Made in Brazil
A moda é reflexo da cultura e dos costumes de um povo. No Brasil, isso nunca foi diferente. Por conta da colonização, os brasileiros foram influenciados pela moda europeia – que vinha de uma região com um clima bem diferente do país tropical, “abençoado por Deus e bonito por natureza.”
Foi depois da Primeira Guerra Mundial que as primeiras produções de moda brasileiras começaram a aparecer. Por conta do conflito mundial, havia dificuldade de importar tecido e, por isso, começaram a surgir substituições dos materiais que vinham de outros países.
Em 1945, a Casa Canadá – centro pioneiro da alta-costura no Brasil – foi precursora e criou o primeiro desfile de moda no país. No entanto, foi a estilista Zuzu Angel que abriu as portas para que o estilo brasileiro conquistasse o povo regional e, também, internacional.
Morando no Rio de Janeiro, as produções da mineira ficaram muito conhecidas na década de 1960 entre a elite carioca. Seus primeiros desfiles aconteceram em 1966, no 2º Salão de Moda da Feira Brasileira do Atlântico e no Clube de Decoradores do Copacabana Palace. Em 1968, ela estreou seus desfiles nos Estados Unidos, em um evento no Texas. O sucesso de Zuzu a fez ficar conhecida como “mãe da moda brasileira”, já que costumava usar símbolos culturais brasileiros de diversas regiões nas roupas.
Como destaque na história do ramo, Olivia Merquior, uma das principais vozes nacionais com atuação prática no mundo da cultura e da tecnologia e idealizadora da Brazil Immersive Fashion Week (BRIFW) – primeira semana de moda imersiva da América Latina –, também destaca o São Paulo Fashion Week (SPFW) como um dos momentos importantes para o segmento no país.
Nomeada, primeiramente, como Phytoervas Fashion, o SPFW foi fundado em 1995 pelo produtor de eventos Paulo Borges e a idealizadora da marca de cosméticos Phytoervas, Cristiana Arcangeli. “O SPFW fez com que o mercado organizasse um calendário de moda no país – por isso é importante para a indústria. Além disso, ele é um evento de proporções de alcance internacional. Sua construção é importante para uma moda nacional mais respeitada”, esclarece Olivia.
Complementando os nomes históricos da moda brasileira, Mateus Barbosa, fundador e editor-chefe da Hylentino – portal que fala sobre moda, beleza e tendências –, destaca, também, a estilista Gloria Coelho. Ao contrário de Zuzu, Gloria ficou conhecida pelas cores sóbrias, nada parecidas com as do clima tropical brasileiro. Além disso, a também mineira ficou conhecida pelo seu modelo de calça “Lipo”, feita com o mesmo material de cintas modeladoras, dando poder de modelagem à peça.
No entanto, Mateus ressalta que, por muito tempo, a moda nacional ficou “presa” nos mesmos estilistas. “Houve grandes estilistas, mas, por muito tempo, a moda nacional não abria espaço para novos designers. Por isso, a Casa de Criadores foi bem importante”, observa.
Criada em 1997 por André Hidalgo, a Casa de Criadores tem o objetivo de ser um celeiro de novos talentos, sempre trazendo novos movimentos culturais e da indústria. O evento é tão importante que marcas e estilistas como Cavalera, Isaac Silva e Ronaldo Fraga começaram suas carreiras pela passarela da CdC.
Momento atual da moda brasileira
Se a história da moda brasileira já era interessante antes, agora, ela se torna cada vez mais expansiva. A tecnologia vem influenciando e modificando diversos setores da indústria. Olivia explica que o mundo está vivendo uma mudança estrutural na maneira de contar histórias e fixar negócios. “Acho que estamos vivendo o que eu conheço como a 4ª Revolução Industrial. É o momento em que começamos a entender que podemos fazer o storytelling das marcas com novas tecnologias”, explica.
No entanto, a especialista frisa que a novidade não deixa o mundo físico, já que a tecnologia entra como uma aliada. “Teremos mais uma camada de experiências para amplificar o storytelling”, garante a profissional, que já trabalhou com a produção de desfiles na SPFW.
Um grande exemplo dessa junção entre a moda física e a virtual é o BRIFW, que tem como objetivo experimentar novos formatos digitais. “Nós convidamos marcas que já existem no mundo físico a imergir no digital”, pontua a criadora do evento.
Esse contato com a tecnologia também trouxe as redes sociais como canal muito forte de moda. Com isso, influenciadores digitais têm ganhado um espaço jamais visto antes. Diversas pessoas são impactadas com conteúdos de moda por conta desses novos comunicadores, que, além disso, ajudam a difundir a moda nacional apresentando marcas e designers brasileiros para o público. “A moda nacional está ganhando reconhecimento com a comunicação dos influencers. Eles têm um papel importante para trazer reconhecimento de designers nacionais para o público. As pessoas estão interessadas na Misci, no Alexandre Pavão, Eduardo Caires. Esse é um momento que veio com a era do Tiktok”, analisa o editor-chefe da Hylentino.
O que esperar para 2023
Seguindo a ideia de cibercultura citada pelo filósofo francês Pierre Levy, Olivia acredita que, cada vez mais, a humanidade está entrando em um mundo sem regionalizações. “Hoje, estamos indo para um momento de universalização. Ou seja, se um indivíduo, mesmo local, fizer algo que faça sentido para outras pessoas do mundo, isso vai funcionar. Vejo coleções cada vez mais universais, que não são atreladas a um país, mas à visão de uma pessoa”, conta.
Com isso, a especialista acredita que a moda nacional pode traçar um caminho diferente e universal com o mundo digital.
Marcas para ficar de olho em 2023
Ateliê Mão de Mãe
Diretores criativos: Vinicius Santana e Patrick Fortuna
Bold Strap
Diretor criativo: Pedro Andrade
Meninos Rei
Diretores criativos: Céu Rocha e Júnior Rocha