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Em decisão inédita, vereadores rejeitam título de Vulto Emérito de Curitiba a tenente-coronel da Polícia Militar

Da Redação

Decisão levou em conta comportamento nas redes sociais e posicionamentos considerados inadequados para os dias de hoje. (Foto: Divulgação)

Numa rara decisão, a Câmara Municipal de Curitiba rejeitou a concessão do título de Vulto Emérito ao tenente-coronel da Polícia Militar Pedro Gunha. Aprovada na segunda-feira (12), em primeiro turno, com 18 votos favoráveis, 13 contrários e uma abstenção, na sessão desta terça-feira (13) a proposta recebeu 14 votos contrários, 12 favoráveis e oito abstenções em segunda votação. Com o resultado, a matéria foi rejeitada pela maioria simples da Casa e será arquivada. Instituído em 1963 pela lei municipal 2.255 (já revogada) e hoje regulamentado pela lei complementar 109/2018, o título de Vulto Emérito é concedido a pessoas nascidas em Curitiba e deverá ser indicado a pessoas de “reputação ilibada e de conduta pessoal e profissional irrepreensíveis que tenham contribuído para o desenvolvimento do Município de Curitiba na prática de fatos concretos em benefício da comunidade”.

Pedro Guma ocupou o cargo de comandante da Polícia Militar do Paraná de 20 de março de 1987 a 06 de outubro de 1988 e figura na galeria de ex-comandantes da corporação. (Foto : Polícia Militar do Paraná)

Na votação em primeiro turno, o autor do projeto, Zezinho Sabará (DEM), destacou a atuação do homenageado como administrador da Regional Portão, entre 1993 e 1996, como diretor da Secretaria Municipal de Administração, entre 1997 e 2000, e como assessor na criação da Secretaria Municipal da Defesa Social, entre 2001 e 2003. Porém, a vereadora Professora Josete (PT) se posicionou contrária à proposta em ambas as votações. A parlamentar frisou que o militar tem postura desrespeitosa a homens e mulheres, “de direita ou de esquerda, que eventualmente não pensem exatamente como ele pensa”, segundo afirmou. Para Josete, em suas publicações nas redes sociais Pedro Gunha tem comportamento “misógino, de ódio às mulheres”. Como exemplo, citou postagem feita pelo tenente-coronel em que ele se referiu à jornalista da TV Globo Miriam Leitão como “demônio” e “feia” e o compartilhamento de publicação de terceiros em que a apresentadora e também jornalista da Globo Fátima Bernardes é chamada de “vaca”. “Não é um debate ideológico, é uma leitura da postura desrespeitosa e misógina. Já começa chamando uma mulher de demônio, qualificando como feia. E o feio para mulher é utilizado como uma forma para desqualificá-la, independente (sic) da sua inteligência ou competência. E ele também reproduziu postagens em relação à Fátima Bernardes, chamando ela (sic) de ‘vaca’. A reprodução desse tipo de posicionamento é bastante recorrente, em diversos momentos ele qualifica diversas mulheres como ‘vacas’”, completou Josete.

Renato Freitas (PT) lembrou que Gunha teria se referido ao cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil “como ‘aquele beiçudo’ entre outros adjetivos”. Outra que se posicionou contra a homenagem foi Amália Tortato (Novo), que justificou não se sentir à vontade para conceder um título como esse para “uma pessoa que faz postagens que considero raivosas em suas redes sociais”. “Palavras que tenham a intenção de diminuir outra pessoa por conta da cor de sua pele ou características físicas, não são quaisquer palavras, não é qualquer coisa, isso é racismo, e racismo é crime”, disse a vereadora.

Dalton Borba (PDT) afirmou que as informações a que teve acesso a respeito do comportamento do tenente-coronel, “públicas e de alcance a qualquer cidadão”, dão conta de que ele não é uma pessoa que profere apenas palavras ofensivas. “Trata-se de violação de preceitos constitucionais: racismo, discriminação [de gênero]. São coisas gravíssimas. Para além disso, não posso homenagear pessoas que são flagrantemente antidemocráticas, quando atacam a mídia, por exercer seu papel de informação, por atacar instituições, como o Supremo Tribunal Federal. A forma mais tradicional de se impor uma ditadura é derrubar as instituições democráticas e não posso concordar com isso”, disse o pedetista.

Agradecendo os votos favoráveis à iniciativa, Zezinho Sabará respondeu que conhece Pedro Gunha há mais de 30 anos, que sabe de suas qualidades e que, “assim como ele, todos têm defeitos”. “A pessoa fala o que acha correto. Não são pequenas palavras que vão desqualificar as pessoas. Se pequenas palavras, pequenas coisas forem desqualificar não seríamos merecedores de nada. Atire a primeira pedra quem não tem defeito. Se fôssemos atirar a pedra, atiraríamos em nós mesmos”, disse o autor da proposta ao defender a “prestação de serviços, idoneidade, princípios e religiosidade” do tenente-coronel. Para Sabará, a homenagem era merecida porque Pedro Gunha desenvolve um “trabalho sério, correto e honesto”.

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