cliente. Muitos profissionais começaram em salões porque era fácil e não precisava fazer curso, mas eu vejo essa porta se fechando porque o mercado está se tornando mais exigente. Os padrões estão sendo quebrados e hoje temos todos os tipos de cabelos, corpos e estilos. A tendência é o ser humano evoluir e ir quebrando esses tabus.
Quais são os próximos passos do salão?
Expandir. Eu me considero uma pessoa bem sucedida, e não digo de bem material. Todos os dias da minha vida eu trabalhei para alcançar isso, e eu já alcancei. Agora quero expandir por amor à profissão, levar o nosso conceito mais longe.
Existe alguma recordação que te marcou significativamente ao longo desses anos?
Sim, tem várias. Uma vez uma mulher muito triste veio cortar cabelo comigo antes de viajar, e o sonho dela era casar. E eu disse ‘vem cá, eu vou mudar o seu cabelo e vou mudar a sua vida’. Então eu fiz um cabelo lindo e ela foi viajar. Depois disso ela desapareceu, nunca mais apareceu no salão. Achei até que tinha feito algo errado. Um ano e meio depois ela apareceu com um convite de casamento. Naquela viagem ela tinha conhecido o amor da vida dela e durante todo aquele tempo tinha morado com ele, no exterior. Imagina? Isso me marcou muito. E depois eu fiz o cabelo do casamento dela também.
Quando não está no salão, o que você gosta de fazer?
Eu gosto de cozinhar. Eu adoro ficar em casa, principalmente porque fico pouco tempo em casa. Eu cresci em uma família muito grande, tinha oito irmãos, então gosto da casa cheia, de passar tempo com meus amigos, cozinhando, jogando baralho…
“A pior cliente é aquela que não fala quando não gostou. Nós precisamos desse feedback para melhorarmos.”
Como caracteriza o/a cliente curitibano/a?
O curitibano é muito exigente. Em São Paulo as pessoas são mais abertas, aqui são mais tradicionais. Nós vemos pela cidade. Quando me mudei, fiquei encantado com a organização e com a beleza das pessoas. Eu vejo que elas se cuidam melhor, cuidam da casa, do espaço, de si mesmas.
É mais difícil ser hair stylist ou empresário?
É mais difícil ser empresário, com certeza. Eu me considero empresário porque é uma gestão de empresa, são quase 150 funcionários. E a nossa empresa é blindada: se eu fizer uma coisa errada, não serei o único a pagar, todos são responsabilizados, simplesmente porque muita gente tira todo o sustento da família daqui de dentro. Então o respeito que temos com o cliente é o mesmo que temos na equipe.
Quem corta o seu cabelo?
Na minha equipe, quem tiver disponível. Às vezes eu corto sozinho, mas confio 100% o meu pessoal. E é muito difícil cortar cabelo de cabeleireiro. Eu corto com quem está disposto a me escutar, porque sempre dou palpites (risos).