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As paranaenses

Elas ajudaram a construir a história de Curitiba e, aqui, contamos um pouco das suas próprias

Você já caminhou pela rua Izahia Cecim Calixto, que homenageia a poeta libanesa? Ou passou pela rua Ana Berta Roskamp, que celebra o legado da empresária pioneira? Várias mulheres, de épocas e áreas variadas, ajudaram a construir a história de Curitiba, mas nem sempre nomeiam as avenidas — ou narrativas — principais.

Elas lutaram para ter espaço em momentos da história em que as mulheres eram proibidas de ocupar alguns deles. A frase da historiadora June Edith Hahner, que se dedicou aos estudos de gênero, resume a situação: “(…) Mas a história nos últimos séculos, seja a história da América Latina, da Europa, dos Estados Unidos ou de qualquer outra parte do mundo, ainda tem sido escrita, geralmente, como se os importantes processos de industrialização, urbanização, modernização e até de reprodução da população acontecessem, aparentemente, sem a participação, ou mesmo a presença, do sexo feminino.”

Daí a importância de relembrar, todos os dias, de como elas contribuíram para o que vivemos hoje. O dia 8 de março, em especial, foi escolhido para marcar esse movimento. O Dia Internacional da Mulher marca a luta e celebração das conquistas delas — e de tantas outras mulheres — ao longo dos séculos. Aqui, te convidamos a conhecer algumas paranaenses pioneiras:

(1934 — 2010)
Zilda Arns

(Foto: divulgação).

Formada em Medicina, Zilda chegou a ter aulas com Maria Falce, mas fez sua especialização em saúde pública e pediatria. Seu objetivo era salvar crianças da mortalidade infantil e desnutrição. Com isso em mente, criou e coordenou a Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa, órgãos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em reconhecimento de seu trabalho árduo, chegou a ser eleita a 17ª maior brasileira de todos os tempos, em 2012.

(1897 — 1972)
Maria Falce de Macedo 

(Foto: divulgação).

Além de ser a primeira médica formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Maria Falce também foi a primeira mulher a ser professora catedrática no Brasil. Ela nunca se abalou pelo machismo que sofria nos tempos da faculdade e na carreira e usou sua profissão para ajudar pessoas — em alguns casos gratuitamente. Hoje, existe uma rua com seu nome no bairro Ahú.

(1912 — 2004)
Helena Kolody 

(Foto: divulgação).

Primeira mulher a publicar poesia haicai, Helena lançou seu primeiro poema, A Lágrima, aos 16 anos de idade — e anos mais tarde tornou-se um dos maiores nomes da poesia paranaense. Aos 19, publicou seu primeiro livro, Passagem Interior. Nem sempre foi dedicada apenas à poesia: passou 32 anos como professora. Ainda assim, nunca a deixou de lado: “Eu sempre procurava misturar a poesia nas coisas de escola, dar um jeito…”, contou, em uma entrevista para José Wille.

Ety da Conceição Gonçalves Forte 

(Foto: divulgação).

Artista plástica e ceramista, Ety dedicou parte de sua vida à Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, que foi base para o Complexo Pequeno Príncipe, maior hospital pediátrico do país. Por seu legado à instituição, que hoje reúne a tríade ensino-pesquisa-assistência, ela recebeu o título de Cidadã Honorária de Curitiba e do Paraná. Ety é presidente e voluntária há mais de 50 anos. Em 2018, foi a única representante do Paraná a receber a Honraria de Serviço ao Brasil da Câmara dos Deputados.

Alice Ruiz

(Foto: divulgação).

Entre livros, poemas, traduções, canções e histórias infantis, Alice publicou 21 obras. A poeta, letrista e tradutora recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Dois em Um. Sua “carreira” começou bem antes: aos 9 anos, já escrevia contos, aos 16, surgiram seus primeiros versos. Seu primeiro livro veio aos 34. Assim como Helena, também dedicou-se aos haicais — o que já lhe rendeu uma homenagem da comunidade nipobrasileira.

Ety Cristina Forte Carneiro 

(Foto: divulgação).

Ety, que leva o mesmo nome da mãe, continua seu legado no Hospital Pequeno Príncipe há mais de 20 anos, quando entrou na área de Marketing. Nesse tempo, participou da implantação da faculdade e do instituto de pesquisa da casa e está à frente de um novo projeto grandioso: o Pequeno Príncipe Norte reunirá mais um hospital 24 horas, um ambulatório, um centro cultural e um hospital de alta complexidade e transplantes. Hoje, é diretora executiva da instituição. Ela chegou a ser presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e a participar da Cúpula Mundial da Família, ligada à ONU.

Margaret Groff

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(Foto: divulgação).

Primeira funcionária de carreira da Itaipu Binacional a chegar à diretoria, Margaret hoje ocupa o cargo de diretora financeira e é um dos maiores ícones na luta pela equidade de gênero no trabalho. Ela já foi reconhecida, inclusive, pela ONU Mulheres pelo trabalho que desenvolve nesse sentido. Além de estar na diretoria, cargo do qual mulheres são muitas vezes excluídas, ela escolheu cursar engenharia, em uma época em que a área também era dominada por homens. É fundadora e diretora do Espaço das Mulheres Executivas do Paraná (MEX-PR). Em 2007, recebeu o Prêmio Mulheres Mais Influentes do Brasil, na categoria de Economia e Finanças.

(1931 — 2012)
ADALICE ARAÚJO

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(Foto: divulgação).

Considerada uma das maiores críticas de arte do Brasil, Adalice foi artista plástica, crítica de arte, poeta e historiadora. Foi a criadora do Dicionário das Artes Plásticas no Paraná, o maior compilado já feito sobre o tema. Ficou conhecida por sua militância pelas artes e pelos artistas do estado, além de pelo legado que deixou aos cursos de arte da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e da UFPR. Em 2003, recebeu o Prêmio Mário de Andrade da ABCA e, em 2007, ganhou o Prêmio Gonzaga Duque.

(1934 — 2007)
Glaci Terezinha Zancan

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(Foto: divulgação).

A bioquímica acumula feitos de peso na militância pela ciência e tecnologia: participou da criação do primeiro curso de pós-graduação da UFPR e foi a segunda mulher presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, além de ter sido a única brasileira a ter um trabalho publicado com o laureado pelo Prêmio Nobel de Química, Luis Federico Leloir.

(1913 — 1981)
Enedina Alves Marques 

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(Foto: divulgação).

Enedina representa um marco para a comunidade negra e feminina: aos 32 anos, tornou-se a primeira mulher negra a concluir uma graduação de engenharia no país, pela UFPR. Ela foi a única mulher na turma de engenharia civil, com 32 colegas homens. Participou de obras importantes para o estado, como a Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, maior central hidrelétrica subterrânea do sul do país, e a construção do Colégio Estadual do Paraná.

(1946 — 2013)
Teresa Urban 

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(Foto: divulgação).

Graduada na segunda turma de jornalismo da UFPR, Teresa deixou um legado à militância ambiental e por direitos humanos. Ela contribuiu para o mapeamento dos remanescentes da floresta de araucária no Paraná, além de ter atuado no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conam) e auxiliado na criação da Rede Verde de Informações Ambientais. Foi pioneira, também, ao unir os dois temas e produzir jornalismo ambiental, com participação em sucursais de grandes jornais, como O Estado de S. Paulo, O Globo e a revista Veja. Em sua trajetória, escreveu mais de 20 livros.

*Matéria originalmente publicada na edição #233 da revista TOPVIEW.

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