Um belo mundo para Madalena
Eu tenho uma lembrança muito clara da primeira vez que me senti feia. Eu tinha 6 anos e era um dia especial na escola: apresentação do dia das mães. Recordo que olhei para uma coleguinha e achei ela tão linda, mas tão linda, que acabei me sentindo mal por estar perto dela. Essa comparação acabou comigo! Participei da apresentação sem vontade alguma, eu só queria que aquele momento terminasse. Minha mãe bateu algumas fotos e eu só pensava o quanto poderia sair feia nos retratos. E o pior não é que me senti feia. Eu me senti triste. Hoje, com 33 anos, revivo esse momento e tento entender o que aconteceu comigo. Como uma criança foi capaz de criar uma situação como essa, pelo simples gatilho da comparação?
Obviamente eu não tinha a autoconfiança que tenho hoje e nem a visão de que a beleza está, em grande parte, em aspectos que não são físicos. Mas fato é que o ato de se comparar com outras pessoas, além de tentador, é também muito perigoso. E nós vivemos na era da comparação! Ao abrir o Instagram nos deparamos com corpos e rostos impecáveis. Em uma simples tela de smartphone, podemos passar horas nos comparando. Chegamos a comparar nossa imagem com filtro e sem filtro.
E como a imagem pode influenciar a nossa autoestima, não é mesmo?
Hoje, grávida da Madalena, vivo diariamente um estranhamento com o espelho. Horas me achando linda, horas não me reconhecendo.
E por mais que a gente entenda que a beleza é uma união de vários fatores, nós seres humanos estamos fadados a viver em busca de uma imagem que faça a gente se sentir bem e feliz. E nesse momento “maternidade”, penso muito como será a geração da minha filha.
Em conversa com o fotógrafo dos editoriais da TOPVIEW, Nuno Papp, falávamos sobre essa cultura do retouch. O nosso desafio nesta edição foi utilizar o mínimo possível de ferramentas para retoques. Nuno relatou que precisou da opinião dos filhos para entender o que mudar e o que não mudar nas fotos. Afinal de contas, o olhar da nossa geração já está viciado em encontrar o que está imperfeito e destoando do belo. Fiquei feliz em saber, que os filhos do Nuno censuraram quase todas as tentativas de retouch das imagens. Segundo ele, eles não enxergam imperfeições, enxergam autenticidade no que é diferente.
Tenho certeza que a Madalena, em vários momentos da sua vida irá se sentir feia. Ela irá se comparar com outras pessoas. Ela ficará triste com a própria imagem… assim como eu. Isso é do ser humano. Mas me acalenta entender, que talvez, a geração que está nascendo agora, em 2021, não seja tão ferrenha quanto a beleza ligada à perfeição.
Talvez, o mundo que espera a Madalena, será menos cruel e mais autêntico. É o que desejo!
*Crônica editorial originalmente publicada na edição #249 da revista TOPVIEW.