FASHION MODA

As mulheres estão redefinindo o universo dos sneakers

Como elas deixaram de ser consumidoras e se tornaram vozes criativas centrais, redesenhando o futuro da cultura sneaker com autenticidade, inovação e identidade

Os tênis esportivos surgiram no século XX como calçados funcionais voltados para atividades físicas, mas ganharam status de ícone cultural nas décadas de 1970 e 1980, especialmente com a ascensão do hip-hop, da cultura do basquete e da moda urbana. Até então, o universo sneaker era quase exclusivamente masculino, tanto nas campanhas quanto nos lançamentos. Modelos como Nike Air Jordan, Puma Suede e Adidas Superstar eram pensados para homens, e não eram lançados em grade completa de tamanhos femininos.

A presença das mulheres, no entanto, sempre esteve ali, ainda que à margem: usando os tênis dos irmãos, personalizando pares que não existiam na sua numeração, ou apenas consumindo de forma silenciosa. Com o tempo, essa presença cresceu. Nos anos 2000, a cultura sneaker se expandiu para um público mais amplo, e a demanda feminina se tornou impossível de ignorar. As marcas passaram a incluir as mulheres não apenas como compradoras, mas também como referências de estilo e, finalmente, como criadoras.

Na Nike, algumas das colaborações mais marcantes são lideradas por mulheres. Martine Rose reinterpretou modelos como o Shox MR4 com uma estética desconstruída e ousada. Yoon Ahn (AMBUSH) assinou releituras do Air Max 180 e do Dunk High, misturando funcionalidade e moda. Tiffany Beers, embora menos conhecida do grande público, foi uma das responsáveis técnicas pelos Nike Mag com amarração automática, uma das inovações mais emblemáticas da marca. Essas iniciativas mostram como a marca norte-americana passou a apostar em olhares femininos para repensar tanto o design quanto a funcionalidade.

Martine Rose x Nike Shox MR4 Mule. (Foto: divulgação)

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Na Adidas, a britânica Grace Wales Bonner se destacou por trazer sofisticação e herança cultural para os sneakers. Suas versões da clássica Samba com crochês manuais e tons neutros foram sucesso absoluto entre colecionadores e fashionistas, ajudando a reposicionar o modelo como um dos mais desejados da atualidade. Já Cecilie Bahnsen, com a Asics (marca japonesa que também tem se aproximado de designers mulheres), transportou o romantismo de suas roupas para os tênis GT-2160 e Gel-1130, com flores aplicadas e tecidos reaproveitados — um exemplo de como o design autoral pode encontrar espaço dentro do esporte.

Grace Wales Bonner x Adidas Samba Croche. (Foto: divulgação)
Cecilie Bahnsen e Asics GT-2160. (Foto: divulgação)

Na Puma, o envolvimento feminino acontece há mais tempo e de forma mais ampla. A marca firmou parceria com Rihanna em 2015, lançando a linha Fenty Puma, que incluiu o icônico creeper platform, eleito “Shoe of the Year” em 2016. Mais recentemente, a cantora Dua Lipa colaborou na criação de modelos como o Mayze, resgatando a estética dos anos 1990 com solado plataforma. A marca também criou a iniciativa “She Moves Us”, voltada à valorização de criadoras, atletas e artistas mulheres. Por essa plataforma, designers como Nicole McLaughlin desenvolveram projetos com materiais reciclados, e June Ambrose — atual diretora criativa da linha Puma Hoops — lançou coleções que celebram o legado feminino no esporte e na música.

Rihanna com o FENTY x PUMA Avanti. (Foto: divulgação)

Essas colaborações vão além da estética. Elas são narrativas pessoais traduzidas em design, seja no resgate de heranças culturais, no uso de materiais sustentáveis, ou na quebra de padrões masculinos predominantes.

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