PODER

Coluna Denian Couto, setembro de 2018

Sobre política, bolha e eleição

Em momentos líquidos, qualquer sentença de baixa profundidade é capaz de virar um fato incontestável. A da vez, em política, é dizer que as redes sociais serão decisivas na eleição deste ano. Só que não é verdade. Sem fugir do palavrório do momento, tal ideia é mera fake news.Ainda que estejamos, leitores desta TOPVIEW, inseridos no mundo da internet e, por conseguinte, das bolhas do Facebook, do Instagram e do Twitter, as pesquisas eleitorais retratam uma realidade cortante para quem vive e vê o mundo pela tela do smartphone: 60% do eleitorado, principalmente a parcela desconectada do noticiário denso da vida pública do país, decidirá o seu voto após se informar pela TV. Nas regiões mais pobres do país, como Norte e Nordeste, por exemplo, sequer há internet para quase 50% do eleitorado, de acordo com o IBGE. Ademais, é necessário frisar que é bastante questionável o efeito que a militância virtual alcança no eleitor comum. O engajamento do cidadão com a eleição opera muito mais espontaneamente do que responde à influência de perfis que se comportam como uma hinchada de fútbol, quase que uma torcida organizada argentina daquelas que canta e apoia o seu time, independentemente do jogo e da realidade.

Fechar os olhos para a força do horário de propaganda eleitoral, especialmente dos comerciais avulsos durante a programação, cujo alcance é global e não restrito a um espectro fechado de rede social, soa muito mais à paixão pelas redes virtuais do que apego à verdade. E ainda há as entrevistas, as sabatinas e os debates. Será novamente o jornalismo profissional da mídia tradicional – e não a internet – a comunicação capaz de mudar o cenário da disputa. Essa é uma marca brasileira. E uma última pílula: as campanhas presidenciais e ao governo dos estados usarão nessa reta final uma investida maior de distribuição de conteúdo via WhatsApp. O ambiente da discussão das redes sociais ficará mesmo marcado pela confrontação de ideias e, infelizmente, pela intolerância. Um bom voto!

*Coluna originalmente publicada na edição 215 da revista TOPVIEW