FASHION

Grisalho is the new black

Mulheres repensam os padrões de beleza e assumem o grisalho em um movimento pela liberdade

No dia 1º de dezembro de 2020, uma manchete pipocou em vários jornais: “Carla Vilhena é a primeira âncora a comandar um telejornal grisalha.” Vilhena representa um movimento de mulheres que tem crescido: o das que optam por abandonar as tintas e assumir os cabelos grisalhos.

Foi o caso da designer Priscila Bavaresco, 42 anos. Aos 15 anos, começou a perceber seus primeiros cabelos brancos. Aos 17, começou sua saga com a tinta. “Nunca pensei, nem cogitava, assumir os brancos naquela época. Nem se cogitava qualquer mulher, com qualquer idade, fazer isso. Era normal a gente esconder. Tinha vergonha dos cabelos brancos”, relembra. Foi só em 2012 que decidiu assumir os cabelos grisalhos. Foi parte das transformações que sentiu como mulher e como mãe, três anos após dar a luz. “Não fazia mais sentido, era uma questão de tempo, de preguiça, de autoaceitação… várias coisas. Pesquisei muito porque tinha muita curiosidade de saber como eu ficaria grisalha.” Ela, então, arriscou e assumiu o cabelo natural.

O momento da transição foi delicado. Eram duas opções: ou cortava curto ou assumia o cabelo “zebra”, com as madeixas escuras e claras. Priscila optou por não cortar. “Foi uma transição muito sofrida. Eu sentia muitos olhares de reprovação. Mas eu estava tão decidida que não me afetou tanto. Enfrentei com muita força.” A família, por outro lado, apoiava a decisão. No ano passado, durante a pandemia, decidiu criar um perfil no Instagram para conversar diretamente com outras mulheres. Assim nasceu o @greynproud, que já tem quase 2,5 mil seguidores. “Existe uma rede de apoio muito grande entre as mulheres que estão na transição. É importante a gente mostrar que o cabelo branco pode ser bonito”, conta.

Hoje, ao fazer uma busca no Instagram, é fácil encontrar dezenas de perfis exaltando os cabelos grisalhos. No passado, nem sempre foi tão fácil encontrar inspiração. “Há 22 anos, não se falava de mulher deixar o cabelo branco”, pontua a advogada Sandra Cristina Alves Dias Oliveira, 42 anos. “Muitas mulheres começam a transição e desistem, porque a pressão é muito forte. Ainda é um tabu e tem muito preconceito.”

O processo de Sandra com os fios brancos começou quando tinha 20 anos. Passou, então, a pintar os cabelos e só parou em 2019, quando precisou dar uma pausa na química da tinta por conta de uma severa queda de cabelo. “Nesse intervalo, foi a primeira vez que vi meu cabelo branco. Na verdade, eu nem sabia como era, porque, sempre que começava a apontar, eu pintava”, conta. Em seu perfil no Instagram, @donnacurlly, compartilha, com seus mais de 2,5 mil seguidores, suas reflexões sobre o tema.

A família sempre desaprovou a escolha e Sandra se acostumou a receber comentários negativos no YouTube por conta de seus cabelos grisalhos. Mas foi na liberdade de sua decisão que encontrou motivação para continuar a transição. “Eu era escrava disso [da tinta], pintava de 30 em 30 dias, depois 15 em 15, e, por último, toda semana. Vivia me escondendo. Era algo que me prendia a ponto de eu não viver. A liberdade de nunca mais precisar pintar não tem preço”, destaca. “Eu me olho no espelho e gosto do que vejo, então não importa o quanto criticam. Eu me encontro nesse cabelo branco.”

A designer de sobrancelhas e maquiadora Jessica Aroucha Silva, 27 anos, também gostou do que viu no espelho quando decidiu dar um tempo na tinta. No começo, fez porque estava com os cabelos muito danificados e precisava deixá-los um período sem química. “Recebi muitas críticas das minhas clientes. Elas não conseguiam entender porque eu estava fazendo aquilo. O intuito é a gente se amar da forma que a gente é. Vejo tantas mulheres fazendo plástica para mudar o formato de tudo – muitas morrem ou perdem cabelo por causa disso. É um bem para a nossa saúde, se libertar disso”, defende.

Mal sabia que seria um caminho sem volta: assumiu o grisalho aos 24 anos. “Hoje, tenho várias clientes que deixaram o cabelo ‘grisalhar’ se inspirando em mim”, conta, orgulhosa. “Eu consegui ser exemplo para outras mulheres – e nós vamos nos fortalecendo.” Jessica também compartilha sua rotina com o cabelo grisalho em seu perfil no Instagram.

Sandra Cristina Oliveira

(Foto: acervo pessoal)

 

“Vivia me escondendo. Era algo que me prendia a ponto de eu não viver. A liberdade de nunca mais precisar pintar não tem preço.”

Jessica Aroucha Silva

(Foto: acervo pessoal)

“O intuito é a gente se amar da forma que a gente é. (…) É um bem para a nossa saúde, se libertar disso.”

Priscila Bavaresco

(Foto: acervo pessoal)

“Não é só sobre assumir o cabelo branco, mas, também, questionar se temos a liberdade de escolha sem sermos criticadas.”

*Matéria originalmente publicada na edição #246 da revista TOPVIEW.

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