Conheça os novos cearenses na moda
Por Jorge Wakabara
Antes, existiram Lino Villaventura, Água de Coco e diversos outros estilistas do Dragão Fashion, evento que acontece desde 1999 em Fortaleza, e que também lançou nomes como Mark Greiner e Lindebergue Fernandes. Depois, as bolsas da Catarina Mina encantaram o Brasil todo (e hoje a marca também tem roupa de renda de bilro na Olê). Mais recentemente, David Lee virou destaque com sua moda masculina em Londres e foi o único nome cearense da lista Under 30 da “Forbes” de 2020.
Mas existe uma nova turma do Ceará chegando em outras praias. Marina Bitu (com sua marca homônima em sociedade com Cecília Baima e na Sau, de moda praia, com a sócia Yasmim Nobre), Gabriel Baquit (Baba), Walber Góes e Rodrigo Bessa (Gonzalo do Ceará), Thiago Maciel (Studio Orla), Larissa Lopes (Tropicana), Marcos Maciel (Casa Aika), Rebeca Sampaio e outros criadores, bem próximos ou se cruzando em projetos como o de novos designers da Shop2Gether e o hub de criativos Nordestesse, chamam a atenção porque ganham ares de novo movimento fashion.
Marina Bitu é como um elo de ligação, uma “agitadora fashion” além de estilista. “Muitas pessoas me procuram para eu prestar serviço e acabo prestando. Não nego!”, ela explica, rindo. “Vou ali, trabalho para uma marca, ajudo um amigo a abrir outra…” E um detalhe: ela já cuida de duas labels!
Em 2017, Marina conta que começaram a procurá-la para criar vestidos para ocasiões especiais. Como ela já tinha uma relação com a roupa que passa por memória afetiva, puxada pelas suas avós, decidiu pegar traços da história de cada cliente para levar isso para a peça encomendada em um detalhe, um bordado, uma renda desconstruída. A partir de 2019, lançou pequenas coleções sob seu nome, de túnicas de seda, peças em linho… O design e a qualidade foram ganhando fama.
Já a Sau partiu de um convite de Yasmim, que era sua cliente, para começar um novo projeto em 2020. “Na época, estava passando por um episódio depressivo e entrei no surfe. O mar para mim sempre foi um refúgio, e enxerguei uma nova vontade de viver nessa prática. Só que sentia falta de peças que dessem para praticar o esporte e que fossem bonitas. Tudo era muito colorido, meio infantil”, Marina relembra.
Daí surgiu a marca de moda praia que cresceu bastante e hoje vende no exterior. Crochê, modelagens maiores e, claro, wet suits fazem parte do mix de produtos. E Marina garante, rindo: “Tem um amigo que brinca falando que vivo abrindo marcas, mas não vou mais abrir nenhuma, não.”
Falando em amigo, o publicitário Gabriel Baquit fortaleceu sua amizade com Marina enquanto ambos trabalhavam na Água de Coco. Foi ela quem o ajudou no começo da Baba, em 2019. “Estava muito insatisfeito e queria começar um negócio meu”, Gabriel recorda, “e eu sempre me interessei pela área, minha família trabalha com moda”.
Assim como a marca Marina Bitu, que trabalha com referências cearenses (plissados que remetem à sanfona, por exemplo), a Baba também tem essa questão da memória afetiva, porém em pegada superpop. Cores primárias fortes e referências ao cotidiano de Fortaleza, com uma estética bem humorada, se destacam em uma moda casual que é a cara da geração Instagram. “Hoje temos produtos com valores mais altos, mas procuramos ter outros com preço de entrada. Quero ver as pessoas usando, senão minha marca não está viva.”
Todas essas neolabels, cada uma com sua identidade, trazem uma questão de reafirmação local em diferentes graus de intensidade. A Gonzalo do Ceará, de bolsas, carrega o estado até no nome. “Tem a Farm do Rio, né? O Ceará também tem que ser bem quisto”, brinca Rodrigo Bessa. Os acessórios possuem muitas referências da infância do sócio e marido Walber Góes, passada na fazenda da avó no Canindé.
Com uma ampla rede de produção espalhada pelo estado, eles também se inspiram nos próprios artesãos: “Às vezes, a gente chega na casa de um deles, encontra uma luminária e dali sai uma nova ideia”. A Gonzalo conta com um trabalho sofisticado de palha e crochê que parte de referências regionais para um produto de apelo internacional. O acabamento, por exemplo, vem de estudos reproduzindo o de bolsas de couro, com cola, mas em outros materiais. São itens que demoram para ser fabricados, 100% feitos à mão.
E por que esse “novo pessoal do Ceará” surge hoje? Gabriel tem um palpite: “A gente se aproveita dessa questão de o Ceará ser um pólo têxtil, mas ainda não ter o alcance da moda nacional que poderia e deveria ter. Essa nossa turma entende a internet de uma forma interessante para divulgar o trabalho.”
A Baba conta com loja própria, a Baba Lab, onde inclusive também vende produtos de outras marcas autorais. Mas também vende pela web, assim como todas as outras. Vale o frete!
(Via: BAZAAR)