FASHION ESTéTICA

Por quê a cirurgia plástica infantil aumentou 140%

Buscamos entender os fatores que influenciam esse desejo e como avaliar a pertinência e riscos da cirurgia plástica infantil

A influência de padrões estéticos e a necessidade de integrar um grupo estão presentes na vida de crianças e adolescentes. Por causa da insatisfação com a própria aparência, muitos procuram a cirurgia plástica infantil como alternativa para corrigir o que enxergam como imperfeições. Se por um lado essa é uma possibilidade para melhorar a autoimagem e a autoestima, por outro é necessário o acompanhamento dos pais e de profissionais capacitados.

É possível diferenciar duas categorias, segundo o psicólogo Eduardo Vicenzi: pessoas que possuem alguma característica física que é tema de ridicularização, discriminação ou humilhação, gerando sensações como a de exclusão do grupo social e de inferiorização. É o caso de crianças ou adolescentes que se incomodam com “orelhas de abano”, com determinado formato de nariz ou se sentem acima ou abaixo do peso e das medidas padrões para o grupo que integram. Na segunda categoria, não há bullying, mas o desejo de tornar seu corpo mais atraente segundo padrões de beleza. “Estes adolescentes almejam aumentar o tamanho dos seios, das nádegas, realizar procedimentos como lipoaspiração, rinoplastia (remodelação do nariz) ou outros”, exemplifica o psicólogo. “A intenção é se tornarem mais bonitos e admiráveis perante o olhar dos seus pares, o que implicaria em um aumento da autoestima e orgulho do próprio corpo.”

Após indicação médica, Thais Alves Cardoso fez cirurgia de gigantomastia (remoção de volume das mamas) aos 15 anos. Ela retirou um quilo de cada mama, peso que já estava começando a prejudicar sua coluna. Antes, Thais tinha muita vergonha de usar determinadas roupas e não gostava de ir à praia, porque se incomodava em usar biquíni. Hoje, sua confiança e autoestima tiveram uma melhora visível. “Depois da redução, ela usa as roupas que sempre quis e vai à praia de biquíni”, conta a mãe, a funcionária pública Josiane Alves.

Em crianças e adolescentes, o que os outros pensam muitas vezes tem mais importância do que a opinião sobre si próprio. Uma adolescente, por exemplo, pode nunca ter se incomodado com o tamanho dos seios até que tenha contato com opiniões alheias de que são muito pequenos ou grandes. “Estas opiniões advindas dos semelhantes podem fazer a função de ‘gatilho’. Daí para a ideia de que só uma cirurgia plástica infantil pode solucionar a problemática é um pequeno passo”, alerta Vicenzi.

Como aconselhar

Os pais têm papel fundamental no aconselhamento e consentimento para a realização de uma cirurgia plástica, inclusive por serem os responsáveis legais até os 18 anos dos filhos. Antes de partir para a cirurgia, é importante averiguar se a motivação é “justa”. Vicenzi alerta que crianças ou adolescentes que estão em constante estado de insatisfação (não só com o próprio corpo, mas também com outras áreas da vida), que são imediatistas ou atribuem exagerada importância à opinião dos outros precisam ser escutados com maior cuidado, pois podem estar transferindo uma problemática de origem psicológica para o campo do corpo. Nesses casos, a probabilidade de frustração das expectativas é altíssima. “Contudo, se os adultos conseguem perceber que há uma expectativa realista sobre a vida após o procedimento e que há um incômodo real e persistente com determinada característica física, há maior segurança em aprovar a realização da cirurgia”, afirma o psicólogo.

É, enfim, primordial escutar a opinião dos filhos, enfatiza o cirurgião Renato da Silva Freitas, presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica: “Não se deve levar em consideração somente a opinião dos pais, as crianças devem querer”, aponta.

Para o psicólogo Eduardo Vicenzi, há casos em que o “não” dos pais tem efeito protetivo, especialmente quando se pode verificar que a motivação não justifica sua realização. O contrário também pode ser prejudicial: pais que desconsideram o alto grau de sofrimento psíquico vivenciado pelo filho devido a alguma característica física que poderia ser alterada com procedimento médico. “Há crianças e adolescentes que possuem bom entendimento sobre o que desejam em relação ao próprio corpo e que conseguem construir expectativas realistas sobre o assunto”, observa o especialista. “E há os que não estão prontos para tomarem uma decisão sozinhos, pois não possuem maturidade para compreender as implicações e os resultados de uma cirurgia plástica.”

Com o apoio dos pais, quando tinha 16 anos, a professora Ana Cristina Freitas, hoje com 29, fez cirurgia de redução de mama, lipoaspiração e colocou siliconeno queixo. “Eu me sentia mal porque as pessoas conversavam comigo olhando para os meus seios”, conta Ana Cristina, que aproveitou para fazer os outros procedimentos. “Depois da cirurgia, minha autoestima melhorou bastante.”

Lipoaspiração é a cirurgia mais procurada entre adolescentes.

A partir de qual idade?

Alguns procedimentos podem ser feitos a partir de 5 anos,como é o caso da “orelha de abano”, segundo Renato da Silva Freitas, presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Em outros casos, deve-se aguardar o fim do crescimento ósseo, como na cirurgia plástica de nariz. Já em relação a próteses de silicone, o cirurgião plástico adverte: “É preciso esperar pelo menos o desenvolvimento mamário, que varia entre 15 e 18 anos”.

Tendência: bichectomia

Popular entre famosos e desejada pelos que querem afinar o rosto, consiste na remoção de um tecido gorduroso da face, denominado Bola de Bichat. Pela sua localização, explica Freitas, apresenta íntima relação com elementos importantes, como ramos terminais do nervo facial e vasos sanguíneos. Por isso, o cirurgião considera o procedimento delicado. “É o oposto do que está se fazendo”, critica sobre a prática “indiscriminada” que observa atualmente. “É indicado apenas para pacientes que têm o rosto muito redondo. Com a retirada, a tendência em longo prazo é o aspecto envelhecido”, avalia, lembrando que o contrário – inserir gordura – é feito para corrigir o envelhecimento na região.

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