Anthony Hopkins versus Kardashians
Estes dias, li um texto que me marcou muito. Falava sobre o quanto o período de isolamento expôs a real faceta dos influenciadores digitais. Longe de seus assessores e da possibilidade de gastar seu capital para promover desejos, ao expôr a presença em jantares, viagens e programas não disponíveis para a grande maioria da população, esses personagens foram obrigados a mostrar quem são no dia a dia, como pessoas reais. Aí, meu amigo, a máscara caiu.
Muitas dessas pessoas ficaram sem assunto, conteúdo ou habilidades, mostrando a farsa (ou produção) que existia por trás de seus perfis. Ao contrário da indústria cinematográfica – que deixa claro o que é realidade e o que é ficção –, as redes sociais conseguiram, por um bom tempo, forjar a fantasia, vestindo-a de realidade. Quando o mercado descobriu isso, não perdoou. Resultado: as últimas semanas demonstraram uma queda brutal no número de seguidores e na arrecadação com publicidade de muitos desses perfis, até então considerados de muito sucesso.
Por outro lado, curiosamente, o momento mostrou que gente talentosa e inteligente pode virar influenciadora até sem querer e, via de regra, isso acontece por um motivo muito simples: são pessoas que têm cultura e usam o dia a dia para evoluir, ao invés de se exibir. O melhor desses exemplos, para mim, foi o de Anthony Hopkins, que, afastado da possibilidade de gravar novos filmes, desenvolveu o hábito de pintar em casa e compartilhou o processo criativo nas redes sociais. Com uma alma de artista e de bem com a vida, o ator intercalava pinceladas nas telas com reflexões sobre a carreira, os relacionamentos e por aí vai, sem papas na língua para quem quisesse ouvi-lo.
“[…] a gente precisa, acima de tudo, ter curiosidade, gosto por fazer as coisas, cultura e vontade de aprender.”
O pequeno relato acima reforça a pauta que é tema desta edição da TOPVIEW: evolução. Para a espécie evoluir, a gente precisa, acima de tudo, ter curiosidade, gosto por fazer as coisas, cultura e vontade de aprender. Quem acordar todos os dias com essa sede vai, certamente, escrever seu nome na história e deixar algo de bom para o mundo.
*Coluna originalmente publicada na edição #237 da revista TOPVIEW.