FASHION

Ecoera no holofote do tapete vermelho e na vida

Celebridades levantaram a bandeira da sustentabilidade em um dos eventos mais importantes do cinema norte americano

A premiação mais relevante do cinema norte americano, o Oscar, pode não ter alcançado os números mais esperados neste ano. Aliás, a cerimônia bateu recorde de pior audiência dos últimos anos com 23,6 milhões de espectadores, uma queda de 20,6% em relação ao ano passado, de acordo com a revista Variety. Mas se por um lado esse número não superou as expectativas, por outro ele acabou sendo um grande holofote para o movimento da ecoera e da moda sustentável — que mostrou, temporada após temporada, que veio para ficar.

“Eu prefiro acreditar que não é uma tendência e que sustentabilidade veio para ficar, até porque hoje ela é uma questão de existência”, afirma Eloisa Artuso, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e estrategista da agência Un Moda Sustentável. Isso porque o impacto que a produção desenfreada gera no planeta já deixou há tempo de estar em níveis aceitáveis — inclusive no mundo da moda: hoje consome-se 400% mais roupas do que há 20 anos. O descarte têxtil deste segmento é ainda mais impactante, com mais de 92 milhões de toneladas de lixo, segundo o rela-tório do Pulse of Fashion Industry.

O movimento da moda consciente ganha mais adeptos a cada dia e o red carpet do Oscar deste ano, que sempre traz novidades e coleções do momento, deve impulsionar ainda mais seguidores. Diversas celebridades levantaram a bandeira da sustentabilidade na premiação com looks de menor impacto, atraindo, pelo menos, a audiência de 23,6 milhões de olhares curiosos e reflexões para o presente-futuro fashion.

Para Eloisa, que também é professora de Design Sustentável no Istituto Europeo di Design (IED), “as celebridades que estão nos holofotes influenciam o comportamento de milhares de pessoas ao redor do mundo. Essa pauta, nesse tipo de evento, acaba influenciando o comportamento não só do consumidor, mas das marcas que vestem essas pessoas e das marcas que querem ser como estas.”

“Acreditamos que o sistema da moda, tal como está hoje, superpoluente e exploratório, precisa ser regenerado, não sustentável.”

O “green carpet” foi muito bem representado: Joaquin Phoenix vestiu o mesmo smoking Stella McCartney durante toda a temporada de premiações, enquanto Margot Robbie vestiu um belíssimo vintage Chanel de 1994. Saoirse Ronan, por outro lado, vestiu um Gucci que ressignificou a peça usada por ela na premiação BAFTA, agora de silhueta dramática e com babados. Outros famosos como Jane Fonda, Timothée Chalamet e Léa Seydoux também apostaram “verde” durante o Oscar.

Por falar em ressignificação, os diretores criativos Yasmin Lapolli e Lucas Bettin, da Transmuta, uma marca fashion de upcycling curitibana, acreditam que, uma iniciativa mais interessante do que as peças que foram criadas a partir de uma origem sustentável, é a utilização de peças já disponíveis. “No mundo a gente estima que existam roupas para a população se vestir durante os próximos 200 anos. A indústria da moda é a segunda que mais polui no mundo, então precisamos olhar para essas iniciativas para que o planeta sofra cada vez menos e se regenere”, explicam. Além disso, para eles, o termo “moda sustentável” é passado. A moda da vez é regenerativa: “acreditamos que o sistema da moda, tal como está hoje, super poluente e exploratório, precisa ser regenerado, não sustentável.”

Ecoera para além do red carpet

O tapete vermelho das premiações, sempre tão comerciais, recebem quase a mesma atenção e importância quanto as cerimônias por si só. Afinal, todos os olhos, sejam do mercado ou dos telespectadores que se rendem ao sonho do glamour, se voltam aos looks fantasiosos. “Uma vez sensibilizados com o tema, muito mais do que vestirem-se de forma responsável para um grande evento, essas estrelas podem fazer escolhas mais conscientes e repensar o próprio guarda-roupas”, reitera Eloisa.

Os diretores da Transmuta asseguram que essa ação ecofriendly não se resume ao red carpet, mas dele para a vida. Caso contrário, o propósito acaba se perdendo e virando o greenwashing, uma ferramenta para gerar mídia. “É muito complexo dizer que uma marca é sustentável hoje em dia, porque a produção de uma roupa engloba vários processos, pessoas e aspectos. Só uma matéria prima de cunho responsável não garante que uma roupa é sustentável. Tem que ver se os costureiros estão sendo bem remunerados, se a extração do material e os aviamentos são coerentes com o sistema, são muitas variáveis”, explicam Lucas e Yasmin.

Por isso, os especialistas apontam a importância de conhecer as marcas que consumimos, buscar informações e pesquisar a transparência de cada uma, a fim de que se consiga fazer compras mais responsáveis e de menor impacto. Assim é possível aliar moda ao consumo consciente. Essa atitude, para Elo Artuso, “é pela nossa própria sobrevivência.”

“(…) sustentabilidade veio para ficar, até porque hoje ela é uma questão de existência.”

*Matéria originalmente publicada na edição 234 da revista TOPVIEW.

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