FASHION

Jean Paul Gaultier desfila última coleção em Paris

O desfile na Semana de Alta Costura parisiense marcou o fim de uma era: a despedida de Jean Paul Gaultier da moda

Uma cena de funeral do filme Who Are You, Polly Maggoo passa no telão enquanto Boy George canta Back to Black, de Amy Winehouse. As luzes são apagadas e surge um caixão, carregado por dançarinos. Os modelos esperam imóveis ao longo da escada. Após versos como We only said goodbye with words/I died a hundred times, a tampa é aberta e sai a modelo Issa Lish para cruzar a passarela com o primeiro look, todo branco. Foi assim o início do desfile de despedida do estilista Jean Paul Gaultier na Semana de Alta-Costura, no Théâtre du Châtelet, em Paris. O “funeral” celebrou simbolicamente a vida e a “morte” do eterno enfant terrible, a criança terrível, no universo da moda. Mas o clima fúnebre ficou apenas nesse cenário, a partir daí a festa foi no mood tradicional do estilista: looks andróginos, alfaiataria, corsets e, é claro, seu sutiã cone — criação que ficou famosa mundialmente no corpo de Madonna. A camisa de marinheiro, da primavera de 1984, que Gaultier popularizou em sua primeira coleção masculina apareceram em outros formatos. O pioneirismo do francês continua — e é ainda mais representado — até hoje.

“Nada permanece igual. A vida e a moda são assim”

Gaultier desfilou homens usando saias, mulheres em ternos e diferentes tipos de corpos antes das tendências de diversidade e genderless. Desta vez, mais de 150 modelos, entre eles artistas da música e do cinema, desfilaram as peças que marcaram a trajetória de 50 anos do estilista. O casting incluiu as brasileiras Valentina Sampaio e Laís Ribeiro, as badaladas Gigi e Bella Hadid, o muso e amigo Gaultier Tanel Bedrossiantz, a atriz Rossy de Palma e as atrizes francesas Mylène Farmer e Amanda Lear, além da artista burlesca Dita Von Teese e vários outros amigos do estilista.

“A moda está em tudo, é uma forma de expressão. Muçulmanas usam véu, políticos usam trajes sóbrios, músicos usam roupas punk… Há uma imagem de moda por trás de cada pessoa”, em entrevista para a L’Officiel

Jean Paul Gaultier: The journey

Suas criações mostram muito de sua personalidade: irreverente, bem-humorada, provocativa e criativa. Gaultier sempre questionou o senso comum — e fugiu dele. Desafiou padrões globalmente aceitos, como a masculinidade, a feminilidade, o que é cool e o que é cafona.

O francês abriu sua marca em 1976, depois de passar pelos estúdios de gigantes da moda, como Pierre Cardin, com quem estagiou aos 18 anos, e Jean Patou, que o ensinou a alta-costura. Mas o apreço pela moda surgiu bem antes, aos 13, quando começou a desenhar roupas para as mulheres da família, inspirado pelo armário da avó. O posicionamento claro de suas convicções sempre foi parte presente em seu trabalho. Em 2014, decidiu encerrar as linhas de ready to wear e moda masculina, com base no ritmo acelerado da indústria fashion. O estilista deixou de lado o lançamento de várias coleções por ano para dedicar seus esforços à linha de couture e criação de figurinos para teatro e cinema. “Hoje [o prêt-a-porter] é uma verdadeira linha de produção. Há pouca inspiração, pouca arte”, defendeu em entrevista para a L’Officiel. Ao final de seu último desfile de alta-costura, todos os modelos se uniram em um cena emocionante para abraçar Gaultier e celebrar seu legado, que vai continuar vivo em forma de inspiração para outros estilistas que desfilam nas passarelas.

*Matéria originalmente publicada na edição 233 da revista TOPVIEW.

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