Sou de Algodão na SPFW N60: moda rastreável assume protagonismo
O movimento Sou de Algodão, iniciativa da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), realizou na última sexta-feira (17), seu 4º desfile na São Paulo Fashion Week (SPFW), durante a 60ª edição do evento, que também marcou os 30 anos da principal semana de moda do país. Com o tema “Trajetórias”, a apresentação celebrou a força de uma cadeia produtiva que une sustentabilidade, inovação e design — do campo à passarela.

Com styling e direção criativa de Paulo Martinez, o desfile aconteceu no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e apresentou 36 looks all black desenvolvidos no âmbito do programa de rastreabilidade SouABR (Algodão Brasileiro Responsável). A proposta destacou o percurso do algodão brasileiro certificado, desde o cultivo até a criação de moda autoral.

Moda rastreável: o futuro é coletivo
A passarela apresentou um panorama inédito da rastreabilidade da fibra no Brasil: 82 fazendas, 61 produtores, seis estados e seis indústrias têxteis integram a cadeia de custódia do algodão certificado ABR utilizado na coleção.

“Em nosso quarto desfile na SPFW, a rastreabilidade do algodão brasileiro com certificação socioambiental assumiu o protagonismo”, destacou Silmara Ferraresi, gestora do movimento Sou de Algodão e diretora de Relações Institucionais da Abrapa. “É uma trajetória coletiva que reúne produtores, indústrias e estilistas para mostrar que o futuro da moda é responsável e transparente.”
O presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, reforçou: “Cada peça é fruto de uma conexão genuína entre campo e passarela. O algodão brasileiro é símbolo de qualidade, rastreabilidade e compromisso com práticas responsáveis; valores que ganham forma e significado neste desfile.”
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Seis estados, uma só fibra
As criações foram compostas por algodão cultivado na Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Piauí, estados onde o programa ABR certifica propriedades que seguem rigorosos padrões sociais, ambientais e de governança.
Participaram da coleção as indústrias Cataguases, RenauxView, Santana Textiles, Vicunha, Dalila e Fio Puro, completando o ciclo da fibra — do fio ao tecido final.

Trajetórias: conceito e styling por Paulo Martinez
O conceito “Trajetórias” nasceu da ideia de celebrar os caminhos percorridos, do campo à criação. A escolha pelo preto absoluto traduziu essa união de forma simbólica — cor onde todas as tonalidades se encontram.
“O conceito do all black veio de um lugar de comemoração, inspirado em uma festa black tie para celebrar os 30 anos da semana de moda paulistana”, explicou Martinez. “Mais do que uma estética, é um gesto de respeito. Um agradecimento a todos que constroem a moda de forma consciente e coletiva.”

Os criadores e suas interpretações
Cada um dos seis estilistas convidados traduziu à sua maneira a força e a versatilidade do algodão rastreável brasileiro:
- Alexandre Herchcovitch propôs uma leitura sofisticada e emocional da fibra, destacando sua textura natural e autenticidade.
- ALUF, de Ana Luisa Fernandes, apresentou o algodão em vestidos de festa e volumes escultóricos, revelando seu potencial luxuoso e sustentável.
- Amapô, de Carô Gold e Pitty Taliani, revisitou o próprio arquivo da marca em uma coleção de memória e reinvenção.
- David Lee transformou o percurso da fibra em metáfora visual, explorando costuras e texturas que remetem a estradas e fluxos.
- Fernanda Yamamoto explorou o algodão em construções arquitetônicas e precisas, reforçando sua potência técnica e expressiva.
- Weider Silveiro revisitou a alfaiataria em uma leitura fluida e sem gênero, mostrando o algodão como símbolo de conforto e humanidade.
O algodão como símbolo de união
Em “Trajetórias”, cada estilista percorreu um caminho criativo único, mas todos partiram da mesma matéria-prima: o algodão brasileiro certificado e rastreável.
Das fazendas às passarelas, o desfile do Sou de Algodão reafirmou que o futuro da moda é feito de colaboração, transparência e propósito.
“A SPFW sempre foi um espaço de expressão e de transformação coletiva. Ver o Sou de Algodão celebrar essa trajetória é testemunhar a força da moda brasileira quando ela se conecta à sua origem e projeta o futuro com consciência”, concluiu Paulo Borges, idealizador e diretor criativo da SPFW.