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Cajamarca e uma razão para o atraso

Como uma luta do século XVI ainda nos ensina algo em pleno ano de 2021

O dia era 16 de novembro de 1532. O conquistador espanhol Francisco Pizarro adentra a cidade de Cajamarca, nas montanhas do Peru, com um grupo de 168 soldados esfarrapados, e trava intensa batalha contra 80 mil homens do imperador inca Atahualpa. O impossível acontece: os menos de 200 espanhóis aniquilam os 80 mil índios. Com apenas um soldado para cada 476 guerreiros nativos, Pizarro venceu os inimigos, capturou o líder Atahualpa e subjugou a região.

Como isso foi possível? Os soldados de Pizarro tinham treinamento militar, estavam montados a cavalo, protegidos por armaduras metálicas e empunhando espadas de aço e outras armas, enquanto as tropas de Atahualpa nem sequer haviam domesticado o cavalo, lutavam a pé, com pedras, tacapes de madeira, machados e bodoques e panos acolchoados como armaduras.

A tragédia de Cajamarca traz uma lição: a base do progresso é o capital físico, a qualificação do capital humano e a sofisticação tecnológica. O Brasil, conquanto seja rico de recursos naturais, não sairá do estado de atraso e pobreza se não conseguir melhorar muito nessas três bases.

Sem isso, o progresso não virá, sobretudo quando o mundo está vivendo a chamada Revolução 4.0, que pode aumentar o fosso entre os países avançados e os subdesenvolvidos.

A quarta revolução tecnológica tem lugar entre os anos 2015 e 2040 e apresenta algo inédito: o ser humano tem duas habilidades, a física e a cognitiva. A habilidade física é derivada dos braços e da força física. A habilidade cognitiva é a capacidade de pensar, analisar, dominar a natureza, inventar, sentir, comunicar, trocar e ter emoções – e deriva da mente, do cérebro, da consciência e da inteligência.

Nas revoluções anteriores, as máquinas competiam com o ser humano nas habilidades físicas. Agora, a inteligência artificial, a biotecnologia e a disrupção tecnológica estão criando o, robô sapiens, capaz de substituir o homem nas habilidades cognitivas. O país que não enxergar essa trajetória e não se preparar vai perder o bonde da história e permanecer no atraso. Buckminster Fuller (1895-1983), genial inventor e futurista, disse que o cérebro vê os objetos tangíveis, mas s a mente vê o intangível. Ele escreveu: “você não pode desviar-se de coisas que não vê movendo em sua direção”. As ideias, os conhecimentos e os processos do passado não funcionarão no futuro e não bastarão para enriquecer uma nação. O novo mundo tecnológico engolirá os meios e os processos antigos – senão todos, pelo menos uma grande parte deles.

DICA DE PODCAST

2025, O Mundo Novo

(Foto: Divulgação)

Guga Stocco é um estudioso de como a inovação e a tecnologia vêm transformando a sociedade, da rotina das pessoas ao mercado financeiro. Ele acredita que nossa vida em 2025 será bem diferente do que é hoje.

* Conteúdo originalmente publicado na edição #250 da revista TOPVIEW.

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