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Helinho Pimentel reinventa, mais uma vez, a cena cultural curitibana com o Parque das Pedreiras

Com a revitalização da Ópera de Arame e da Pedreira, além da criação de projetos visionários, ele ambiciona tornar o Parque das Pedreiras referência mundial em música

Era 1978. Helinho Pimentel, recém-casado, viu na rua Eugênio Flor – na altura onde hoje funciona uma unidade do Farol do Saber – um chalé estilo canadense com chaminé de pedra e a placa “aluga-se”. Virou para a esposa, Helô, e disse: “É aqui que vamos morar”. Na casinha de madeira de quintal robusto, com parreiral, pé de jabuticaba e ameixas, ele montou um estúdio com piano e recebia amigos como Nando Reis, Alceu Valença e o casal Gilberto e Flora Gil, “recém-namorados”. Outro que os visitava com frequência era o “amigo-irmão” Paulo Leminski, que morava a alguns metros dali, próximo à Cruz do Pilarzinho. Do parreiral, Helinho e o poeta curitibano colhiam uvas, então sentavam sobre umas pedras, olhavam a Pedreira, muitas vezes com um violão nas mãos, e palpitavam: “Que lugar para fazer um festival, hein?”.

Doze anos depois, em 1990, Helinho seguia no comando da sua Estação Primeira – a precursora rádio rock do Paraná, criada por ele em 1986 –, quando o então prefeito, Jaime Lerner, o convidou a transformar a Pedreira em um espaço para shows. “Falei: ‘eu já tive esse sonho’”, lembra o produtor cultural. Nada mais justo, então, que batizá-la com o nome do amigo. Alguns dias depois, já realizavam a pré-inauguração da Pedreira com o Perhappiness, pequeno show pensado para marcar o primeiro ano da morte do poeta.

Era questão de tempo para o lugar voltar a fazer parte da vida de Helinho. Mais precisamente, 22 anos. Em 2012, quando o município de Curitiba abriu edital para concessão da Pedreira Paulo Leminski e do teatro Ópera de Arame, o curitibano e seus sócios, Dody Sirena e Cicão Chies, da DC Set, venceram a licitação. Hoje, eles são responsáveis por restaurar o lazer e a cultura curitibana com a surpreendente revitalização da Ópera e da Pedreira, espaços que compõem o Parque das Pedreiras. Uma mudança que vem para revolucionar a nossa relação com esses cartões-postais da cidade e também devolver Curitiba à rota dos grandes shows – só em 2018, pelo menos 12 nomes importantes da música internacional se apresentaram ali, entre eles, Foo Fighters, Ozzy Osbourne, Tribalistas, Alice in Chains e Noel Gallagher.

O caminho até aqui, digno de uma preciosa série de livros, é repleto de sucessos e fracassos. Da infância no Rio de Janeiro, onde Helinho viu nascer o movimento da Tropicália e acontecer a Ditadura Militar, agenciou as turnês dos amigos Baby Consuelo e Pepeu Gomes; em Curitiba, comandou um programa de rádio, vendeu roupas, inaugurou e fechou uma casa noturna e participou efetivamente da criação do Lupaluna (precursor de festivais como o Coolritiba) e das rádios 91 Rock (antiga 96,3 Rock FM, hoje, apenas online) e Mundo Livre FM (em atividade até hoje no FM).

No bate-papo a seguir, arduamente sintetizado, o vice-presidente de operações do Parque das Pedreiras e sócio da DC Set Eventos – Curitiba compartilha algumas das histórias vividas nesses 62 anos, como a custosa criação da Estação Primeira; fala do papel social da música, da privatização de espaços públicos, da tentativa de pré-aposentadoria em Florianópolis, o que acha de Anitta e do funk carioca.

Aos 62 anos, o empresário foi casado duas vezes, tem cinco filhos e cinco netos. Hoje, vive com a artista plástica Celeste Quiroga.

TOPVIEW: Como foi a sua infância? De que forma ela reflete no Helinho de hoje?
Helinho Pimentel: A minha infância foi de certa forma privilegiada. Tive pais maravilhosos, morei um tempo em uma fazenda e, aos 6 anos, fui para o Rio de Janeiro. Foi uma experiência super legal conhecer o Rio quando tinha uma vibração natural e musical muito forte, quando a Bossa Nova estava acontecendo… Eu era menininho e conseguia sentir essa doçura do Rio. Fiquei lá até os 9 [anos]. Meus pais eram extremamente musicais. Eu adorava ouvir rádio desde pequeno. Fazia meu pai comprar um compacto e ouvia naquelas super radiolas… Via meu pai dançando com a minha mãe A Noite do Meu Bem [de Dolores Duran]… A música foi a grande vela no meu trajeto. Ela sempre esteve presente. Em 1964, foi quando a gente voltou para Curitiba em função da revolução. Meu pai era secretário nacional da produção agropecuária e um dos responsáveis pelo processo da reforma agrária no Brasil. Quando houve o Golpe Militar, a gente teve que retornar às pressas e às escondidas para o Paraná para ele não ser deportado. Eu tinha uma vida burguesa. Tinha um carinho especial dos pais, uma condição social boa, não me faltava nada. Precocemente, eu tinha tudo, até carro eu tive antes dos anos 1970.

O que faltava?
Queria conhecer o mundo. Comecei a ir aos festivais, ler sobre música, filosofias orientais, fui construindo meu background cultural. Sem ter um exercício de trabalho e de estudo, a não ser o estudo musical. Estados Unidos, Europa…

Como você se mantinha?
Tinha uma loja muito bacana que trazia coisas do Oriente. A gente [Helinho e um amigo] conseguiu uma parceria. Comprava, vendia, fazia escambo, às vezes apelava para o pai, dava um jeito. Nessa, fiquei cinco, seis anos que foram importantíssimos para a minha vida. Comecei a ver que o buraco era mais embaixo; a dar valor até às coisas que eu tinha e nem dava valor. Esse período foi importantíssimo para uma revisão como menino, das ambições, de uma questão religiosa…

“Esse projeto [Estação Primeira] acabou criando um período de grande riqueza cultural em Curitiba, com foco essencial na música. Durante sete anos, ela criou uma geração que até hoje se diz órfã.”

Quando e por que decidiu voltar?
Em 1976, eu resolvi parar de botar o pé na estrada, pegar tudo o que eu tinha [de bagagem cultural] e colocar em prática. Fiz meu primeiro programa de rádio, A Grande Alquimia, que passava em uma rádio AM (naquela época não tinha FM) de segunda a sexta, das 21h às 23h. O pessoal que gostava de rock na cidade dava para contar nos dedos. O programa deu muita informação musical às pessoas. Eu tinha um acervo de discos que eu botava na rádio e os malucos da cidade, até da penitenciária do Ahú, ouviam e mandavam por escrito: “Helinho, tô ouvindo aqui”. Tinha uns patrocínios, pagava a rádio e ainda sobrava um troco. Aí, comecei a ficar bacana. As meninas do rock: “Pô, o cara tá esperto”. Me dei bem em cima do programa (risos). Foi uma época do caralho!

Vinham uns shows para cá. Quando deu 1979 resolvi fazer meu primeiro show, Adeus, 70. Contratei a primeira banda da Rita Lee, Tutti Frutti, o Blindagem [banda curitibana] e fiz no Círculo Militar. Não tinha nenhuma empresa de som em Curitiba! Tivemos que alugar fora microfones, equipamentos de palco, mas conseguimos montar o lance. Nessa época, estava estourando A Cor do Som. Fiz amizade com o Dadi [Carvalho, ex-baixista das bandas Novos Baianos, A Cor do Som e Barão Vermelho], com o Pepeu e a Baby e falei: “Dadi, vamos fazer uma turnê”. Fui para o empresário deles e comprei sete shows, sem noção nenhuma do que ia fazer, ou melhor, com noção, mas sem saber como ia viabilizar essa ideia, quem é que ia produzir… Liguei para um cara de uma gravadora e ele falou: “Olha, tem um pessoal no Rio Grande do Sul que organiza formatura, os caras não fizeram show, mas estão aí”. O nome da empresa era Dody e Cicão Promoções (risos) – hoje, meus sócios e amigos há 38 anos! Fizemos um lance organizado, foi um sucesso. Estava desaforado. Comprei uma mala de couro para mim e andava com o dinheiro, me achando o “rei da cocada preta”.

A Baby estourava com Menino do Rio, já tinha terminado Os Novos Baianos, falei: “Vou comprar show da Baby e do Moraes Moreira”. Cicão e Dody compraram mais um pedaço, foi bem, pagamos as contas, e começou uma sequência de fracassos… Quando chegamos no Rio Grande do Sul, o primeiro e o segundo show foram uma merda. Entupi os fornecedores de nota promissória e cheque. Chegou uma hora que não tinha como pagar o cara do caminhão. Falei: “a saída é meu pai”. Aí começou a minha relação com produção de eventos. Fiz turnê com Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, Titãs… Como a turnê com A Cor do Som e Baby foi sensacional, um dia ela me ligou e disse “Helinho, você não quer vir morar no Rio e cuidar da minha carreira e do Pepeu?”. Falei: “Vou”. Meu pai: “Você está louco?”. Eu tinha 26 anos. Fiquei de empresário deles e d’A Cor do Som por três anos.

“Essa obra vai transformar o Parque das Pedreiras em um grande centro de referência mundial no que diz respeito ao incentivo e à valorização da música e de todas as demais artes.”

Você entendia o papel social da música?
Quando comecei a ter uma consciência maior sobre a importância social da música era início dos anos 1970. Quando eu via na TV Caetano Veloso cantando Alegria, Alegria, Gil cantando Domingo no Parque, Mutantes depois tocando com eles no surgimento da Tropicália, aquilo tinha para mim uma conotação musical. Gostava e ponto. Eu via aquela gente diferente, mas para mim era só diferente. Não entendia que por trás daquelas pessoas tinha uma mensagem, um pensamento de revolução. Nos anos 1970, eu entrei em contato com esses movimentos sociais embalados pela questão fundamentalmente do rock, que surgiu na minha vida nessa época. Questões que trazem uma forte crítica social. Isso impactou minha vida enormemente.

Como você consome música hoje? Usa Spotify?
Eu ponho no YouTube coisas que quero ver. Mas tenho muita coisa em casa, uns cinco mil discos de vinil, CDs espalhados por todo lugar (risos).

Além do classic rock, o que você ouve?
Adoro o Rhythm and blues [R&B] de Aretha Franklin, Etta James, Otis Redding… Sempre ouvi e hoje anda juntinho com o classic rock. Adoro música brasileira, muito. Tenho ouvido os grandes mestres do samba, desde Clementina de Jesus, Ivone Lara, Cartola, Lupicínio Rodrigues… Esses são os “blueseiros” brasileiros. Poesias lindas. Adoro Caetano, Gil. Dos poetas relativamente recentes acho o Nando Reis um cara, além de amigo, sensacional. Uma coisa que eu gosto demais é a World Music, a música que hoje se faz pelo mundo, latina, cubana… Para mim, Cuba é um dos países mais ricos de musicalidade do mundo, é fora de série. A música argentina, mexicana, de Porto Rico… A África, berço da música contemporânea. Existe uma música antes da vinda dos africanos para as Américas e uma música depois. Do cântico sofrido dos negros com a música europeia, no Brasil, a portuguesa, e nos Estados Unidos, a francesa e a inglesa, surgiu o samba, o blues, o jazz, o rock, a música pop representada pelo Michael Jackson, o hip hop…

O que você não escuta de jeito algum?
Funk carioca. O sertanejo, esse descartável, eu não ouço.

Ia mesmo te perguntar da Anitta…
A Anitta deu um salto. Eu não ouço, mas tenho que concordar que ela está fazendo um trabalho muito bom, inclusive musicalmente, ela evoluiu.

“Nos anos 1970, eu entrei em contato com esses movimentos sociais embalados pela questão fundamentalmente do rock. Questões que trazem uma forte crítica social. Isso impactou minha vida enormemente.”

Depois de agenciar Baby e Pepeu e viver esse período viajando com eles, você criou a Estação Primeira, uma rádio precursora de várias outras que vieram depois. Como foi?
Em 1984, meu pai me liga e fala que tinha a oportunidade de conseguir uma rádio no Ministério das Comunicações. Meu sonho! Fiquei um ano indo para Brasília, do Rio de Janeiro, falar com deputados. Onze grupos do Paraná entraram na concorrência. Por meio da força do meu pai e de um esforço meu, consegui ganhar. Me despedi da Baby, do Pepeu e falei: “Vou para o Paraná”. Vim com a intenção de implantar a Estação Primeira. Quando entrou o governo Sarney [em 1985], o Toninho Malvadeza [Antônio Carlos Magalhães, então Ministro das Comunicações] caçou todas as concessões dadas pelo governo anterior. Eu já estava comprando equipamento quando entra o informe na TV com o Cid Moreira. Fiquei mais um ano indo para Brasília, reconstruindo apoio com senadores. Daí liberaram.

A rádio estreou em novembro de 1986 como a primeira rádio rock do Paraná, com locutoras femininas e com um contexto diferente das que se intitulavam alternativas e colocavam 15 minutos de Hendrix rolando. Nós criamos uma rádio em que tocavam os grandes sucessos das grandes bandas dos anos 1950, 1960, 1970 e já os 1980. Trazia desde Elvis até o pós-punk dos Smiths, The Cure, Talking Heads. No Brasil, as bandas que estavam explodindo, Legião Urbana, Capital Inicial, IRA, Paralamas, Plebe Rude. Todo mundo que chegava em Curitiba pra fazer show ia direto para a rádio, ouvir música, dar entrevista. Renato Russo, Frejat, Cazuza, Hebert Vianna… Era uma referência no Brasil. Tinha programa que o Gilberto Gil, Evandro Mesquita, Baby apresentava… Eu passava uma semana no Rio gravando para entrar no mês seguinte, saindo para jantar com essas pessoas. Esse projeto acabou criando um período de grande riqueza cultural em Curitiba, com foco essencial na música. Durante sete anos, ela criou uma geração que até hoje se diz órfã. Às vezes, entro em um consultório e o médico fala, “pô, ouvia tua rádio”. Já encontrei cara que chorou, gente que tatuou o microfone da Estação… Era assim como uma falange de pessoas em volta de um bem comum, de um espírito… Mas chegou um momento em que eu estava cansado, tinha esgotado minha paciência, me decepcionado muito com essa situação societária, por não cumprimento de acordos. Passei seis meses dormindo e chorando, aí abri mão da coisa, negociei e saí.

Foi a maior realização da sua vida?
Eu sempre considerei, pelo legado que a Estação deixou, sem sombra de dúvida. Agora, é o Parque das Pedreiras. Com a implantação de todo o complexo, eu claramente tenho na cabeça que o Parque vai tomar uma dimensão muito grande.

 
 
 
 
 
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Pai e filho sendo estilosos 🙂 #pai #filho #lindis #amados #aniver #helio #amor

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Depois da Estação Primeira teve até venda de roupas, né? Fala um pouco dessa fase.
Quando vendi a Estação tava com um dinheiro relativamente bom e fiz uma situação que foi divertida, mas que me trouxe também ferimentos, que foi o Syndicate, a casa noturna mais tesão que teve em Curitiba. Eu e o Jeje [produtor da Tribaltech] conceituamos uma casa noturna que era meio skate, meio hip hop. Sensacional. Mas eu nunca gostei da vida noturna. Eu geralmente acordo às 6h, vou dormir à 1h, 2h da manhã. Fechei o Syndicate e resolvi ir pra NY. Conheci uma loja de três andares chamada Trash and Vaudeville, onde o Mick Jagger, o Steven Tyler, o Iggy Pop e os Ramones se vestiam… Conheci o dono, Ray Goodman, e fui representante deles na América Latina por alguns anos, importando roupas avante o nosso tempo. Quando eu estava andando bem com essa coisa da importação, veio a maxi desvalorização do nosso dinheiro. Com isso, já não tinha mais preço para poder colocar mercadorias no Brasil pagando alfândega, impostos. Parei a operação e surgiu a parceria para montar a 96,3 FM, hoje 91 Rock. Desenvolvi todo o conceito e estilo de programação, fiquei como um diretor artístico, tocava o dia a dia, mas tinha a minha independência. Não funciona para mim um esquema convencional. A 96 se tornou uma marca que atingiu outra geração, com uma leitura diferente do que era a Estação Primeira. Fiquei, até que em um determinado momento, em função de composições entre os sócios da época, a coisa se desentendeu e eu falei: “Vou parar por aqui”.

Bem na época eu perdi meu irmão, logo em seguida meu pai, minha mãe e essas perdas criaram um turbilhão na minha cabeça. Resolvi morar em Florianópolis e trabalhar um projeto com um grande amigo meu, também na área de shows, mas logo vi que tinha que voltar. A velocidade lenta de Floripa não era a velocidade com a qual eu estava acostumado. Esse sonho romântico de uma pré-aposentadoria durou um ano. Isso foi em 2005. Um dia, andando com meus filhos em Floripa, encontrei por acaso com o Cicão. Ele falou do Planeta Atlântida [tradicional festival de verão criado em 1996], me convidou e eu fui. Falamos: “Vamos fazer um lance assim em Curitiba?”. Ele botou uma pilha, vim para cá, me reuni com o pessoal da RPC e montamos o Lupaluna, que teve quatro edições e se tornou uma referência no que diz respeito a qualidade de produção. Um grande festival, com vários palcos. Nessa aproximação com a Globo, fiz o projeto, desenvolvi e criei a Mundo Livre FM. Nome, programas, acervo meu… Até 2013, quando surgiu a possibilidade da gente entrar na disputa pela concessão do Parque das Pedreiras. Aí começamos essa epopeia. Na Ópera de Arame, chovia mais dentro do que fora. O palco da Pedreira estava completamente enferrujado. As instalações elétricas e hidráulicas e sanitárias estavam sob um abandono.

“Na Ópera de Arame, chovia mais dentro do que fora. O palco da Pedreira estava completamente enferrujado. As instalações elétricas e hidráulicas e sanitárias estavam sob um abandono.”

Vocês já recuperaram o corpo físico do Parque e revolucionaram esses espaços. Foo Fighters, Queens of The Stone Age, Ozzy Osbourne e Alice in Chains se apresentaram só em 2018. Vocês têm concessão até 2037 – com chance de renovar. Quais os desafios agora?
Há muitas responsabilidades do grupo de trabalho que está aqui, além da responsabilidade de ser sócio do Dody e do Cicão, que no campo business são os empresários mais bem sucedidos do Brasil, uma empresa sólida, que cuida há anos da carreira do Roberto Carlos… Estamos falando de sonhos, ideais, amor, compromisso com a arte e com a natureza, mas estamos falando de outro lado que este mundo exige que é o das responsabilidades, investimentos, relacionamento com o poder público. Aos 62 – para quem vai viver até os 127 – eu tenho enormes desafios pela frente e conto com uma equipe que é muito tesão.

Primeiro, a gente passou pela recuperação do corpo físico, segundo, vem o resgate da alma, que a gente está incorporando aos poucos, cada vez mais. Um pedaço dessa força energética já se manifestou e está se materializando nos shows que acontecem aqui na Ópera recuperada e linda, e bombando com grandes nomes na Pedreira, no Vale da Música, que emprega mais de 50 bandas, 200 músicos com repertórios fantásticos, uma nova loja com produtos 90% desenvolvidos por produtores e artesãos locais, o espaço gastronômico Ópera Arte. Até março, a gente inaugura o primeiro teleférico da cidade… É tudo materialização dessa energia que está pulsando cada vez mais intensa e que se manifestará de formas mais incríveis ainda, como o Canto das Pedras, um grande local no deck da Pedreira que terá música ao vivo cantada com serviço de gastronomia, exposições de arte; a Rua da Música, um polo gastronômico com restaurantes temáticos, e, em um segundo momento, a construção, no fundo da Pedreira, do memorial da sustentabilidade, que é um projeto todo em garrafa pet que vai abrigar projeções de filmes em 3D, exposições em 3D com a temática de música e meio ambiente. E mais: o Geração Pedreira, que a gente chama de museu vivo da música. Uma obra de 1.200 m² em pedra onde teremos exposições itinerantes, estúdios de música. Essa obra, completa e edificada, vai transformar o Parque das Pedreiras em um grande centro de referência mundial no que diz respeito ao incentivo e à valorização da música e de todas as demais artes que estão debaixo dessa bela arte que está presente na vida de todas as pessoas do planeta.

Quando tudo deve ficar pronto?
Até o final de 2021, entrada de 2022, a gente espera estar com o principal dos empreendimentos, o mais audacioso de todos, o Geração Pedreira (uma obra de R$ 15 milhões de investimento) pronto. O que precisa: que as pessoas em Curitiba venham ver o que está sendo feito aqui.

Já tendo visto a Pedreira e a Ópera de Arame abandonadas, você é a favor da privatização dos espaços públicos?
Eu não sou um defensor da privatização. Algumas coisas têm sim que ficar na mão do Estado, desde que ele tenha competência e honestidade para gerir. O que, no Brasil, é um problema. Esse discurso de que tudo deve ser privatizado, para mim, não cola. Mas algumas questões têm que ir para a mão do setor privado, entre elas um espaço como o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o principal acervo da América Latina. Os mesmos cabos descascados de fio elétrico que nós encontramos na Ópera de Arame e na Pedreira estavam espalhados por todo o Museu Nacional. Isso se chama descuido. E é o que a DC Set não faz. [A privatização] É um processo que em determinados espaços públicos, um lugar que depende de uma grande gestão, manutenção enorme e uma ativação cultural permanente, se faz necessário. Esses espaços vão ser cada vez mais concessionados no Brasil.

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