FASHION

Decorar-se

O diálogo entre a moda e a decoração faz parte da sociedade desde muito antes de entendermos a necessidade dele

O corpo é um espaço, assim como a casa. A ideia de arquitetar ou conceber algo detalhadamente nos leva para dentro, para a elaboração de um projeto mais minucioso, que, depois da estrutura pronta, é do interior que iremos cuidar.

São dois diálogos possíveis, o da moda com a arquitetura e o da moda com a decoração. A relação entre moda e arquitetura é intensa. Muito antes do conceito de moda existir, as civilizações antigas já estabeleciam uma relação entre o têxtil e o seu planejamento sobre o corpo. Exemplo que sentimos com as linhas geométricas do Egito e com as colunas jônicas dos gregos. Está tudo no que depois viria a se chamar “roupa”. É quando nasce a moda, no período gótico da Idade Média, que se inicia o processo de elaboração da forma, ou seja, revestir o que está dentro, decorar. Com as evoluções entre o Renascimento, o Barroco e o Rococó, a moda revela seu esplendor, sendo o ato de se decorar com roupas e acessórios uma questão de status.

Após muitos séculos de exageros, polarizações, reflexões e ponderações por parte do comportamento humano com relação ao decorar-se/adornar-se, conforme entramos no século XIX e XX, surgem estilos de decoração mais definidos, modulados pela arte, pelas estéticas do espírito do tempo e pelas filosofias de vida que se baseiam naquilo que hoje faz ou não sentido para cada pessoa. Nesse ponto, no século XXI, o decorar-se como olhar pra dentro de si e preencher a alma, estendendo para a roupa, para a casa, para o convívio que em breve retornará, é uma manifestação de afeto, de um detalhe a mais que tocará o outro – e exatamente por ser um detalhe, torna-se alvo de contemplação.

Isso pode acontecer com um botão na sua roupa que encontra a sua casa ou com um fibulae (broche) que decora seu lenço. Sempre podemos nos decorar para despertar a sensação de bem-estar.

É como eu sinto a decoração hoje, aplicada em todas as áreas. E cabe aqui ressaltar: de minimalista a barroca, que seja sincera, que faça sentido, que seja para si ou para o outro, sem preconceitos.

Hoje, a moda nos dá de bandeja possibilidades para o decorar. Estabeleça seus critérios a partir dos seus valores: ecológicos, sustentáveis, identitários, culturais, essencialistas, etc. E comece por si, com roupas; depois, decore seu habitat. Isso traz profundidade e o sentimento de belo (o que é diferente de padrão de beleza).

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*Coluna originalmente publicada na edição #252 da revista TOPVIEW.

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