O futuro sustentável do Grupo Potencial
No comando de uma das maiores referências em produção de biocombustí-veis do Brasil, Carlos Eduardo Hammers-chmidt – ou simplesmente, Dudu, como é conhecido no setor – carrega o desafio de expandir o legado de seu pai, Arnoldo Hammerschmidt, fundador do Grupo Potencial há três décadas. Engenheiro de produção e, hoje, vice-presidente de rela-ções institucionais e novos investimentos, Carlos lidera uma holding que transpôs fronteiras: de uma pequena empresa familiar da Lapa, interior do Paraná, à construção da maior fábrica de biodiesel do mundo, a ser concluída até o fim de 2026.
Sob seu comando, o Grupo Potencial integra cinco empresas – Potencial Combustíveis, Potencial Agro, BWT Logística e Transportes, BWI Trading e Jeta Combustíveis –, movimentando cerca de 1,5 bilhão de litros por ano entre combustíveis fósseis e renováveis. Mais do que participar do mercado energético, a Potencial é protagonista: é a maior produtora de biodiesel em planta única do Bra-sil e da América Latina, respondendo por quase 10% da produção nacional, com expectativas de elevar essa marca para 1,7 bilhão de litros anuais. Além disso, lidera a produção e a exportação de glicerina refinada e foi pioneira ao operar caminhões movidos 100% por biocombustível.
A sustentabilidade é a base do crescimento do grupo, refletida em projetoscomo o Usibem, que já destinou corretamente 33 milhões de litros de óleo de cozinha usado – evitando a contaminação de bilhões de litros de água e promovendo educação ambiental nas comunidades. Na produção de biodiesel, predomina o uso de matérias-primas de origem familiar, como óleo degomado de soja, resíduos animais e óleo de cozinha reciclado, favorecendo o desenvolvimento econômico sustentável de milhares de pequenos agricultores pelo país.
O olhar para o futuro também impulsiona investimentos, como a construção da nova esmagadora de soja, com aporte superior a R$ 1,7 bilhão, prometendo ampliar o controle sobre a cadeia produtiva e a geração de empregos.
O Grupo Potencial nasceu como uma empresa familiar e, hoje, é referência global em biodiesel. Quais foram os principais marcos dessa trajetória de crescimento?
Nossa história começou com um pequeno posto de combustíveis no Distrito de Mariental, na Lapa, Região Metropolitana de Curitiba, em 1954. Foi uma longa jornada de coragem e persistência até nos tornarmos um dos maiores grupos de energia do Brasil. Essa trajetória de crescimento teve que se adequar às inú-meras mudanças econômicas, políticas e tecnológicas que ocorreram no período e agregou diferentes gerações da nossa família.
Um dos grandes marcos foi a fundação da Potencial Combustíveis, em 1994, que nos inseriu na área de distribuição e projetou a marca Potencial no mercado. Desde então, seguimos com uma expansão gradual até que nosso negócio foi se tornando mais complexo. Sempre conduzido com um olhar visionário para identificar novas oportunidades, o Grupo caminhou em direção a se tornar um ecossistema de negócios, com atuação em diferentes frentes relacionadas à cadeia de combustíveis.
Outro marco decisivo ocorreu com a inauguração da Potencial Biodiesel, em 2012, que nos posicionou como protagonistas da produção de biocombustíveis e da transição energética, além de nos levar a uma nova frente de negócios: a Potencial Agro.
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A Potencial está construindo a maior fábrica de biodiesel do mundo na Lapa, no Paraná. O que essa conquista representa para o setor e para o estado?
A construção da maior fábrica de biodiesel do mundo, na Lapa, é um marco histórico não apenas para o Grupo Potencial, mas, também, para o setor de energia renovável brasileiro. Podemos classificar esse momento como a entrada em definitivo do Paraná como uma referência nacional e internacional na produção de biocombustíveis. Para o setor, é uma prova concreta de que o Brasil tem a oportunidade de liderar o futuro da energia limpa mundial com soluções tecnológicas, eficiência logística e visão de longo prazo. Estamos contribuindo para colocar o estado no centro das discussões globais sobre sustentabilidade e transição energética.
O grupo movimenta cerca de 1,5 bilhão de litros por ano entre combustíveis fósseis e renováveis. Quais estratégias foram fundamentais para alcançar esse volume expressivo?
O crescimento contínuo do Grupo Potencial envolve uma estratégia de ecossistemas de negócios, que levam a aspectos como integração logística, investimento contínuo em infraestrutura e foco em eficiência operacional. Ao longo dos anos, estruturamos um ecossistema completo, que vai da produção ao transporte e à distribuição de combustíveis fósseis e renováveis, sem perder a nossa essência. Somos guiados por valores sólidos, exce-lência no atendimento e rigoroso controle de qualidade.
A sustentabilidade é um dos pilares da Potencial. Como a parceria com pequenos agricultores contribui para a cadeia produtiva e o desenvolvimento regional?
Cerca de 32% da matéria-prima utilizada no nosso biodiesel vem de pequenas propriedades rurais, o que demonstra na prática o nosso compromisso com a agricultura familiar como pilar da sustentabilidade e do desenvolvimento regional. Desde 2013, participamos ativamente do Programa Selo Biocombustível Social, iniciativa do Governo Federal que incentiva a inclusão produtiva de agricultores familiares no setor de biodiesel. Só em 2024, investimos mais de R$ 15 milhões em parcerias com 24 mil famílias, atuando junto a cooperativas nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Sergipe e Pará – incluindo a primeira parceria do setor com uma cooperativa indígena. Damos suporte completo: identificamos cooperativas com Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), financiamos a assistência técnica especializada e acompanhamos os produtores do plantio à colheita, garantindo pagamento acima do valor de mercado. Com isso, promovemos produtividade, geração de renda e mais qualidade de vida no campo, mantendo viva a nossa missão: incluir, desenvolver e crescer juntos, movendo o Brasil com energia limpa e justiça social.
O projeto Usibem tem destaque na coleta e conversão de óleo de cozinha usado em biocombustível. Quais são os principais resultados ambientais e sociais dessa iniciativa?
O projeto Usibem mostra o posicionamento do Grupo Potencial para a transição energética sustentável. Transforma-mos óleo de cozinha usado em biodiesel na nossa usina na Lapa, um combustível limpo e renovável. Buscamos com o projeto estar vinculados a uma marca reconhecida em práticas ESG e fazer parte da economia circular com visibilidade garantida. A iniciativa tem parceria com diversos restaurantes de Curitiba. Estamos também levando o projeto a eventos. Já participamos da Maratona deCuritiba, Meia de Curitiba, Gastronomix e, recentemente, no FIH2.
Até o momento, já transformamos 33,5 milhões de litros de óleo usado em biodiesel. Um litro desse óleo descartado de forma incorreta poderia contaminar até 45 mil litros de água. Com isso, conse-guimos preservar quase 840 bilhões de litros de água. Isso é equivalente a 335 mil piscinas olímpicas.
A Potencial é pioneira no uso de caminhões 100% movidos a biocombustível no Brasil. Como essa inovação impacta a logística e a imagem da empresa?
Somos a primeira empresa, em parceria com a Scania, a realizar a conversão de um caminhão convencional a diesel para funcionamento exclusivo com biodiesel. Segundo laudo técnico da Certipar, nosso caminhão teve uma redução de 95% de emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. No final do ano passado, investimos R$ 10 milhões em mais 10 novos caminhões flex, movidos tanto a biodiesel quanto a diesel.
O biodiesel não só é um combustível seguro como proporciona maior economia no consumo e na manutenção, além de garantir uma redução de quase 90% na emissão de gases poluentes.
O grupo também lidera o mercado de glicerina refinada, exportando para mais de 20 países. Como surgiu essa frente de negócios e qual é a sua importância para o portfólio da Potencial?
A glicerina é um dos subprodutos da produção de biodiesel. Isso significa que o resíduo da produção de biodiesel também é reaproveitado e o que seria descarte de resíduo industrial se torna produção. Nossa produção é de 70 mil toneladas de glicerina anuais, sendo parte bruta e parte refinada, respondendo por 40% do market share no Brasil. Estamos investindo cerca de R$ 100 milhões em uma nova planta de refino de glicerina, também localizada na Lapa. Com previsão de inauguração para 2026, a fábrica deverá produzir, anualmente, até 50 mil toneladas de glicerina refinada. Quando somada à capacidade atual, a produção será de quase 100 mil toneladas anuais.
Mais de R$ 1 bilhão estão sendo investidos na construção de uma esmagadora de soja. Quais benefícios essa unidade trará para a cadeia produtiva e para a geração de empregos na região?
A esmagadora de soja já nasceu recebendo o maior investimento da história do Grupo Potencial. Serão aplicados R$ 1,7 bilhão na primeira fase do empreendi-mento, que vai gerar 250 empregos diretos e 3 mil vagas indiretas. A planta terá capacidade de esmagar 3,5 mil toneladas de soja por dia e armazenar 55 mil toneladas de farelo e 292 mil toneladas de soja por ano, volume equivalente a 5% de toda a produção de soja do Paraná. O objetivo principal é verticalizar a cadeia e garantir o suprimento de maté-ria-prima para a própria empresa.
*Matéria originalmente publicada na edição #303 da TOPVIEW.