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Fórum debate investimentos no setor elétrico do Paraná

Com mais de R$5 bilhões de investimentos, o Paraná se prepara para suportar a demanda de energia para a próxima década

Uma rica discussão sobre o potencial econômico do Paraná e as expectativas de investimentos a curto prazo para ampliação da capacidade de distribuição e geração de energia foram a pauta do Fórum LIDE de Energia que aconteceu no dia 8 de dezembro e reuniu um time de especialistas do setor. A presidente do LIDE Paraná, Heloisa Garrett, apresentou o evento que faz parte do Plano Estratégico de Retomada da Economia Paranaense, anunciado pelo LIDE nas últimas semanas.

“Temos aqui no estado a quarta maior economia do país, e debater temas estruturantes como a energia é fundamental para garantirmos a sustentação das indústrias aqui instaladas e atrair novos investimentos, principalmente nas regiões com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Paraná”, destaca Garrett,  sobre a motivação da discussão.

O evento trouxe um panorama de investimentos para garantir a confiabilidade do sistema elétrico do estado, uma vez que a energia é um dos fatores essenciais para a operação industrial. E para falar do potencial de industrialização no estado, a FIEP – Federação da Indústria do Paraná foi representada pelo seu Superintendente, João Arthur Mohr, que destacou que a força da instituição, que reúne mais de 50.000 indústrias de diferentes segmentos. 

“O maior consumidor de energia é a indústria, ela representa o insumo mais importante dentro do setor produtivo e precisamos de confiabilidade do sistema. Garantir que quando uma indústria demanda energia, ela não sofra com a oscilação no sistema. E quando uma indústria vai se instalar no Paraná, ela quer mão de obra qualificada, estar próximo da sua matéria prima, ter uma boa rede logística que garanta o escoamento da sua produção, mas, principalmente, ela precisa de energia confiável e barata”, destacou Mohr.

Novos investimentos em transmissão e distribuição

A Copel foi representada no debate pelo seu Diretor Geral de Geração e Transmissão, Moacir Carlos Bertol que até 2019 esteve à frente da Secretaria de Planejamento do Ministério de Minas e Energia. Ele apresentou o sistema de energia no Paraná e fez um panorama dos investimentos nas redes de transmissão e distribuição para os próximos 10 anos, já prevendo o atendimento da demanda  para o consumo industrial, residencial e comercial.

“Temos cerca de R$5 bilhões em investimentos em obras que estão em andamento e previstas em um novo leilão de transmissão que vai acontecer em 2021 na Bolsa de Valores de São Paulo, seguindo os trâmites da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. São investimentos em distribuição e transmissão que garantem o atendimento à demanda até 2030″, informou Bertol. 

O leilão citado pelo diretor estava previsto para este ano, mas foi adiado em virtude da pandemia, e a obra em andamento é o Sistema Gralha Azul, que expande a capacidade de transmissão entre as subestações de Assis (SP) e a região Central do Paraná, que também entrou na pauta do evento, tendo em vista sua importância para o Sistema Interligado Nacional de geração e transmissão de energia e, principalmente, para a manutenção do sistema no Paraná.

Sistema Gralha Azul

A EPE – Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é quem promove os estudos para traçar os investimentos necessários para atender a demanda em todas as regiões do país. E a necessidade de um suporte ao sistema de transmissão no Paraná foi objeto de estudos nos últimos anos, uma vez que há a necessidade de reforços no sistema para garantir sua capacidade de atender a demanda da geração, transmissão e distribuição. 

Em 2017 a ANEEL realizou o leilão para esta obra de reforço do sistema, que atende não só o Paraná, mas integra o Sistema Interligado Nacional. A vencedora do leilão foi a empresa Engie e a obra está em andamento desde 2018, com previsão de conclusão para setembro de 2021. O Sistema de Transmissão Gralha Azul é uma alternativa para o escoamento da energia gerada por Itaipu, é uma forma de viabilizar a interligação do sistema, atendendo a Região Metropolitana e Região Sul de Curitiba, garantindo o suprimento energético do Paraná até 2032. 

O Sistema Gralha Azul é uma das maiores obras de engenharia elétrica em execução no país, composto por 15 linhas de transmissão, 10 subestações de energia, sendo que 5 dessas são novas nas cidades de Irati, Castro, Guarapuava, Ponta Grossa e União da Vitória. A obra envolve 27 municípios do estado e gera 5.000 empregos diretos.

Apesar da Usina Hidrelétrica de Itaipu ficar dentro do território paranaense, E com este novo sistema haverá um aumento na capacidade de transmissão, trazendo energia gerada na usina chegue até a região Centro Sul do estado, garantindo melhorias significativas na confiabilidade do sistema da Copel, e desta forma suprindo uma futura demanda para que indústrias se instalem na região. Atualmente 75% da energia consumida na região vendo da região Sudeste.

O Diretor de Planejamento da ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico, Alexandre Zucarato, também participou do Fórum e destacou que essas soluções estruturais garantem não só o suprimento de energia, mas também  o equilíbrio com as fontes alternativas como a geração de energia solar, por exemplo. “Estamos em constantes estudos para garantir o atendimento à demanda em favor da evolução constante na oferta. Esses reforços em nosso sistema nacional garantem que a energia esteja disponível para o consumir no momento que ele precisa, e com menor custo possível”, destacou ele que frisou ainda que o sistema elétrico brasileiro é um das maiores e mais complexas obras já construídas pela engenharia da humanidade.

Entraves legais e questões ambientais

Apesar do Sistema de transmissão Gralha Azul ter sido classificado pela Portaria 416 pelo Ministério de Minas e Energia como execução  prioritária, parte das obras estão paradas devido à uma ação movida pelo Ministério Público do Paraná que questiona o impacto ambiental da obra. A ação pede a suspensão de todas as licenças e autorizações ambientais expedidas em favor da Engie, responsável pela execução da obra. No dia seguinte à realização do Fórum, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) revogou a liminar.

O Diretor de Implementação do Sistema Gralha Azul, Márcio Neves, explicou que foram mais de dois anos de estudos e audiências públicas, e a obra segue todos os mais rígidos protocolos e compensações ambientais. “Todas as etapas do licenciamento foram cumpridas e o traçado desvia de áreas sensíveis. Com torres mais altas não suprimos a vegetação e estamos trabalhando com o lançamento de mais de 13 mil quilômetros de cabos usando drones, uma iniciativa pioneira em uma obra deste porte no Brasil, o que garante uma supressão de apenas 0,2% da área afetada de vegetação”, explica.

Um dos questionamentos feitos durante o Fórum foi a polêmica do entrave jurídico envolvendo a APA – Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, uma das maiores unidades de conservação do Paraná. E Neves explicou que a obra é o resultado de estudos do Ministério de Minas e Energia e não há como desviar da escarpa, uma vez que para desviar o Sistema teria que passar por São Paulo ou por Santa Catarina, o que inviabiliza a operação. “Tivemos dois anos de audiências públicas e anuência de todos os órgãos competentes. O traçado foi definido no edital de licitação da ANEEL, e temos a segurança que estamos trabalhando com o melhor traçado,  e tomando o cuidado para ter o menor impacto possível. Seis linhas de transmissão já passam pela Escarpa e as linhas que estão sendo construídas estão paralelas às linhas já existentes”, complementa.

Competitividade e visão de futuro

O economista e presidente do LIDE Energia, Roberto Gianetti da Fonseca, também participou das discussões e destacou a importância de pensar em energias alternativas e no preço da energia no Brasil, que é um custo alto da produção. “Temos uma matriz energética muito dependente do sistema hídrico, e precisamos estar atentos aos sistemas do  futuro como a energia eólica e solar. Nós ainda subutilizamos a microgeração, e pensar em um sistema robusto e que garanta segurança ao industrial é fundamental para atrairmos e mantermos as empresas no Brasil”, destacou.

Gianetti ainda destacou que pensar na diversificação da matriz energética no país, com a variedade de fontes de energia renovável que temos disponível e o movimento de descarbonização colocará o Brasil como uma referência mundial, e certamente atrairá mais investimentos.

Como a bandeira laranja impede ainda a realização de eventos presenciais na capital paranaense, o LIDE Paraná, com os parceiros Pixel e Grupo Combo criaram uma experiência digital diferente aos convidados. O Fórum aconteceu em um cenário virtual de uma fábrica, e com recursos gráficos de 3D e realidade aumentada o tema pode ser explorado de forma mais dinâmica e criativa.

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