Por meio da fotografia, Marina Klink quer alertar o planeta sobre questões de sustentabilidade
A vontade de compartilhar os registros fotográficos coletados em cerca de uma década de viagens – imagens de lugares isolados e inóspitos, aos quais nem todos se propõem a ir – foi um dos motivos que fez Marina Klink virar fotógrafa. A sede por aventuras já fazia parte da rotina de Marina, esposa do navegador Amyr Klink. O casal já fez longas viagens, inclusive com as três filhas, Laura e Tamara, de 21 anos, e Marininha, 18.
Parte do trabalho de Marina pode ser conferido até o dia 30 de novembro no showroom da construtora A. Yoshii em Curitiba. A exposição “O olhar nômade de Marina Klink” apresenta ao público imagens produzidas na Antártica. Em recente passagem por Curitiba para a abertura da exposição, a fotógrafa conversou com a TOPVIEW sobre sustentabilidade, fotografia e, é claro, viagens.
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“Há um consumo exacerbado e falta de limites no que diz respeito a colocar o que não serve mais em lugares inadequados.”
TOPVIEW: Quais os maiores ensinamentos provenientes de suas viagens, principalmente na Antártida?
Marina Klink: Uma das coisas que a gente aprende quando faz uma viagem para um lugar remoto é o quanto nós, em nossa rotina, agredimos o meio ambiente. É muito comum perceber a desinformação e a falta de educação das pessoas com relação aos seus próprios descartes. Há um consumo exacerbado e falta de limites no que diz respeito a colocar o que não serve mais em lugares inadequados. Quando temos noção do que estamos gerando, a gente volta muito impactado. Outro grande aprendizado é perceber que somos responsáveis pelo que a gente consome depois que aquele bem não é mais útil. Das viagens, outro ensinamento é o registro. Os registros das nossas experiências são importantes porque, quando a viagem acaba, o que fica foi aquilo que a gente captou, seja uma fotografia, um texto, um desenho, um diário. O importante é fazer registros, porque aquilo que é inesquecível a gente percebe que esquece já no caminho de volta para casa. Então uma viagem que demandou muito preparo, muita dedicação e uma construção, se não for registrado, vai se perder. E a outra coisa é o compartilhamento: temos que não só fazer o registro, mas compartilhá-lo. Se a gente tem um diário e o guarda na gaveta, esse diário vai se perder, não vai ter sentido. Quando eu era criança. me lembro que o compartilhamento era por meio da apresentação de slides na casa dos vizinhos. Esse hábito de a gente compartilhar sempre existiu, mas mudaram as ferramentas. Hoje, a gente tem muitas formas de compartilhar sem mesmo sair de casa. O ensinamento final seria a orientação com relação à biologia, as ciências naturais. Viajar em família implica em uma série de aprendizados, não só o aprendizado do convívio, mas também o aprendizado do conhecimento do bioma. Essa é uma das funções que mais me move: eu ter que descobrir, conhecer para poder compartilhar para as minhas três filhas e mesmo fazer uma discussão em família, para que a gente aprenda junto as maravilhas que estão naqueles lugares.
TV: De que forma você acredita que seu trabalho pode inspirar os outros, seja a viajar ou a preservar a natureza?
MK: Eu acredito que o meu trabalho pode inspirar os outros porque eu trago para as grandes cidades imagens de lugares muito distantes, lugares de difícil acesso, locais que demandam um certo esforço físico e material para se conseguir chegar. Eu gosto de ir a lugares onde não há comércio, onde não tenham avenidas, onde não se compre ingresso – esses são os meus destinos preferidos na vida. E o que eu faço é tentar trazer, para aqueles que não têm a mesma disposição ou a mesma oportunidade, imagens difíceis de serem captadas. Quando alguém está acostumado com o dia a dia de grandes cidades, essa loucura, esse turbilhão da vida entre o trabalho, a casa e outra atividade, nem sempre pára para olhar ao redor. Às vezes, tem alguns elementos da natureza que se manifestam permanentemente ao nosso redor e nem sempre a gente está disponível ou mesmo com olhos para enxergar. Então, quando eu trago a imagem de um lugar tão distante, que poucos seres humanos tiveram a sorte de ver, eu procuro fazer com a que pessoa desacelere, se desconecte do mundo digital e procure se conectar com o mundo real, porque ele está ali disponível. A ideia das imagens é estabelecer uma conexão entre os seres humanos e o mundo real. Eu acho que é possível, mas as pessoas têm que estar disponíveis para fazer esse exercício. Em minha opinião, vale a pena.
“Eu gosto de ir a lugares onde não há comércio, onde não tenham avenidas, onde não se compre ingresso – esses são os meus destinos preferidos na vida.”
TV: A sustentabilidade se tornou mais presente nas conversas dos brasileiros por conta do momento político que vivemos recentemente. De que forma você analisa o momento do Brasil em relação a esse assunto?
MK: Eu vejo o Brasil como uma nação que ainda está engatinhando nesse processo. Eu percebo, nas viagens para lugares inóspitos, que quando a gente eventualmente encontra algum produto industrializado, uma embalagem – uma vez eu lembro que vi uma lâmpada na Antártida – aquilo é chocante. Faz com que cada um de nós perceba que pode ser um embaixador da sustentabilidade. Mas, para isso, é preciso praticar a educação. Não basta falar para uma criança não jogar papel no chão, a gente tem que praticar isso. É muito comum em uma viagem eu ver o motorista abrir a janela e jogar uma lata – dá vontade de ir lá, abrir a janela, e jogar de volta para o cara. Acho que o país Brasil está muito atrasado porque tem que assumir essa urgência de ser responsável pelo seus resíduos; é preciso entrar o quanto antes em um processo de economia circular e fazer com que as indústrias consigam se retroalimentar de seus próprios descartes. O país do futuro vai ser aquele que conseguir usar seus próprios resíduos como alimentação do bem de consumo. A gente vai a uma praia, por exemplo, e latinha no chão a gente quase não vê, porque o alumínio tem valor agregado, é comprado a quilo. A mesma coisa deveria existir para os outros materiais; o país está tratando com descaso aquilo que não tem valor. É claro que as grandes indústrias estão fazendo a sua lição de casa. Mas cabe a cada um de nós, como cidadãos, fazer a nossa coleta. É importante que exista uma educação, uma prática e a nossa responsabilidade. É a única forma que a gente tem de ir adiante, porque daqui a pouco a gente vai estar nadando em plástico e não vai ter como resolver.
“É preciso entrar o quanto antes em um processo de economia circular e fazer com que as indústrias consigam se retroalimentar de seus próprios descartes.”
TV: E quais são os planos de próximas viagens, livros e exposições?
MK: De mais curto prazo, uma viagem no próximo final de semana. Aceitei um convite de uma companhia de navegação canadense para fazer uma viagem em um navio russo de quebra-gelo nuclear e conhecer uma ilha remota no mar de Weddell. O mar de Weddel é considerado uma fábrica de grandes icebergs, há o risco de ficar preso. Em um quebra-gelo, é uma forma segura. É uma viagem de 15 dias, sendo seis para se alcançar essa ilha, seis dias para voltar, e dois dias em uma ilha onde existe uma população de pinguins imperadores. Estou indo lá para vê-los, pois nunca vi essa espécie de perto. Quanto aos livros, no dia 1º de dezembro vou lançar oficialmente meu livro Vamos dar a volta do mundo?, um livro infantil, para crianças de até 8 anos, que traz a proposta de uma leitura compartilhada, entre pais ou educadores e as crianças. É uma história real de uma família que viaja através do planeta – por acaso, é a minha – e juntos descobrem os diferente biomas da terra. É uma proposta de fazer com que as crianças saiam um pouco desse mundo virtual e mergulhem no mundo real. A outra novidade é o jogo que eu desenvolvi e a Estrela aceitou imprimir. Chama-se Latitude dos Polos. Em relação às exposições, existem muitos convites… Daqui [de Curitiba] a “O olhar nômade de Marina Klink” vai para o Rio de Janeiro.
Serviço
“O Olhar Nômade de Marina Klink”
Até 30 de novembro, das 9h às 18h.
Show room da A.Yoshii Engenharia: Rua Bispo Dom José, 2058 – Batel.