FASHION MODA

Engenhoso Dior

A engenharia reversa de Christian Dior que revolucionou o mundo - não só o da moda

A moda tem dentro de si uma engenharia reversa. A própria história da moda, como um aspecto da narração dos fatos de períodos e décadas, pode ser desmembrada, virada do avesso, até chegarmos às curiosidades mais determinantes para um acontecimento.

Por isso – e por nada ser por acaso –, aproveito a exposição itinerante que mostra a história de Christian Dior desde 1947, dentro da sua maison, passando por grandes nomes que atuaram na Dior.

Dior Designer of Dreams iniciou em Paris, passou pelo Museum of Contemporary Art (MOCA), na China, e chegou agora a Nova York, entre 10 de setembro deste ano e 20 de fevereiro de 2022 (me marca nos stories se você por lá estiver: @flanar).

Aplicando a engenharia reversa na moda, para descortinar suas curiosidades e com Christian Dior na cabeça, impossível se esquecer de Marcel Boussac: com uma das maiores fortunas do mundo, ele foi fundamental na economia do pós-Segunda Guerra Mundial, rico fabricante de
tecidos e, claro, pai de todo algodão do planeta Terra.

Foi nessa porta que Dior bateu, em 1946, com o desejo de um espírito novo para os ânimos da França pós-ocupação nazista, com o objetivo de devolver à mulher o poder de um bom corte e saias rodadas pelos salões do mundo. Nascia o New Look e todo um complexo de silhuetas Dior, conhecidas como “Linha A”, “Linha H”e “Linha Y”.

E o curioso nisso tudo? É que, ao abrir a história dos anos 1950, tão representativa da estética de Dior em cada canto do mundo, ainda que sabendo que clientes da alta-costura, em 1950, concentravam-se em um pequeno grupo, eis a mágica que Dior realizou na conversa/convencimento com Boussac: falou-se em economia, mas uma economia que deveria crescer a partir das vendas do algodão.

Para garantir o investimento de Boussac nas pretensões de Dior – uma maison nova, novos ares, nova moda –, Dior garantiu que Boussac vendesse toda a sua produção de algodão. Faria isso exportando-o para o mundo.

E você pergunta: “em 1950, o algodão era uma matéria-prima da alta costura?” A resposta é “não”. Mas Dior transformou suas silhuetas em modelagens prontas para serem licenciadas e, com os devidos impostos e taxas, chegariam a butiques e modistas de todos os cantos do mundo, inclusive em ateliês curitibanos!

Todos – e no algodão – giraram o corpo em um vestido godê de Christian Dior. Engenhoso, ele.

*Matéria originalmente publicada na edição #254 da revista TOPVIEW.

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