Luxo x streetwear: o match perfeito
Aos 14 anos, José Roberto Antonio Neto já usava a sua criatividade para criar peças de roupas e vendê-las na escola. O jovem de Vitória (ES) pintava camisetas no estilo tye-dye e as vendia para amigos e colegas.
Apesar de ser seu início na moda, ele não levava a atividade como um negócio. Não deu continuidade à produção e encontrou outro hobby: o skate. Apaixonado, começou a praticar o esporte, mas viu que essa não era a sua vocação. “Eu comecei a andar de skate e vi que não levava jeito, mas amava e ainda amo a cultura. Para continuar inserido nesse meio, me encontrei na fotografia. Eu estava sempre com o pessoal, só que, às vezes, fazendo vídeo e foto. Me descobri muito nisso e foi onde [sic] eu pude escoar minha parte criativa”, relembra o diretor criativo da AQVA, marca de streetwear brasileira.
Na maioridade, José decidiu ingressar na faculdade de Administração, vendo que o mercado de fotografia era um pouco incerto. Começou o curso e, ao mesmo tempo, criou uma marca própria.
Apesar do termo, o diretor criativo mal sabia que pertencia ao estilo, porque sempre fez parte do movimento e não sabia que havia um termo que o caracterizasse. “O streetwear apareceu na minha vida de forma muito natural. Eu demorei para entender que existia esse rótulo”, conta.
Com o passar dos anos, o empresário investiu cada vez mais na marca, aumentando a variedade de produtos e os qualificando progressivamente. Esse movimento, de acordo com a visão de José e do produtor de conteúdo de moda masculina e dono do portal Hyped Content, Fellipe Escudero, deve-se muito a uma tendência global de inserção do streetwear nas marcas de luxo.
“Isso já acontece há um bom tempo. Há mais de uma década, as grandes marcas estão de olho em cantores de música black, como Kanye West e Pharrell Williams, e os viram como ditadores de tendências. Eu vejo isso como uma sementinha sendo plantada”, opina Escudero.
Porém, a grande virada veio com o movimento hypebeast, formado por colecionadores que investem muito dinheiro em produtos de streetwear. Eles compram os itens – que são produzidos já em escassez, para gerar demanda – de outras pessoas, que os compraram antes por um valor exorbitante. “Há produtos que geraram valor de revenda 400% acima do valor original. Por isso, o mercado de luxo viu que esse público tinha dinheiro para consumir seus itens”, analisa o produtor de conteúdo.
Com isso, o mercado de luxo investiu em colaborações com marcas de streetwear, trazendo um novo público para seu meio. “As collabs, na minha opinião, foram as que mais fomentaram isso. A Supreme com a Louis Vuitton foi a mais importante desse movimento”, indica.
As collabs certamente colocaram o streetwear em evidência, mas foram as passarelas que apresentaram o estilo ao grande público. Virgil Abloh, falecido diretor artístico da Louis Vuitton e da
sua própria marca, a Off-White, foi um grande nome para o crescimento desse vínculo. “O Virgil foi o cara que possibilitou que isso acontecesse. O streetwear era roupa de skatista, camiseta largada, moletom gigantesco. E, quando houve essas collabs, acho que ajudou muito a amadurecer a impressão de quem estava de fora do movimento”, afirma o diretor criativo da AQVA.
O Futuro da relação
Porém, dentro desse movimento, há um comportamento importante da nova geração de consumidores que cresceram com o hip-hop, o skate e o surfe por conta da grande mídia. Esse novo público tem um papel fundamental no faturamento de grandes marcas, como Dior, Gucci e Balenciaga, por exemplo.
De acordo com o último estudo feito pelo Boston Consulting Group e Altagamma (2021), até 2025, as gerações Y e Z devem representar cerca de 45% do consumo total do segmento de luxo.
Para o streetwear e as marcas do gênero, este é um bom sinal. “Eu acredito que esse movimento deve permanecer, porque o streetwear não está resumido aos tênis e as marcas sabem disso”, opina Escudero.
Para José, o cenário não poderia ser melhor: “O streetwear caminha para ser o meio termo entre o que acontece nas ruas e nas passarelas. O estilo amadureceu demais e temos grandes marcas no Brasil para representar isso”, diz.
O empresário revela em primeira mão que está abrindo seu espaço físico não só para fortalecer o seu branding como, também, para se aproximar do seu público. “Nós criamos esse local pensando
nas pessoas que se identificam com a gente, que querem passar e tomar um café, conversar. É para fortalecer o nosso sistema”, conclui.