FASHION MODA

“Não existe uma moda mais brasileira do que a outra”, diz Herchcovitch

Confira a entrevista exclusiva com um dos maiores estilistas de moda no Brasil

A importância de Alexandre Herchcovitch é unanimidade entre o mercado e entusiastas de moda dentro e fora do Brasil. Renomado estilista brasileiro, nascido em São Paulo, em 1971, Alexandre iniciou sua carreira na moda de maneira precoce, desenhando roupas desde os dez anos de idade. 

Em 1993, o jovem estilista lançou sua primeira coleção, carregada de uma estética ousada e inovadora, que desafiava a moda tradicional da época. Se era ou não a intenção de Herchcovitch, essa ousadia chamou a atenção do público e o consolidou como um dos principais estilistas do Brasil.

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Ao longo de sua carreira, o estilista também ganhou reconhecimento internacional, participando de semanas de moda em Nova York, Paris e Londres. Com estilo único, ele é conhecido por sua capacidade de combinar elementos da cultura pop com referências históricas, criando peças que são, ao mesmo tempo, vanguardistas e acessíveis. 

Em 2016, no entanto, o estilista deixou a marca que levava seu nome, após anos de uma carreira bem-sucedida e inovadora. Durante seu tempo fora, Herchcovitch continuou a atuar no mundo da moda, dedicando-se a novos projetos e colaborações, como a direção criativa da marca À La Garçonne.

Porém, em 2022, o estilista anunciou seu retorno à Alexandre Herchcovitch, movimentando o mercado da moda de maneira entusiasta. Com isso, ele se comprometeu a manter a autenticidade e a inovação que sempre foram marcas registradas de seu trabalho, ao mesmo tempo em que busca novos desafios e oportunidades. 

Confira agora a entrevista exclusiva sobre alguns pontos importantes na carreira de Alexandre Herchcovitch:

Você está no mercado há 30 anos. Já passou por muitas coisas e já pesquisou também muito na moda nacional. Quais os principais avanços que você enxerga ao longo desse período?

Estando há 30 anos trabalhando com moda, eu acho que o Brasil evoluiu demais na abertura das pessoas por receberem moda autoral, por exemplo. O Brasil é um país onde as pessoas gostam de moda, discutem moda e gostam de se vestir. Então, acho que o povo ter recebido tantas marcas, novas e já consagradas, que coexistem aqui no país – que é tão grande -, acho que foi uma grande evolução para todos nós que criamos roupas. 

Sobre a venda da sua marca, o que você aprendeu com essa experiência?

A lição que eu aprendo em tudo isso é que quando o estilista está atuante, está vivo e a marca tem o nome dele, não tem porque [ele] não trabalhar nessa marca, todos ganham. Eu ganho porque eu tenho um espaço para me expressão com os meus produtos da Alexandre Herchcovitch – porque eu também trabalho para outras marcas -, e também quem é dono, que desenvolve negócios junto com o estilista, que é quem fundou e talvez seja a pessoa que mais entende da marca. 

E quando, durante essa pausa, que você viu que era o momento certo para se reaproximar da Alexandre Herchcovitch?

Depois dessa pausa, que demorou uns seis ou sete anos, eu senti que seria uma boa me reaproximar do grupo para propor um novo tipo de trabalho. Eu continuava tendo ideias para a Alexandre Herchcovitch, só que eu era impedido de usá-las porque a marca não era mais minha. Então, eu simplesmente e intuitivamente procurei [os responsáveis] e a gente conseguiu estabelecer um tipo de negócio para continuar a evolução da marca por uns bons anos. 

Você é muito notado internacionalmente também, não só no Brasil. Você já pensou em expandir a sua carreira pessoal e entrar em alguma grife internacional?

Eu já fiz alguns trabalhos fora do Brasil, já tenho experiência com isso, mas eu sempre tive vontade de ter experiências maiores, mas nunca fui tão afundo nisso. Hoje, eu estou focado no trabalho de desenvolvimento da marca Alexandre Herchcovitch e obviamente que se houver alguma oportunidade de fazer um trabalho fora, eu vou estudar [a possibilidade]. 

Qual é o conceito da moda brasileira para você? 

A moda brasileira é extremamente diversa, você tem criadores trabalhando em todos os estados, em todas as regiões. Você tem gente fazendo roupa, fazendo moda, e eu não consigo categorizar a moda brasileira com uma só palavra, conceito ou frase. Acho que tudo que é produzido por estilistas nascidos no Brasil, é uma moda por excelência e a gente não pode negar isso. Não existe uma moda mais brasileira do que a outra, toda moda produzida no Brasil é uma moda brasileira. 

Há alguns estilistas da nova geração que você enxerga como o futuro da moda nacional? 

No mercado nacional, hoje, as pessoas estão prestando mais atenção, depois de muito tempo, em estilistas e marcas que não são só daquele circuito de moda Rio/São Paulo/Minas. Existem pessoas despontando em todos os lugares do Brasil e, mais importante, estão dando espaço para que elas falem. Então, você tem grupos, por exemplo, de estilistas indígenas que, até um tempo atrás, nem eram vistos. Isso que me desperta atenção hoje, como as influências da vida, do dia a dia de um estilista, podem interferir em uma produção artística. Hoje, a gente olha para todos esses cantos do Brasil e esses cantos não são mais cantos a partir do momento em que eles chamam a atenção pela produção artística. Por isso, hoje, é um momento importante para essa expressão que foge de Rio/São Paulo. 

Conte sobre esses estudos que você está fazendo sobre a sustentabilidade na moda.

Quando eu saí da Alexandre Herchcovitch, eu comecei a trabalhar na A La Garçonne, que é uma marca que só fala sobre sustentabilidade e tem práticas muito ativas no upcycling, reciclagem e tudo mais. Por isso, eu tive que começar a estudar para produzir melhor e falar melhor sobre o assunto. São oito anos falando disso, trabalhando com isso, desenvolvendo novas tecnologias para que o consumo se torne um pouco mais consciente. Mas, além de fazer roupas e uma moda dentro da A La Garçonne que tem esses conceitos, eu também falo muito sobre isso por ter a segurança de uma pessoa que tem estudado há muito tempo sobre sustentabilidade. Por isso, acabo incentivando e propagando esses conceitos para marcas que nascem agora, que já comecem com os conceitos de sustentabilidade. Porque depois que começa, virar a chave é mais complicado.

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