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Estampas atemporais: origens, significados e evolução dos principais padrões da moda

Um mergulho nas origens, significados e caminhos pelo qual poá, xadrez, animal print, paisley e outras estampas se tornaram ícones do vestuário e dos tecidos

As estampas presentes no vestuário contemporâneo são resultado de longos processos históricos que envolvem técnicas artesanais, rotas comerciais, desenvolvimentos industriais e transformações culturais. Cada padrão reúne influências regionais distintas e camadas de significado acumuladas ao longo de séculos. Confira um panorama histórico dos principais tipos de estampas, suas origens documentadas, suas evoluções e o modo como foram incorporadas à moda em diferentes períodos.

Poá (polka dots)

O poá (polka dot em inglês) refere-se a pontos regulares sobre fundo liso. O motivo aparece em tecidos e cerâmicas por séculos, mas o nome moderno refere-se ao sucesso do ritmo de dança “polca” no século XIX, em que associações de época entre moda e música ajudaram a popularizar o termo.

(Foto: reprodução)

Na moda ocidental, o padrão ganhou força no início do século XX e tornou-se um símbolo sobretudo das décadas de 1930 a 1950, com designers e artistas (como Yayoi Kusama) e maisons que o reconduziram a diferentes estéticas ao longo do tempo. A historiografia registra tanto usos populares quanto apropriações comerciais e de alta-costura.

Simples e versátil, o poá transitou entre roupa cotidiana, figurinos cinematográficos e alta-costura da realeza, mostrando como um motivo geométrico pode adquirir camadas simbólicas diferentes conforme o contexto.

Xadrez (tartan, plaid, gingham e variações)

O xadrez que é associado imediatamente à Escócia — o tartan — é um tecido de lã com padrões (setts) de linhas cruzadas. Embora padrões de trama cruzada existam em muitas culturas, o tartan desenvolveu-se historicamente na Escócia e passou a funcionar, do século XVII/XVIII em diante, como elemento de identificação regional ou de clã, posteriormente também como símbolo nacional.

(Foto: reprodução)

O tartan sofreu proibições e revivals: após o banimento do traje tradicional no século XVIII, o padrão foi recuperado como emblema cultural no século XIX. Pesquisas arqueológicas e achados têxteis (como o “Glen Affric tartan”) confirmam exemplos antigos preservados.

O chamado gingham tem trajetória distinta. Originalmente importado à Europa como um tecido listrado no século XVII e, posteriormente, passou a ser produzido em padrões quadriculados (checks) na Inglaterra e em outros centros industriais. Gingham passou a ser associado tanto ao vestuário utilitário quanto a imagens populares (ex.: aventais, toalhas) e foi reutilizado por designers em contextos fashion diversos.

O “xadrez” não é uma única história, mas uma família de soluções têxteis que, conforme geografia e tecnologia, virou símbolo de clã, de trabalho, de moda ou de associação regional.

Animal print

O uso de peles e estampas que imitam animais remonta às sociedades pré-históricas, em que peles serviam a funções práticas e simbólicas (status, ritual). Com o desenvolvimento da moda europeia e das trocas coloniais, peles e depois estampas que as evocavam tornaram-se sinais de prestígio (mantos de pele, tapetes) e, mais tarde, motivos estampados em tecidos.

(Foto: reprodução)

Do final do século XIX ao XX, o animal print foi reciclado pela alta-costura e pelo prêt-à-porter como linguagem de glamour, exotismo ou subversão — ora associado à aristocracia, ora a estéticas selvagens e emancipadoras na cultura pop. É uma estampa que sempre traz debates sobre apropriação, consumo e representação do “exótico”.

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Paisley (boteh)

Conhecida em inglês como paisley e na tradição persa como boteh ou buta, a lágrima curvada com “gancho” tem raízes antigas na arte têxtil do Irã/Pérsia. Entre os séculos XVIII e XIX, xales e tecidos de Cashmere importados da Índia (Kashmir) tornaram-se preciosos na Europa; fábricas britânicas (na cidade de Paisley, Escócia) passaram então a reproduzir o padrão em larga escala, emprestando o nome da cidade à estampa no Ocidente.

(Foto: reprodução)

A iconografia do boteh tem possíveis significados simbólicos (árvore de vida, cipreste estilizado) e percorre desde regalias imperiais até a estética hippie e a moda contemporânea.

Listras

As listras têm usos funcionais (uniformes, fardas, roupas marítimas) e simbólicos. Um exemplo paradigmático é a Breton stripe — a camiseta listrada dos marinheiros bretonos que inspirou Coco Chanel, transformando um uniforme prático em peça-símbolo da moda moderna. 

(Foto: reprodução)

Floral e chintz

Estampas florais decorativas jorram de tradições manuais de impressão à madeira e tingimento. Um capítulo importante é o chintz indiano — tecidos de algodão pintados com blocos de madeira e corantes naturais, exportados massivamente à Europa entre os séculos XVII e XVIII. A popularidade do chintz chegou a ameaçar indústrias europeias, levando à regulamentação e a proibições temporárias de importação em certos períodos; ainda assim, o motivo floral permaneceu presente em mobiliário e moda, migrando entre consumo popular e luxo.

(Foto: reprodução)

Houndstooth (pied-de-poule)

O houndstooth (em francês pied-de-poule) é um padrão de pequena escala, geométrico, tradicionalmente tecido em lã. Suas raízes são rurais/bucólicas, ligado a tecidos de proteção para pastores, e só mais tarde foi apropriado por alfaiataria e moda urbana. A adoção por membros da aristocracia e, depois, por estilistas, levou o motivo a circular entre o conservador e o couture.

(Foto: divulgação)

Ikat

Ikat é uma técnica de tingimento-resistida aplicada aos fios antes da tecelagem, produzindo padrões com uma característica “borrada” por causa do alinhamento dos fios. Tradicional de regiões do Sudeste Asiático (e presente em muitas culturas), o ikat tem formas complexas (warp, weft, double ikat) e foi, historicamente, associado a alto valor social em várias tradições por ser trabalhoso e tecnicamente exigente. Hoje, o ikat é reinterpretado tanto na moda quanto em design de interiores.

(Foto: reprodução)

*Sob supervisão da jornalista Brenda Iung.