FASHION

Colar sem copiar: a nova moda masculina

Mais livres do que nunca para criar, designers fundem tecnologia, novos shapes e as simbologias do masculino para vestir os vários estilos de homens

Com as mudanças frenéticas do mundo atual, a moda masculina busca aliar conforto, praticidade e beleza. Algumas marcas desafiam os limites de gênero, enquanto outras não abrem mão dos códigos de elegância masculinos. A TOPVIEW reúne cinco marcas brasileiras de moda masculina que representam a produção atual para o homem contemporâneo. Em comum, a proposta de oferecer uma moda autêntica, que faça sentido no contexto de vida desses novos homens.

Ricardo Almeida

Em 2003, no auge da carreira, Gisele Bündchen abre – de macacão de alfaiataria – um desfile masculino na São Paulo Fashion Week. Corta. 2018: o craque Neymar e todos os jogadores da seleção brasileira de futebol apresentam-se impecáveis extracampo na Rússia, em seus uniformes de gala. Em comum, a assinatura de Ricardo Almeida, que costurou ao longo de 35 anos uma sólida trajetória na moda masculina. Além do corte preciso, de caimento perfeito, Almeida, 62 anos, propôs uma nova silhueta para o homem: o design mais ajustado. Sua sensibilidade deixou mais elegantes figuras emblemáticas, como o ex-presidente Lula.

Nessa época, o costureiro, que já era o preferido das celebridades, virou o favorito dos políticos. Paulistano, começou a trabalhar muito jovem na loja de cama, mesa e banho dos pais. Nos anos 1970, passou a atuar em uma camisaria, onde desenvolveu o gosto por pesquisa e modelagem. Nunca mais parou. Com 24 lojas próprias nas principais capitais do país, Almeida lançou, em 2012, sua própria sapataria, uma linha casual de jeans, polos e camisetas e a marca feminina Ricardo Almeida For Special Ladies. O estilista também atua em sua flagship na Rua Bela Cintra, na capital paulista, para clientes que desejam um terno sob medida com atendimento personalizado. ricardoalmeida.com.br

Cutterman

“Criei o que gostaria de consumir: uma marca verdadeira e que falasse comigo.” É assim que o publicitário Gustavo Oliveira resume a marca de acessórios em couro que criou há cinco anos. Matéria-prima de qualidade, acabamento artesanal e pequenos lotes são características da empresa, que foca não em um estilo de homem, mas em um público adulto diversificado, que busca produtos originais e com personalidade. Os itens variam de carteiras, bolsas e mochilas a outros acessórios – todos tão bonitos quanto bem-feitos. Exalam uma identidade rústica que se encaixa em um estilo de vida mais solto e contemporâneo. Segundo Gustavo, crescer nunca foi uma urgência para a Cutterman, mas o mercado está acenando com possibilidades.

Até um ano atrás, a marca tinha 3 funcionários. Hoje, são 15 na fábrica em Curitiba, de onde saem 90% dos produtos. Há uma loja física na cidade de São Paulo e o site de vendas ampliou o mix com produtos feitos igualmente no Brasil por outras empresas e que ajudam a construir a sua identidade – de tacos de beisebol a bicicletas. Sem se preocupar com coleções e tendências, Gustavo diz canalizar o potencial criativo para diversifi car a própria produção, que hoje vai além dos acessórios pessoais. cutterman.co.

Charlye Madison

O autodidata Charlye Madison apurou o olhar de dentro de multimarcas masculinas, onde começou a trabalhar aos 16 anos. Sua experiência inclui criação e desenvolvimento em grandes fábricas de Santa Catarina e em marcas como a curitibana Pin, conhecida como uma das icônicas fornecedoras de malharia em tricô do país nos anos 1990. Há três anos, assumiu sua marca própria com linhas masculina e feminina, mas também com proposta genderless, muito antes de se tornar moda. Paletós em alfaiataria, jeans e tricô não saem de linha – a marca não se preocupa em seguir estações ou coleções. Em uma sala na loja de rua, as criações convivem com marcas como ForHim e Replay.

“Tento continuar com uma roupa bem cortada e não abandonar a história da vestimenta construída em séculos”, diz ele, que torce o nariz para a excessiva influência do streetwear. No entanto, Charlye afi rma estar atento às mudanças. Sua alfaiataria é inspirada nas ruas da Itália, onde os homens usam esse item com naturalidade. “As pessoas hoje se movimentam mais, andam a pé, de Uber. Um bom paletó não precisa [ser usado] apenas em um evento, pode ser usado com uma jogging e um belo sapato.” Por isso, acredita atender um consumidor fi el e carente de alternativas. “Prefiro não focar em um único estilo, mas em pessoas que buscam roupas incríveis e atemporais”, conclui. Loja: Al. Julia da Costa, 1.093, Curitiba.

Martins.Tom

Peças agigantadas são a marca registrada da paulistana Martins.Tom, lançada em 2016 pelo designer Tom Martins e o arquiteto Bruno Dalto. Tom acredita que grandes proporções dão um crivo democrático às roupas, pois vestem todos os tipos de corpos. O jeans é a principal matéria-prima pelo seu caráter versátil, urbano e atemporal, mas a conversa com a rua e com a cultura pop é extensa. Em breve, a marca apresenta a sua quinta coleção na Casa de Criadores, em São Paulo, semana de moda que reúne as principais apostas nacionais. A coleção é, segundo Tom, uma “mistura poética” do grunge com o conforto do pijama.

Dessa fusão, saem roupas em diversas padronagens de xadrez, listras e tecidos lisos, sempre com modelagem oversized. Robes e pantalonas ganham um ar urbano e combinam com camisas e casacos amplos em fl anelas e jeans. A marca acredita nos colabs: as sandálias de pele são fruto da parceria com a Rider e os acessórios em alumínio levam a assinatura da designer Jana Favoreto. Em breve, com exclusividade no site, passará a vender a linha acessível Bruto. As roupas podem ser adquiridas nas lojas Pair, Hybrida, Galeria Nacional, Void e Histórias na Garagem (Porto Alegre) ou por meio do e-commerce martinstom.com.

Tresano

Criada no ano passado em Curitiba pelo estilista Lucas Sarabia, a Tresano evoca alguns elementos da geração millenium: uma forte comunicação virtual, slow fashion como alternativa à produção e ao consumo de massa e o conforto como premissa da roupa – se o pai do seu cliente precisava de um terno para trabalhar, agora não é mais o caso. O comfortwear da marca apresenta um desenho minimalista com o recurso de recortes e geometrias. A paleta de cores é propositalmente sóbria, seguindo a proposta do visual clean. Tudo é prático e usável para as várias situações, de um dia a dia agitado à balada.

“Consideramos nossos clientes globetrotters, pessoas que viajam o mundo”, diz Lucas, que convidou a diretora de criação da marca feminina NovoLouvre para assinar com ele a próxima coleção. Wanderlust foi inspirada em Berlim, capital da Alemanha. Prestes a sair da faculdade de Administração de Empresas, Lucas diz ter apostado em moda masculina por acreditar na existência de um mercado ainda inexplorado. Atualmente, a Tresano vende no sistema de e-commerce e tem planos de expansão no atacado a partir da próxima coleção. tresano.com.br. 

*Matéria publicada originalmente por Dani Brito na edição 213 da revista TOPVIEW.

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