Cresce a busca por cosméticos naturais

por Érika Busani

Se você pudesse comprar um cosmético feito com produtos naturais, orgânicos e que não faz testes em animais, ao mesmo preço e com bom resultado, optaria por ele no lugar de um sintético?

Cada vez mais pessoas têm respondido sim a essas perguntas no seu dia a dia. Mais que isso: muitas exigem que seus produtos sigam essas diretrizes.

Conforme os últimos dados disponíveis da consultoria britânica Organic Monitor, o mercado mundial de cosméticos orgânicos e naturais certificados vem crescendo cerca de 7% ao ano e atingiu US$ 9,7 bilhões em 2012. Os países mais fortes são Estados Unidos, Alemanha e França.

Uma das explicações para esse aumento é o próprio consumidor. “A escolha por produtos orgânicos e veganismo não é apenas moda, mas uma tendência ditada pelo consumidor”, afirma Clélia Angelon, presidente e fundadora da Surya Brasil. A marca, mais conhecida pela coloração de cabelos henna, ainda contém em alguns de seus produtos ingredientes sintéticos, mas luta para tornar tudo natural e ainda mais: orgânico e vegano.

O desejo demanda investimento. Primeiro em pesquisa, para substituir os sintéticos com performance. A própria Surya tem pesquisadores trabalhando na Índia – de onde vem a henna –, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no laboratório brasileiro, que fica na fábrica em São Paulo.

Informação
Outro investimento necessário é na conscientização do consumidor que ainda não foi arrebatado pela tendência do natural. “A maioria das pessoas não entende a diferença entre cosméticos convencionais e orgânicos. Antes da venda é preciso levar essa informação ao cliente, conscientizar, para depois mostrar as opções do mercado”, afirma Aline C. Vieira, fundadora da Flor de Magnólia, loja de cosméticos orgânicos, naturais e moda sustentável.

Aline explica que há uma crença de que os cosméticos orgânicos não têm eficácia, duram pouco e são mais caros. “Não é verdade. Temos tecnologia empregada na fabricação dos cosméticos orgânicos, o que os torna as vezes até mais eficientes que os cosméticos convencionais.”

Como exemplo, Clélia cita os xampus com lauril sulfato. “Faz muita espuma, mas não é o que limpa. O consumidor associou a espuma à limpeza. Um produto natural ou orgânico não faz espuma, mas limpa e, principalmente, nutre”, compara.

“Compostos naturais são mais aceitos e absorvidos pela pele, levando a uma nutrição e hidratação eficiente e douradora. Os produtos naturais realmente tratam a pele e os cabelos, hidratam”, completa Aline.

Ainda há um longo caminho pela frente. O consumidor que deseja usar esse tipo de produto – seja natural, orgânico, cruelty free, vegano ou tudo ao mesmo tempo – precisa certificar-se de que a empresa do que está consumindo.

Samyra Cunha, uma das fundadoras da Veggie Box – empresa que vende cosméticos orgânicos, veganos e cruelty free por assinatura – afirma que há empresas que atuam de má-fé. Mas também as que precisam de orientação. “Nosso papel como startup também é alertar. Recentemente corrigimos o processo de fabricação de um produto que era vendido como vegano, porém tinha componente de origem animal. Nós intervimos, dialogamos com a empresa e a questão foi corrigida, com alteração do processo de fabricação e rótulo do produto.”

Uma das maneiras de ter certeza quanto ao produto que você deseja é a certificação. Selos como do IBD e Ecocert garantem que o processo de fabricação foi fiscalizado pelas certificadoras.

Mas há um problema: não são todas as marcas que conseguem investir na certificação. “Ela é justamente uma garantia do mercado sobre a origem do produto, porém algumas marcas não têm como subsidiar seu valor elevado”, diz Samyra.

Aí entra o papel de empresas que revendem os produtos: a curadoria. “Nós analisamos profundamente o processo de fabricação dos produtos, visitando alguns fornecedores e conhecendo melhor seus processos de produção”, conta Samyra, da Veggie Box.

Aline, da Flor de Magnólia, também faz esse trabalho. “Eu escolho pessoalmente todos os produtos. Uso e testo em mim um a um. Verifico a composição, acompanho a empresa para ver se está alinhada com nossos valores de sustentabilidade.”

É um mercado em crescimento, mas que ainda tem muito a resolver. E a melhor forma para que empresas se adaptem às expectativas do consumidor é o seu olho atento e sua exigência. Afinal, temos muito a ganhar. “Ao usar esses produtos você também incentiva um comércio justo, sustentável e mais saudável para as pessoas, meio ambiente e animais”, lembra Aline.

REGRAS DA CERTIFICAÇÃO
A certificação de cosméticos orgânicos não está, no momento, regulada por leis nacionais. A Lei 10.831/2003 que regula a cadeia produtiva e de comercialização de produtos orgânicos no território brasileiro entrou em vigor em 1º de janeiro de 2011.  Porém, nenhuma normativa específica sobre cosméticos orgânicos foi publicada até o momento.

A certificadora Ecocert Brasil, por exemplo, trabalha com referenciais privados, registrados no Ministério da Indústria e Comércio da França. “São regras reconhecidas e aceitas pelos consumidores em mais de 80 países, em especial na Europa e Estados Unidos”, afirma Priscila Hauffe, responsável pelo processo de certificação de cosméticos orgânicos e naturais da Ecocert.

Em resumo a norma da empresa tem as seguintes condições para certificar um produto:

Cosmético natural
5% do total dos ingredientes devem ser de origem orgânica (considerando a água na contagem)
95% dos ingredientes precisam ser de origem natural
5% do total dos ingredientes podem ser de origem sintética desde que respeitem a lista de ingredientes sintéticos permitidos
50% dos ingredientes de origem vegetal devem ser certificados como orgânico

Cosmético orgânico
10% do total dos ingredientes devem ser de origem orgânica (considerando a água na contagem)
95% dos ingredientes precisam ser de origem natural
5% do total dos ingredientes podem ser de origem sintética desde que respeitem a lista de ingredientes sintéticos permitidos
95% dos ingredientes de origem vegetal devem ser certificados como orgânico

SEM ANIMAIS

Cruelty free
Os ingredientes e produtos finais não podem ser testados em animais.

Veganos
Cosméticos que não possuem ingredientes de origem animal. Aí estão incluídos mel, cera de abelha, leite.

SERVIÇO

Flor de Magnólia
www.flordemagnolia.com.br

Lush
www.lush.com.br

Surya
Corner na Casa Costa Cosméticos
Marechal Deodoro, 40, Centro
(41) 3016-8349

Veggie Box
veggiebox.com.br