Rhavi Carneiro: o curitibano que transformou o ensino de inglês em um negócio milionário
Antes de engajar – e conquistar – milhares de internautas com suas dicas práticas de inglês em vídeos curtos, dinâmicos e descontraídos, Rhavi Carneiro já ensinava o idioma no estilo tradicional, em cursos específicos em Curitiba. Das experiências em salas de aula até seus últimos posts no Instagram já são 12 anos ensinando inglês. E engana-se quem pensa que ele sempre falou perfeitamente. Aos 16 anos, quando chegou nos Estados Unidos para um programa de trabalho de alguns meses e atuava como garçom em um resort de golf, Rhavi não entendia grande parte do que as pessoas falavam. Ainda que conhecesse o idioma, a imaturidade de não se permitir errar o deixava inseguro. “Isso é algo que eu falo muito com os meus alunos: é muito natural errar. Não só é natural como é uma das ferramentas mais poderosas de aprendizado”, garante.
Foi da sua própria experiência com o inglês – cujo primeiro contato ele teve ainda na escola, de forma tradicional –, que Rhavi desenvolveu um método próprio de ensino: a Fluency Academy, lançada há quase três anos e hoje com sete mil alunos. Trata-se de um curso totalmente online co-criado por pessoas que têm o inglês como língua nativa. Antes disso, porém, o curitibano criou um evento online e em tempo real chamado Fluency Masters, no qual ensinava seus seguidores a destravar a fala da língua. Logo na primeira edição, teve incríveis 24 mil inscritos. Na segunda, o número saltou para 200 mil. Na terceira, foram 600 mil. E o último Fluency Masters atingiu um milhão e 200 mil participantes.
Com seu carisma irreverente, ele engaja diariamente pelo menos 600 mil pessoas em plataformas como blog, Instagram, Facebook e YouTube. A desenvoltura diante das câmeras provavelmente vem da veia artística que carrega dos pais, a cantora e compositora Rosy Greca e o músico e também compositor Helinho Sant’Ana. Rhavi cresceu assim, entre os bastidores do teatro, na coxia, espiando a plateia. “Tudo isso meio que reflete na forma como apresento conteúdo na minha página. São influências que foram muito importantes.”
“Um dos pontos mais importantes desse tempo todo ensinando em escolas tradicionais foi perceber que elas não funcionam muito bem.”
Além do inglês, o professor também fala espanhol e francês, que aprendeu sozinho, com seu próprio método, e se prepara, inclusive, para lançar dois novos cursos nesses idiomas, além de quatro livros com dicas de ensino do inglês. Foi no escritório da sua empresa em Curitiba que Rhavi Carneiro nos recebeu e compartilhou detalhes da sua trajetória de sucesso, que o tornou, aos 29 anos, dono de um negócio milionário.
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TOPVIEW: Você já falava inglês quando foi para os Estados Unidos. Mas de que forma essa experiência te aprimorou?
Rhavi Carneiro: Foi super especial pra mim. Fundamental para a minha vida. Fiquei uns 4 meses lá, no primeiro ano da faculdade. Eu não sabia ainda que seria professor, apesar de que, com 15 anos, eu já dava aulas de inglês para os meus vizinhos, para um amigo de amigo, que era como eu “tirava um troco”. Eu fazia Design Gráfico e, na metade do curso, já vi que não era muito para mim. No entanto, sabia que era uma coisa importante para a minha mãe eu me formar. Foi muito por ela. Não que eu aconselhe as pessoas a fazerem isso – sigam seus sonhos –, mas foi uma escolha minha terminar [a universidade] e foi muito importante, aprendi muito, refinei muito o lance visual e estético. Durante a faculdade inteira eu dava aula de inglês, ia de manhã para a faculdade, fazia estágio à tarde e à noite dava aula – logo quando voltei [em 2008] já fui contratado por uma escola. Ali, comecei a não só melhorar muito o meu inglês, mas a ganhar experiência como professor.
Você acredita que as escolas tradicionais de idiomas não funcionam mais?
Um dos pontos mais importantes desse tempo todo ensinando em escolas tradicionais foi perceber que elas não funcionam muito bem. Se a gente parar para pensar na quantidade de pessoas que a gente conhece que já estudou inglês às vezes em uma, duas, três escolas, a quantidade de pessoas que realmente fala inglês é muito pequena. Como professor, eu via que coisas simples faziam com que aquele aprendizado fosse ineficaz e só funcionasse para uma parcela muito pequena das pessoas – isso quando elas estudavam por cinco, seis anos, e ainda se davam bem com o método. Por mais que existam nivelamentos, [os cursos tradicionais] sempre nivelam por menos. Isso de certa forma oprime as pessoas que têm mais dificuldade. Claro, quem é mais confortável vai ficar lá, mas também não vai se desafiar. Se a gente parar para pensar, quanto tempo tem uma aula de inglês? Quanto tempo se fala inglês em uma aula? E quando se fala, é com o professor ou com outro aluno? Além de conversar com uma pessoa que também está aprendendo e que não vai conseguir te corrigir, pode ficar metade da aula ouvindo as pessoas falando inglês errado. A nossa grande referência do inglês é o professor, e ele fala como? De um jeito mais pausado, para garantir que todos os alunos entendam, mesmo os áudios desses cursos são assim. O cara faz cinco, seis anos de inglês, se forma, fala com o professor, com os colegas, mas quando vai para os Estados Unidos, o que acontece? Não entende nada.
Em que momento você decidiu levar o ensino de inglês para a internet?
Quando acabou a faculdade, eu consegui fechar uma turma de inglês dentro de uma grande empresa multinacional e percebi que era uma super oportunidade, podia ser um negócio. Poderia cobrar menos das pessoas. Comecei a estimular essa parte mais empreendedora. Fui parando de dar aulas em escolas e fui me dedicando a essa empresa, que se chamava Business Town. Começou a crescer, a ter mais turmas, começou a dar certo. Fiquei alguns anos fazendo isso, até que comecei a cansar um pouco. Ir atrás de alunos, prospectando o tempo inteiro, era uma coisa meio cansativa e eu não conseguia focar muito na minha paixão, que era o ensino, a criatividade. Vi que na internet tinham alguns professores que estavam lá dando dicas e crescendo bastante, atingindo muitas pessoas. Eu vi na internet a saída: conseguia alcançar as pessoas com uma forma mais lúdica de ensinar, com um jeito mais engraçado, coisas que acho que são mais pertinentes no aprendizado do idioma e que não são ensinadas normalmente. E quando comecei a ver que existe essa frustração das pessoas, que não era só uma impressão que eu tinha, falei “cara, tá tudo errado”. Peguei a forma como aprendi inglês, espanhol e francês, que foram processos muito mais rápidos, em que aprendi em seis, sete meses, organizei esse meu método e passei a ensinar as pessoas a estudar de um jeito diferente.
Você lembra como foi o primeiro vídeo que postou?
Eu criei a minha página no Facebook, “Inglês com Rhavi Carneiro”, no final de 2016. Passei alguns meses fazendo a parte visual, que eu tinha mais facilidade, e deixei lá. A página estava pronta, mas não tinha coragem de começar. Foi engraçado, porque eu tinha um videozinho no celular que eu gravei no escritório da minha mãe, quando me deu na telha gravar tipo selfie, a One Minute Tip, pensando que as pessoas querem aprender rápido, com essas pílulas de conhecimento. Fiz como um teste. A expressão era “beat around the bush”, que significa “se enrolar para fazer algo”. Um dia estava dando aula para um aluno particular e ele falou: “cara, faz esse troço, dá o play, é massa, você manda bem”. Terminei a aula e coloquei o vídeo. De repente, a galera começou a curtir, foi muito louco. Comecei a receber um feedback instantâneo – e esse é o poder da internet. Comecei a responder os comentários da galera. Em dois, três meses a página tinha quatro mil likes, o que para mim era inacreditável. Enquanto na outra página da Business Town as postagens tinham cinco, seis curtidas de forma orgânica, nessa nova de repente tinham 200 curtidas… Aí parei tudo, larguei todos os meus alunos e falei: “vou me dedicar a isso, fazer um curso de inglês pra essa galera”. Seria a minha oportunidade de viver um estilo de vida diferente, poder viajar e fazer o que eu amo ao mesmo tempo. Parece tão longe das pessoas, tão impossível, mas não é. Em seis meses, a página já tinha mais de 100 mil likes. Era muita interação e eu fazia tudo sozinho: criava os vídeos, editava, postava, respondia absolutamente todo mundo… Paralelamente a isso eu fazia curso de Marketing Digital, de como trabalhar os anúncios no Facebook, Instagram, como trabalhar a imagem na internet. Meu sócio [Phin] entrou depois e me deu um super auxílio em vários sentidos, mas a parte de conteúdo, principalmente nesses seis meses, eu fiz tudo absolutamente sozinho.
Como surgiu a Fluency Academy?
A página me deu uma visibilidade legal e no começo de 2017, uns cinco meses depois do primeiro vídeo, eu tive a ideia de criar um evento online em que eu ensinava os meus seguidores a destravar o inglês, o Fluency Masters. Logo depois, abri uma turma para a Fluency Academy, que é um treinamento de seis meses de como aprender inglês de uma forma prática e realmente se tornar capaz de entender um filme, uma série, de ouvir um nativo falando na tua frente sem ficar desesperado.
Como seu método se diferencia?
É um método completamente diferente do tradicional e está se provando muito incrível. Metade dos alunos começa do zero e a outra metade é da galera que passou anos em escola e não aprendeu. O curso funciona 100% igual para todo mundo. Todo o material foi feito com auxílio de nativos pelo mundo… Todos os diálogos, materiais escritos foram escritos por duas britânicas nativas, revisado nos Estados Unidos e adaptado para o um inglês mais norte-americano, que é o meu inglês. Todos os áudios foram gravados por nativos, porque por mais que eu ache meu inglês super bom, eu não sou nativo.
De que forma seu trabalho amadureceu nesses 12 anos ensinando?
A experiência em sala de aula é muito importante para se tornar um professor realmente completo, que consegue visualizar as nuances, as diferenças de perfil de alunos, as dificuldades que cada um tem, saber cativar um aluno que tem uma personalidade x, quebrar o gelo. A experiência em sala foi fundamental. É muito desafiador dar aula para uma câmera, é dar aula para nada, basicamente. E você tem que ficar imaginando como seria o feedback, imaginar o que as pessoas perguntariam com relação àquilo. Tô cada vez mais ligado em como administrar isso tudo, [desenvolvendo] o lado empreendedor. Eu larguei tudo para fazer essa página, sem fazer ideia de como seria esse retorno e me sustentei por quase um ano com um dinheiro que eu tinha guardado ao longo dos anos como professor de inglês.
Então você se preparou para isso, né? Acho importante colocar isso, porque há muita romantização do “larguei tudo para…”
Sempre tentei justamente criar uma estrutura para, quando chegasse o momento, eu ter condições de fazer acontecer. É maravilhoso e é possível, mas exige uma série de preparações, acertos e erros, é um amadurecimento. Não é só uma dica de um minuto, são 13 anos dando aula e vendo como as pessoas aprendem.
A primeira turma da Fluency Academy, em 2017, teve 150 alunos. Na atual, são mais de sete mil.
Sente falta de dar aula em sala?
Eu dei tanto tempo aula em sala que foi suficiente. Eu queria ir para outros ambientes e atingir mais pessoas – e basicamente a minha sala de aula hoje em dia é meu estúdio, é minha câmera. Falo realmente como se tivesse falando para os meus alunos.
Ao viajar para fora do Brasil, a gente vê que é bem mais comum encontrar pessoas que falam inglês. Além da questão social, você acha que nos falta interesse? Ou entender a importância do idioma?
É uma questão de incentivo mesmo, de cultura, de mostrar a importância. As pessoas fazem coisas porque há uma motivação por trás daquilo. O inglês no Brasil sempre foi uma coisa meio sem sentido, quem fazia não via razão para aprender. Hoje em dia, cada vez mais as pessoas veem. Lembro até quando eu era criança e só queria passar na matéria. É também a forma como as pessoas apresentam aquilo, talvez até qualidade do ensino. E é muito o lance das prioridades. Você vai para qualquer país da Europa e a maioria das pessoas fala inglês. A necessidade de uma segunda língua nesses países é total, primeiro pela proximidade, depois são grandes países da Europa, muita gente visita, é uma questão mesmo de incentivo, de qualidade de ensino, por parte do governo até.
O que de mais enriquecedor você conquistou até agora?
É mais a questão cultural das viagens… O grande sonho da vida era poder viajar o mundo e, hoje em dia, meu trabalho me permite que eu exerça essa minha liberdade e meu espírito de aventura, que eu amo. Sou grato à vida por poder ter isso. Super estimulo as pessoas que também têm vontade, porque é possível, não é coisa de outro mundo. A liberdade, as viagens, as culturas, as emoções que eu passo é o que me alimenta.
E você realmente tem muitas paixões, né? No seu site você diz que ama música e esportes radicais…
Tenho uma coisa forte na minha vida, que é nunca abrir mão das minhas paixões, por causa de negócios. Claro que tendo responsabilidade, cuidando das minhas coisas, mas nunca esquecer aquilo que me deixa super feliz. Então, sempre tento conciliar.. Pratico escalada quatro vezes por semana – levo a sério, tenho um regime de treino que é quase como o de atleta. Academia eu tenho um pouco de preguiça, e a escalada é tão exigente fisicamente que ela supre. Adoro yoga, gosto muito de surf, quase todo fim de semana eu tento surfar ou ir para uma montanha escalar. Sempre gostei de passar medo, basicamente, de me desafiar. Já pulei de paraquedas algumas vezes… Ano passado fui para a África do Sul e pulei do maior bungy jump do mundo de ponte, que foi uma coisa sensacional. Sempre tento ir para a Nova Zelândia também. Morei uns cinco meses lá, meu sócio é neozelandês. Queria muito viajar e morar um tempinho fora e como ele é de lá ficou perfeito.
Quais fatores definem um bom inglês?
Regularidade é tudo no aprendizado do idioma. E esse é um dos motivos pelos quais também as pessoas não aprendem. Por isso que um cara que você nunca imaginou falando inglês, quando vai para os Estados, em quatro meses aprende. Não é um tiro, uma corrida de 100 metros, é uma pequena maratona que você vai percorrer, mas sem o estresse – a gente vai poder descansar entre uma corridinha e outra. O cara que é muito inibido e não se coloca em situações onde ele possa praticar acaba não desenvolvendo tanto o idioma, pelo simples fato de que ele não se permite errar. Sem o erro não tem a correção e nunca vai melhorar. O cara que se solta e fala o tempo inteiro, mesmo que erre, vai errando e lapidando, cada erro é uma oportunidade de aprendizado. Tem uma grande poliglota chamada Kató Lomb. Ela falava 16 idiomas e traduzia para eles, uma gênia completa, e criou uma fórmula de fluência. O caminho é: o tempo de contato com o idioma multiplicado pela motivação e dividido pela inibição.
É mais fácil aprender outro idioma depois do inglês?
Depois de um segundo idioma, o terceiro é mais fácil, é como se você visse o caminho para aprender, você entende melhor como sua cabeça funciona com outro idioma e fica mais fácil, como se tivesse uns atalhos.
Fala um pouco dos próximos passos…
A gente vai lançar, no próximo semestre, um curso de espanhol e um curso de francês. Vou ser o professor de partes do curso, mas não do curso, porque eu falo esses idiomas, mas não domino a didática deles. Estou preparando um curso de inglês para falantes de espanhol para expandir para a América Latina e quatro livros que vão ser lançados ao longo do ano: dicionários de gírias, phrasal verbs, expressões idiomáticas e um guia de gramática descomplicada. Tenho investido bastante na parte tecnológica, na plataforma de ensino. Agora a gente está com uma novidade super massa: a técnica de memorização que eu ensino durante o Fluency Masters usa uma tecnologia com opções gratuitas, que não são muito legais ou parecem um negócio da década de 1990 ou o algoritmo de memorização de prática não é muito inteligente. De dois anos para cá eu falei: “quero ter a minha própria tecnologia”. Eu e meu sócio fomos atrás e começamos a montar uma equipe do mundo inteiro de grandes programadores, caras muito fodas, jovens, muito bons naquilo que fazem. Essa turma que lançou agora, a 5ª turma da Fluency Academy, a gente já usou a nossa própria tecnologia de memorização dentro da nossa plataforma – antes algo terceirizado. O lindo dessa tecnologia é que você nunca esquece nada do que você aprende, por isso que o aluno realmente aprende em seis meses o que ele aprenderia em seis anos.