O que está por trás do olhar de Eduardo Macarios
Eduardo Macarios é um antigo conhecido da TOPVIEW. Para a marca, já fotografou principalmente personalidades, de empresários a chefs. Jornalista por formação e também graduado pela Arts University Bournemouth, sua história com as câmeras começou com um desejo de registrar suas experiências fora do país ainda quando adolescente.
Ao longo de sua trajetória profissional, o fotógrafo, atualmente com 31 anos, optou por se especializar na fotografia de arquitetura e interiores e têm sido dele os registros dos principais projetos da cidade. Nesse meio tempo, dedicou-se também a dois projetos pessoais, os livros Andante e Wadad. Nesta entrevista, Macarios fala sobre o que o motivou a fazer essa mudança, sua relação com os clientes e os lugares que costuma frequentar em Curitiba.
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Como você acabou direcionando sua carreira para a fotografia de arquitetura e interiores? O que te atrai nesse nicho?
Foram vários caminhos até eu chegar aqui, já transitei por diversas áreas da fotografia. Já fiz eventos, retratos diversos… Quando você é fotógrafo, acaba fazendo um pouco de tudo. A fotografia de arquitetura e interiores veio como um reposicionamento pessoal nesse mercado, há dois anos. Foi uma ação planejada em que eu iria mudar mesmo de área dentro da fotografia. Por isso, fiz um projeto e uma remodelagem, tanto de estilo quanto dos clientes, apresentação, comunicação. Eu gostei do desafio de mudança, de buscar novos objetivos. Então, eu uni meu amor pela fotografia e pela arquitetura, algo que eu sempre acompanhei e gostei.
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“A fotografia de arquitetura e interiores veio como um reposicionamento pessoal nesse mercado, há dois anos. Foi uma ação planejada em que eu iria mudar mesmo de área dentro da fotografia.”
Que estilo e técnica são necessários para esse tipo de fotografia?
Esses dois pontos são essenciais na nossa profissão. Sem técnica você não faz a foto de arquitetura. Quanto ao estilo, acabei aprendendo ao ir atrás de referências e estudos. Tento ficar antenado nas novidades para ter a sensibilidade necessária na hora de fotografar os clientes.
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Como define seu estilo fotográfico para além da arquitetura e decoração?
Não tenho um. Quando eu faço alguma coisa, mergulho nisso. Então, hoje é tudo voltado para arquitetura, pois é isso que eu faço hoje. Eu vivo disso [decoração e arquitetura], eu respiro isso, só falo disso! Não há uma separação quando eu saio do escritório ou entrego um trabalho, eu não paro de viver esse tema. Estou constantemente imerso no que estou proposto a fazer, fazendo pesquisas, conhecendo trabalhos. Isso faz parte do entendimento necessário para ter bons resultados.
Você tem um reconhecimento dentro da área e é um dos fotógrafos favoritos por lojas, estúdios e escritórios de arquitetura e design para esse trabalho. Pensa que esse reconhecimento se deve a quê?
Deve ser por conta de uma série de fatores. A principal é a questão do estilo. Estudei muito para chegar nesse nível de fotografia, nunca entrego algo que eu não goste e os clientes conhecem esse meu jeito de trabalhar. Acho que acabo me destacando também por ter um cuidado extra com as minhas propostas. Afinal, não é só fotografia. Precisa ter uma relação com o cliente antes, durante e depois.
“O retrato é uma das coisas mais difíceis de fazer. Até hoje, fazer esse tipo de fotografia é mais desafiador.”
E qual seria essa relação que você procura manter com eles?
Depende. Tenho facilidade em ler as pessoas, algo fundamental na fotografia. Tento primeiro adivinhar o que o cliente quer de mim sem mesmo falar diretamente sobre isso com ele. Mas às vezes preciso que ela me dê informações para que eu possa estudá-la. A relação é quase como uma investigação, tentando encontrar atributos do cliente para contar a história dele.
Apesar de ter um trabalho forte em arquitetura, os retratos têm grande destaque em seu site. O que o atrai a esse gênero?
O retrato é uma das coisas mais difíceis de fazer. Até hoje, fazer esse tipo de fotografia é mais desafiador. Isso pode ser por conta da limitação diversas, como tempo disponível, qualidade de cenário e equipamentos. Mas o principal é o fato de você estar ali, de frente para alguém. Cabe a você dizer algo sobre aquela pessoa por meio da fotografia. E, para isso, você precisa ter uma relação com ela, e às vezes isso demora acontecer. Para mim, que sou naturalmente tímido, isso é bem desafiador [risos]. É isso que me atrai: descobrir como vou contar a história dessa pessoa pelas fotos.
“Hoje todo mundo consegue produzir imagens com muita facilidade. Mas, mesmo assim, muita vezes ainda falta o olhar do fotógrafo.”
Sua formação universitária foi em Jornalismo. Como esse estudo está presente no seu trabalho fotográfico?
Eu me formei em 2012 e, na época, optei pelo Jornalismo pois não existia a graduação em fotografia, que era o que eu sempre quis fazer. Eu gostava muito de escrever também, mas o que me atraiu no curso eram a disciplinas de fotojornalismo e de cinema. Apesar de eu não ter trabalhado com a área, acho que ela contribui muito na minha bagagem de conhecimento e na minha evolução profissional. Além do quê, uma graduação como essa agrega muito para nossa visão sobre as mais diversas coisas da vida. A característica da curiosidade jornalística está muito presente no meu trabalho como fotógrafo.
Além da fotografia, existe alguma outra habilidade que domine? Quando não está fotografando, o que você gosta de fazer?
Acho que não tenho [risos], para mim é fotografia 24 horas por dia! Mas quando estou sem as câmeras nas mãos, gosto de me desconectar e relaxar com atividades que propõem exatamente isso. Gosto muito de correr, fazer yoga e meditação. Mesmo quando a gente faz o que ama, acaba tendo alguns estresses e precisamos saber como lidar com isso.
Numa época em que todos são produtores de imagem e conteúdo, inclusive com acesso a bons equipamentos, como fica o papel do fotógrafo profissional e do artista? Como isso dificulta e facilita sua criação?
Isso é um fato. Realmente, hoje todo mundo consegue produzir imagens com muita facilidade. Mas, mesmo assim, muita vezes ainda falta o olhar do fotógrafo. É uma coisa essencial, pois é isso que nos diferencia da maioria dos produtores. O fotógrafo trabalha com o que ele tem a dizer e sua bagagem, algo que reforça suas ideias. O nosso trabalho é indispensável. E quando falamos de questões comerciais, fica muito mais necessário ainda! Eu sei que quando um cliente decide fazer as imagens por conta, acaba encontrando dificuldades porque na prática não é tão simples.
Seu Instagram registra locais bacanas da cidade pelos quais você passa, como Ginger e The Coffee. Quais são os seus spots atualmente?
Acho que eles são meus favoritos mesmo [risos]. Além da questão da autenticidade, que é uma das coisas que eu mais gosto, a localização é muito boa e um ponto muito positivo para mim. São espaços que consigo ir a pé e eu valorizo muito isso. Mas além desses, gosto do Bocca Lupo, a Feirinha Livre para comer pastel e o Empório São José do Shopping Crystal.
Existe alguma recordação que te marcou significativamente ao longo desses anos?
Sim. Em 2016 eu lancei um livro chamado Wadad. Ele é muito especial pois conta a história da minha avó, que é uma imigrante libanesa que chegou ao Brasil com 30 anos. Montei o livro a partir de um diário e arquivos pessoais dela.