Prati-Donaduzzi e a fórmula paranaense para crescer no mundo
Um modesto laboratório improvisado na cozinha de um casal de farmacêuticos visionários deu origem à potência farmacêutica Prati–Donaduzzi, que, 30 anos após um começo modesto assinala um faturamento na casa de R$ 2,5 bilhões. A escalada da empresa instalada em Toledo, no oeste paranaense, resulta de uma combina-ção estratégica de fatores, como o aproveitamento de políticas públicas, uma aposta precoce na Lei dos Genéricos e, sobretudo, a ousadia de verticalizar sua distribuição, garantindo controle absoluto sobre a experiência do cliente e a eficiência logística em todo o país.
Hoje, quem lidera a empresa é Eder Fernando Maffissoni, que acumula mais de duas décadas de experiência prática em setores operacionais e estratégicos da empresa. Fora da rotina corporativa, seu tempo é compartilhado com a família, a música e eventos culturais regionais. Entre seus interesses pessoais, estão a educação continuada e a inovação responsável.
Não à toa, a Prati-Donaduzzi se destaca pela forte aposta em inovação, com R$ 150 milhões investidos em pesquisa e desenvolvimento em 2025, sobretudo na área do Sistema Nervoso Central. Outro destaque é a diversificação em nutracêuticos (extratos de alimentos altamente nutritivos), que, agora, representam uma parcela crescente do portfólio.
A expansão para mercados complexos, como o norte-americano e o europeu, abre um novo capítulo, repleto de desafios regulatórios e culturais, mas também de oportunidades para projetar a marca brasileira no cenário global.
A seguir, Maffissoni fala sobre pers-pectivas, investimentos e estratégias para os próximos anos.
Quais foram os principais fatores que contribuíram para a trajetória de crescimento da empresa?
Em 1993, o casal de farmacêuticos Luiz e Carmen Donaduzzi possuía um pequeno laboratório de chás e soluções simples, como hipoclorito de sódio, que funcionava na cozinha de casa, no Recife (PE). Ao visitarem a família no Paraná, conheceram o programa estadual Bom Emprego, que oferecia condições especiais para empresários se estabelecerem no estado. O casal então se juntou ao irmão de Luiz, Arno Do-naduzzi (in memorian), e ao cunhado, Celso Prati, e conseguiu um terreno com a prefeitura de Toledo, no qual foi instalado o primeiro barracão.
Em 1999, aproveitando as oportunidades abertas pela Lei dos Genéricos, a empresa se tornou a maior fornecedora de medicamentos para o governo. A seguir, mirou também no varejo, investindo na marca, na diversificação e na expansão territorial. A companhia adotou uma estratégia diferente da concorrência: a verticalização da distribuição, com sua própria rede, em vez de usar distribuidoras regionais.
Como a inovação e o investimento em pesquisa se traduzem nesse crescimento e na posição no mercado?
Só em 2025, estão sendo investidos R$ 150 milhões em pesquisa, desen-volvimento e inovação. No total, a Prati-Donaduzzi possui 480 produtos em comercialização e, para continuar o crescimento sustentável, investe em di-versificação. Hoje, 14 produtos estão na grade de prescrição da Prati-Donaduzzi para o Sistema Nervoso Central (SNC), para doenças tratadas basicamente pelo geriatra, psiquiatra e/ou neurologista. O canabidiol é um deles.
Temos 450 profissionais dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos. Para se ter uma ideia da importância disso para a indústria, 15% do crescimento da Prati-Donaduzzi vêm basicamente de novos produtos.
Como a Prati-Donaduzzi está trabalhando para aumentar a margem e o valor agregado na produção de genéricos?
A Prati-Donaduzzi tem investido fortemente em PD&I, principalmente nos medicamentos que estão para vencer a patente e que têm maior valor agregado, como é o caso da semaglutida, o famoso Ozempic, cuja patente vence em março de 2026. Nós já estamos em fase avançada de desenvolvimento da nossa caneta. Qual é o peso do segmento de nutracêuticos na companhia?
A Prati lançou sua primeira linha de nutracêuticos em 2015. Na época, foram quatro polivitamínicos e três suplementos de cálcio, todos em cápsulas gelatino-sas. Hoje, a farmacêutica conta com 25 apresentações na linha Vigora e 12 na linha Renoforce e fabrica outros 26, que são distribuídos por empresas brasileiras e americanas.
O grupo está entrando no mercado norte-americano e europeu. Quais são os maiores desafios e oportunidades que a empresa enxerga na expansão global?
A internacionalização coloca a empresa em um cenário de grande potencial de crescimento, mas também de alta complexidade. Nos Estados Unidos, mercado em que o grupo iniciou a venda do Sensilatte pela Amazon, no início de 2025, o segmento já representa mais de US$ 157 bilhões e deve atingir US$ 255 bilhões até 2033.
Na Europa, a oportunidade também é expressiva. O plano de abrir um escritó-rio local amplia a capacidade de adaptação às exigências culturais e regulatórias de cada país, além de melhorar a logística e o relacionamento com parceiros comerciais.
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Quais parcerias ou estratégias são es-senciais para sustentar o crescimento?
A chave está na combinação de parcerias estratégicas e inovação contínua. No Brasil, buscamos fortalecer alianças com o governo, redes de farmácias (atende-mos 71 mil farmácias em todo o país) e distribuidores regionais, ampliando nossa presença de forma capilar e garantindo que nossos produtos cheguem com qualidade e rapidez a todos os estados.
No âmbito internacional, priorizamos acordos com distribuidores especializados em mercados regulados, assim como plataformas digitais de alta relevância. Outra frente essencial é a parceria com centros de pesquisa, universidades e instituições de saúde. Essas colaborações ampliam nossa capacidade de desenvol-ver produtos inovadores, sustentados por evidências científicas robustas e adap-tados às exigências regulatórias de cada mercado.
Como a empresa tem atuado para garantir a sustentabilidade e a responsabilidade social?
A empresa adota práticas robustas de gestão de resíduos e reciclagem volumosa de materiais: em 2024, foram mais de 2.415 toneladas recicladas. Essas medidas refletem boas práticas sustentá-veis segundo o escopo ESG (governança ambiental, social e corporativa).
O compromisso socioambiental também se estende a diversas iniciativas voltadas à comunidade e aos colaboradores. Entre elas, destacam-se programas como “Gestação Segura”, “Recomeçar” (que apoia a reinserção social de mulheres privadas de liberdade), “Prati Sustentável” (que promove educação ambiental na rede pública), e “Pratincluir” (voltado à inclusão de pessoas com deficiência). Essas ações têm sido reconhecidas com repe-tidas certificações, como o Selo SESI ODS, que já reconhece desde 2010 as práticas da empresa alinhadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU.
Em sintonia com os princípios de responsabilidade social corporativa, a Prati-Donaduzzi também investe em projetos sociais por meio de leis de incentivo fiscal, apoiando causas nas áreas de saúde, infância, cultura e atenção ao idoso.
Olhando para os próximos 10 a 15 anos, qual é a visão do CEO para a Prati-Donaduzzi?
Nos próximos 10 a 15 anos, a visão para a Prati-Donaduzzi é consolidá-la como uma das líderes da indústria farmacêuti-ca na América Latina e uma referência global em acesso à saúde, inovação e sustentabilidade. Queremos ampliar nossa presença internacional, levando a qualidade e a credibilidade da indústria brasileira para mercados estratégicos, e, ao mesmo tempo, manter nosso compromisso de ser a empresa que mais entrega medicamentos e soluções de saúde com qualidade e custo acessível
no Brasil.
Do ponto de vista estratégico, vamos continuar investindo fortemente em inovação — tanto na modernização de processos produtivos e logísticos quanto no desenvolvimento de novos medicamentos, nutracêuticos e terapias basea-das em ciência de ponta. Nossa meta é que a Prati-Donaduzzi seja reconhecida não apenas pelo volume de produção, mas pela capacidade de antecipar tendências de saúde, integrar tecnologia ao cuidado e gerar impacto positivo para milhões de pessoas.
Quero que, no futuro, quando se falar da nossa história, fique registrado que fomos capazes de unir excelência industrial, inovação científica e respon-sabilidade social para transformar vidas
e fortalecer a indústria farmacêutica brasileira no cenário global.
*Matéria originalmente publicada na edição #304 da TOPVIEW.