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Quem é Mariana Abouhamad, a chef que roubou a cena na festa do Prêmio Personalidades TOPVIEW

Administradora de empresas, ela mudou de carreira e abriu seu ateliê de doces. Na última semana, bateu o recorde de 14 mil unidades entregues em 7 dias!

“Você vai sair de uma multinacional para mexer panela de brigadeiro?” Foi o que Mariana Abouhamad ouviu da família, em 2013, quando anunciou que deixaria o trabalho na ExxonMobil para se dedicar ao que realmente ama fazer: cozinhar. Formada em Administração pela FAE e Chef de Cuisine pelo Centro Europeu – cursos que concluiu ao mesmo tempo! –, ela empresta muito da sua personalidade jovem, alto astral e inquieta aos seus doces finos: impecáveis, extremamente criativos e muito saborosos. Não à toa, foram alguns dos destaques mais bem comentados durante o coquetel do 1º Prêmio Personalidades TOPVIEW | Grupo RIC 2018, realizado na terça-feira (11).

Ainda que hoje Mariana tenha uma equipe de oito funcionários, às sextas e sábados ela fica o dia inteiro de touca e avental e ajuda a enrolar brigadeiros e acomodar os doces em cada embalagem. Foram os docinhos dela que deixaram ainda mais inesquecível também a festa de 15 anos de Alana Saito Massa, filha do governador eleito, Ratinho Junior.

 
 
 
 
 
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Doces delicados e deliciosos, combinando com os mais variados tons de rosa na noite deslumbrante da querida @alansaitomassa. . . . #madocesespeciais #docesfinos #mesadedoces #15anos

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Com foco no público A, com uma valiosa rede de contatos e uma ascensão extraordinária, o trabalho da jovem chef, de 28 anos, atingiu na última semana um recorde: 14 mil doces entregues – a média mensal é de 20 mil unidades. “Mas varia. Só em novembro, foram 40 mil”, conta. Tudo devidamente controlado em diversas planilhas que ela abre e fecha, na minha frente, com uma rapidez surpreendente.

“[Trabalhando com doces] eu vi uma energia legal, o lado alegre da gastronomia, de lidar com pessoas e ouvir suas histórias…”

Foi em seu ateliê, um charmoso cantinho no Juvevê, que Mari recebeu a TOPVIEW para este bate-papo, no qual ela conta como profissionalizou seu sonho, compartilha seus programas de TV preferidos sobre culinária, revela como é o paladar açucarado do curitibano e até relembra o dia em que roubaram seu carro com 1.200 doces dentro.

A demanda é tão grande que Mariana é obrigada a negar muitas encomendas: “Eu digo muito ‘não’. Essa semana, tive que desligar o telefone. É horrível! O cliente te ligar e você falar não.”

TOPVIEW: Você sempre gostou de cozinhar e se formou na área. Mas de que forma identificou na confeitaria um negócio?
Mariana Abouhamad: No meio da faculdade eu abri uma empresa de catering com a minha mãe e fazia jantar na casa das pessoas. Ela morava em uma cobertura e me cedeu o segundo andar. Enquanto isso, eu também trabalhava como auditora no HSBC e, depois, na ExxconMobil. Mas odiava! Tinha 23 anos e era infeliz. Não que a empresa fosse ruim – eu é que estava no lugar errado. A parte boa foi ter conhecido meu marido lá (risos). Depois de dois anos, pensei em arriscar. Fui até São Paulo a uma feira de franquias, mas falei: “Gente, não é isso”. Um dia, vi um catálogo de casamentos, abri uma página de doces e falei: “É isso que vou fazer”. Não sei explicar. Foi como uma iluminação, eu olhei para aquilo e me vi fazendo. Eu tinha feito estágio no Terra Madre e vi que não era bem aquilo que eu queria, de ficar dentro da cozinha, no fogão. Ali [trabalhando com doces] eu vi uma energia legal, o lado alegre da gastronomia, de lidar com pessoas e ouvir suas histórias… Mas quando eu disse que ia fazer doce, minha mãe achou que eu estava louca (risos). Ainda assim, minha primeira cliente foi uma amiga dela – um pedido para 300 pessoas. Foram 300 pessoas que comeram e conheceram meu trabalho. Depois de dois anos na minha mãe, vim para cá.

No que se diferencia o seu trabalho?
Eu diria que é a contemporaneidade, ter flexibilidade [nas criações] e apresentar um doce fresco. Eu faço tudo no dia da festa. Esse, para mim, é o maior diferencial. Por isso, não faço muitos casamentos em um mesmo dia [são, no máximo, quatro!]. Todo sábado a gente chega às 4h para enrolar tudo na hora e entregar fresco.

Curitibano é formiga?
Muito. [Doce] Ainda sai muito bem. O que percebo é que o curitibano é muito tradicional, fechado para novas ideias. Em São Paulo, está na moda aquelas sobremesas gigantes. Eu sou louca para fazer aquilo, mas ninguém quer (risos). Fiz para a minha cunhada, porque ela  permitiu (risos). Mas os curitibanos não são muito dessas sobremesas, não, eles preferem o docinho fino.

De qual docinho o curitibano mais gosta?
Brigadeiro de champanhe, com suspiro e morango, uma criação minha; crocante de Nutella – já virou marca registrada; e cheesecake. Tem em todos os casamentos.

E o que não agrada mais?
Cereja em conserva. Não sai! Physalis também, o pessoal tira e come o resto (risos). Doces com licor, sabores muito amargos, como brigadeiro 80%, por exemplo…

O seu preferido, qual é?
Adoro o brigadeiro belga. Nem precisa enrolar. Comeria todos os dias (risos).

Quais hábitos de consumo em festas você viu se transformarem ao longo desses anos?
Achei que mudou muito o paladar para chocolate. Já não comem muito. É mais frutas, castanhas… Aqueles bombons fechados e recheados não saem mais, sobram tudo. Vejo que, há 10 anos, a mesa era só chocolate – o sabor ficava em segundo plano. Isso foi se transformando. Claro que o doce tem que ser bonito e delicado, mas eles decidem pelo sabor. A forminha clássica, de pano/papel, diminuiu muito. Ainda sai para a noiva mais clássica. A que mais uso é a transparente, está super em alta. Porém, já fiz casamento em que os noivos não queriam lixo, então, não tinha forminhas, os doces eram soltos na mesa. Eu topei o desafio, claro, sempre topo.

“Eu nunca usei a batedeira que ganhei de casamento, juro para você (risos)!”

Essa “cabeça aberta” é importante ao trabalhar nesse ramo?
Muito. Eu digo que o atendimento é 50%, o doce e o orçamento, outros 50%. Estou super aberta a criar algo de acordo com o gosto dos novos, a minha marca é assim. Teve um noivo que pediu, por exemplo, docinho de gorgonzola com nozes, eu fiz. Só não faço doce infantil decorado (risos). Por isso, a gente cria junto, para combinar ao máximo com os noivos, escolhemos as peças, entendemos o casamento…

Há pouco mais de um ano ela é casada com o advogado Ricardo, que conheceu enquanto trabalhava na ExxonMobil.

Como faz para se manter atual em um ambiente que se renova sempre tão rápido?
Redes sociais, viagens… Sempre fico de olho. Da minha lua de mel, trouxe um monte de novidades. Daquelas nuts de aeroporto, por exemplo, eu criei esse doce de massa de canela e coberto por amêndoas glaceadas. É assim que eu crio…

O que acha dos programas de culinária?

Amo! Adora a Rita Lobo, Nigella Lawson, Jamie Oliver e o Que Seja Doce! [do GNT]. Tenho dois funcionários que já participaram do programa. 

Você faz doce em casa?
Não, acredita (risos)? Eu nunca usei a batedeira que ganhei de casamento, juro pra você (risos)! Amo cozinhar. Chego em casa por volta de 20h e sempre cozinho com meu marido [Ricardo], ele é bem parceiro. Risoto, salada… Mas doce eu nunca fiz em casa. Não tem nem açúcar (risos). Parece que não me acho, sabe? E, ao mesmo tempo que sou super fã de doce, eu gosto dessa culinária funcional, fit. Então, se eu for fazer algo em casa, provavelmente vou para esse lado. Já que aqui [no ateliê] eu me permito tudo.

“A maior propaganda é o boca a boca, o casamento em si. Se eu faço um casamento bem feito, são 200 pessoas que saem falando bem.”

Quando quer comer um doce diferente, aonde você vai?
Na Familiar [confeitaria]. Adoro o folhado deles. Sou árabe e adoooro um doce árabe. É uma coisa que eu não faço, então, sempre vou no Al Baba comer. E sorvete, AMO! Tomo toda semana (risos).

E restaurantes, quais os seus preferidos em Curitiba?
Amo jantar fora! Minha culinária preferida é a asiática, tailandesa. Amo o Lagundri. Minha cunhada [Carol Nacli] é diretora do Nomaa, então, sempre que vem um chef convidado ao Nomade ela me chama. A Carol, aliás, me dá muito feedback. Essa rede de contatos é importante para fazer o negócio crescer. Por exemplo, temos uma parceria com o Nomaa – a noiva que fechar comigo ganha um voucher com desconto para a noite de núpcias. Tenho amigas que são donas da Cookie Stories. A gente está planejando um recheio juntas, uma sobremesa. Estou querendo abrir um outro negócio, uma chocolateria… é importante também ter esses relacionamentos.

Faz cinco anos que você abriu seu ateliê e já tem uma média mensal de produção que beira os 20 mil doces. Quais os desafios de ter evoluído tão rápido?
De fato, a minha empresa cresceu muito rápido. Todo ano eu cresci desde que comecei. Sabe quando você passa do não profissional para o profissional muito rápido? Quando vi, já estava com aquilo tudo de cliente. Essa transição foi bem difícil. E quando a gente cresce tão rápido precisa ajustar muito a nossa rotina – ainda não consegui isso. Eu trabalho 16h por dia. Ano que vem, quero ter mais tempo livre para mim e para os meus funcionários.

A que você atribui esse sucesso?
A um produto de qualidade. A maior propaganda é o boca a boca, o casamento em si. Se eu faço um casamento bem feito, são 200 pessoas que saem falando bem. A minha faculdade [Administração] também fez toda a diferença. Desde que eu comecei já não era @hotmail.com, já tinha feito um domínio, um site, tinha uma caixinha com meu nome… O negócio pode ser pequeno e já ter esses detalhes estruturados.

Já passou algum aperto?
Eu tinha um ano de empresa e fui assaltada. Levaram meu carro com 1.200 doces dentro e todas as minhas peças, tudo o que eu tinha comprado até então. Estava saindo da casa do meu marido, na época, e íamos entregar os doces que eram para o meu tio. Liguei para ele e ele conseguiu achar outro fornecedor. Mas no dia seguinte eu tinha uma encomenda de uma formatura para entregar e nenhuma peça. Ali eu aprendi que eu tenho que me dar bem com os concorrentes. De repente tem algo sobrando… Hoje tenho um processo para entregar os doces em segurança, sempre fica alguém cuidando do caminhão enquanto alguém descarrega.

Qual foi o pedido mais desafiador?
Foi no Paraguai. Fiz no último andar da SAX [loja de departamentos]. Um casamento para 300 pessoas. Foi bem difícil! A gente saiu de Curitiba meia noite com a van refrigerada.

Você acompanha mesmo o evento, do planejamento à execução, né?
Eu faço tudo. E eu quero fazer tudo. Atendo as noivas, separo as peças que elas vão usar… Se um funcionário falta, consigo mexer panela e enrolar doce. Não permito que outra pessoa monte a mesa, afinal, tem que saber montar. Senão, o nosso trabalho todo bonitinho estraga.

Deve ser difícil ser tão controladora…
Eu estou aprendendo que tenho que delegar mais. Hoje, já deleguei todo o financeiro, e-mails, são coisas que não vejo mais. A cozinha ainda fico de olho, mas tendo uma cozinha maior eu vou delegar 100%. Assim, também consigo criar mais. Nesses dois últimos meses eu não consigo fazer nada além de produzir e entregar. Sou acelerada, sim (risos). Mas não tem como não ser assim trabalhando com festas. Eu largo da minha vida para entregar. Se eu tiver que não dormir, não comer, eu não durmo, não como. E tenho feito isso há anos.

Desacelerar é um objetivo para 2019?
Sim. Esse ano não consegui fazer exercício, ter uma válvula de escape. Eu estou em uma fase em que só trabalho. Preciso repensar minha vida (risos). Quero sair daqui [do Juvevê], expandir o ateliê, ir para uma casa grande, tem uma capacidade maior para não dizer não. Eu digo muito não. Essa semana tive que desligar o telefone. É horrível! Mas não passo do meu limite, porque vai sair um doce ruim.

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