FASHION

Yves Saint Laurent: memórias ao viajar com a moda

A incrível possibilidade de conhecer outros lugares e culturas por meio da moda

Penso aqui o quanto estar parada me faz querer caminhar. Um ser humano, por essência, é um caminhante. num cenário como o de hoje, a vontade das pernas de viajar, é impelida pela pausa forçada das lembranças, saudades e memórias das viagens que já fizemos. De qual passeio você está se lembrando agora?

A história da moda não teria um percurso próprio sem as viagens (nem sempre com boas intenções): de todos os caminhos que levam à Roma, das Invasões Bárbaras às Cruzadas medievais, da rota da seda entre Ocidente e Oriente aos mergulhos de Napoleão Bonaparte que reacenderam Pompeia e a egiptomania, não há como separar a busca pelo novo, objetivo da moda, do encontro daquilo que já existe em algum paradeiro da sua viagem. Ao viajar, a moda torna novidade para o viajante, aquilo que já é conhecido para o habitante que sempre esteve lá. Isso é algo que nos renova, ou, como preferem os aplicativos, nos atualiza.

Como quem viaja e ao, voltar, conta histórias, permito-me, aqui, viajar, como uma solução para os tempos de vírus. Você pode fazer isso comigo, agora, e a tecnologia será nosso guia, e também nosso álbum de fotos da reunião de domingo.

Yves Saint Laurent é um viajante e a moda avançou quando ele nos abriu a possibilidade de criar roupas por meio da inspiração temática dos lugares. Suas viagens extraordinárias edificaram roupas que traduziram o Zeitgeist do século XX. Índia, Rússia, Espanha, África e Marrocos. De cada lugar, uma contribuição para personificar a mulher que lutamos para ser. O extraordinário é que Yves viajou de dentro do ateliê, pesquisando e mergulhando fundo em cada cultura, vivendo por elas a distância. Ele não gostava de viajar.

Ao se apaixonar – todo mundo tem um lugar que toca sua essência –, foi por Marrocos, ali Yves fincou os pés, caminhou e sentiu o ar. Veja as fotos do Jardin Majorelle, a Villa Oasis de Yves, descoberta por ele e seu companheiro, Pierre Bergé, em 1966. Use as ferramentas de um viajante como se lá já estivesse: contemplar e observar.

O Jardin Majorelle foi a casa do pintor francês Jacques Majorelle, e depois, Saint Laurent e seu companheiro adquiriram e restauraram o espaço. (Foto: divulgação)

Como se percebe, me intitulo flanar (flâneur) – e traçar trajetos e contemplá-los é o que me afaga. Até que as circunstâncias nos permitam viajar, te convido a fazer o mesmo que faço aqui: conectar moda, viagem e tecnologia como fonte de uma inspiração que não pode cessar, usando telas. 

* Coluna originalmente publicada na edição #250 da revista TOPVIEW. 

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