A beleza é um impossível
Muitas vezes, a publicidade é apontada como a vilã que cria padrões de beleza e distorce a percepção do que é belo. A verdade é que ela mais reflete do que estabelece esses padrões.
Cada época e lugar estabelece critérios para definir o que é considerado belo — e a sociedade, como organismo vivo que é, discute e atualiza esses critérios. Gosto de olhar um pouco para a História, pois ela nos ajuda a entender isso. A palavra “estética” nasceu na Grécia Antiga para dar nome ao “que pode ser compreendido pelos sentidos”. O padrão de estética ideal, nessa época, deveria combinar harmonia e equilíbrio, valorizando as medidas proporcionais. Isso mostra que a beleza, tão subjetiva, era guiada pela objetividade matemática das formas. O conceito era válido tanto para os corpos como para as artes e a arquitetura.
Na Idade Média, o nu grego — que exaltava a saúde — deu lugar ao recato. O belo passou a ser conectado ao divino. As vestimentas se tornaram longas para esconder o corpo atrás de trajes volumosos. Para serem consideradas belas, as mulheres deveriam retratar a figura da Virgem Maria. O tempo passou e os padrões estéticos reaparecem nos anos 1920 com a exaltação de um corpo cilíndrico. Cinturas e seios deveriam ter medidas parecidas. Para conseguir esse resultado, até faixas eram enroladas sobre os seios, a fim de achatá-los. Já nos anos 1990, o simbolismo do seio é completamente invertido. Sua exposição transmitia poder e sex appeal. Aparece então a figura do silicone.
Nos últimos 30 anos, enfrentamos mais mudanças: bulimia, anorexia, Photoshop, valorização do corpo natural, botox, preenchimento labial, harmonização facial…ufa! Chegamos em 2022. E, agora, o que vem pela frente? Não faço ideia, mas concordo com o que disse Aristóteles, lá na Grécia Antiga, quando esse mesmo assunto era debatido: “a beleza é um impossível — algo que sempre almejamos, sem nunca alcançarmos.”
*Matéria originalmente publicada na edição #261 da revista TOPVIEW.