FASHION

As mãos que fazem a moda

Como costureiras terceirizadas – a maioria mulheres bolivianas – enfrentam a pandemia da Covid-19 em condições precárias e exploratórias

Acordar cedo, levar os filhos para a escola, começar a costurar às 7h15 e só desligar as máquinas 15 horas mais
tarde. Essa era a rotina da boliviana Fernanda* e de seu marido, ambos costureiros autônomos na cidade de São Paulo. Depois que a crise da Covid-19 estourou no Brasil, em março, isso mudou.

Eles e as máquinas de costura continuam em casa, mas os pedidos pararam de chegar. Surgiram algumas demandas de máscaras, mas muito breves e esporádicas. Há duas semanas estão sem nada. A família faz parte da maior comunidade de estrangeiros residindo em São Paulo, a de bolivianos. São 75 mil pessoas, de acordo com dados da Polícia Federal e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). O casal integra, também, a grande parcela de bolivianos que trabalha na indústria da confecção de roupas na capital paulista.

“Hoje, só na capital paulista, a gente tem uma estimativa de mais de 13 mil oficinas de costura formadas por imigrantes. A grande maioria, latino-americanos, e, dentro disso, a grande maioria, bolivianos. Elas são pequenas oficinas, muitas vezes em casa”, contextualiza Cristina Filizzola, coordenadora do Programa Tecendo Sonhos, da ONG Aliança Empreendedora. O programa promove relações dignas de trabalho na cadeia têxtil com imigrantes latino-americanos por meio do empreendedorismo.

Por mais que as jornadas de trabalho ultrapassassem as 15 horas diárias, Fernanda e o marido recebiam dinheiro suficiente apenas para pagar o aluguel e suprir as necessidades básicas para os quatro filhos. E não sobrava nada para uma poupança. Agora, não têm nenhum rendimento. “Pegou todas nós [costureiras bolivianas] de surpresa. O serviço que fazíamos era para cada mês, não temos dinheiro guardado”, conta Fernanda. “No domingo, conseguimos uma cesta básica, então estamos felizes, porque temos comida para essa semana.” A doação foi feita pelo Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (Cemir), do qual Fernanda faz parte.

A peruana Soledad Requena, que é assessora de gênero da organização, explica que a maioria das costureiras consegue renda apenas para sobreviver. Isso porque são terceirizadas e recebem pagamento por peça, a um valor muito baixo: entre R$ 0,80 a R$ 5 por peça de roupa. É o caso da costureira boliviana Lidia Garcia. Ela, seu marido e uma das filhas trabalham das 7h30 às 21h nas máquinas de costura. Em um mês com boa demanda e trabalho até nos fins de semana, conseguem costurar 300 peças – o que rende R$ 1 mil para cada. O valor é insuficiente para pagar as despesas das 10 pessoas que vivem na casa.

“Muita coisa para costurar, demora muito. Tem que fazer de qualquer jeito para entregar naquela data, porque, se não entregar na data, eles não pagam – ou pagam só muito tempo depois. E nem sempre pagam o valor combinado, porque dizem que venderam muito barato”, conta.

São três fases nessa pirâmide. A marca tem um pátio têxtil que não dá conta da demanda. Para supri-la, contrata uma outra empresa para confeccionar o produto a um preço fechado – ou seja, há a terceirização. Por sua vez, a empresa terceirizada procura a mão de obra para o trabalho – quando ocorre o que chamam de quarteirização.

“A maioria das indústrias tem o selo de compliance [política de ética da empresa em suas ações e contratos].O que acontece é que não vedam que essa indústria ‘quarteirize’. E nessa quarteirização é que acabam contratando mão de obra considerada escrava contemporânea. Aí chegam a pagar R$ 0,20 por peça de roupa”, explica Carmem Nicolodi, presidente da Comissão de Assuntos Culturais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), braço que discute a área do Direito da Moda.

A demanda por máscaras

Quando começaram a chegar os pedidos por máscaras faciais, com alta procura por conta da Covid-19, as costureiras sentiram que seria uma nova fonte de renda. O que pareceu ser uma oportunidade de sobrevivência mostrou-se outra forma de exploração. O problema é que o pagamento por cada máscara é baixo e o trabalho demorado, então, não gera uma boa renda para elas. Chegam a receber R$ 0,15 por cada unidade. “É muito trabalho e não sobra nada. Infelizmente, reproduz-se um esquema de exploração. Tivemos um pessoal no Brás que ficou superfeliz, porque está recebendo R$ 1 por máscara. Foi a única exceção”, comenta o padre Paolo Parise, um dos diretores da Missão Paz, congregação dentro da Igreja Nossa Senhora da Paz que auxilia os imigrantes em São Paulo.

Lidia chegou a costurar máscaras, mas viu que o valor pago não valia a pena pelo tempo e pela complexidade do trabalho. “Não compensa, pagam muito pouco. Pagam de R$ 0,10 a R$ 0,15 cada máscara. Temos que
fazer de 500 a 1.000 peças por dia para poder ganhar algo”, analisa.

O Auxílio Emergencial do Governo Federal, que poderia ajudá-las nesse período, não foi aprovado para todas. Ou não condiz com as necessidades da casa. A família de Lidia, com 10 integrantes, sobrevive com apenas R$ 600, recebido pelo único auxílio que conseguiram. Isso foi possível porque a costureira, ao longo dos anos, conseguiu regularizar os documentos de todos – exceto os da mãe, que ela trouxe recentemente da Bolívia. “Aqui no bairro, temos muitas famílias que não estão conseguindo o Auxílio porque não têm documento – e nem estão recebendo cestas de alimentação”, diz Lidia. Das mulheres que são acompanhadas pelo Cemir, Soledad estima que 35% conseguiram se cadastrar.

Costureiras chegam a receber entre R$ 0,10 e R$ 0,15 por máscara produzida.

O futebol era um dos únicos momentos de lazer das costureiras. Agora, com a pandemia, mantêm o contato apenas pelo WhatsApp. (Foto: Soledad Requena).

A questão da regularização migratória tem impactado as famílias nesse período, por impedir que consigam receber o Auxílio do Governo. “Nós não conseguimos inserir todas no Auxílio Emergencial, por diversos motivos. Um deles é que a documentação não está em dia. A maioria tem CPF, mas o problema é o RNM [Registro Nacional Migratório]. Com a tramitação da Polícia Federal, existe esta burocracia de agendamento eletrônico. O agendamento eletrônico já estava atrasado – e agora, com a pandemia, simplesmente ficou fora do ar”, explica Rosana Camacho, presidente da Associação de Residentes Bolivianos (ADRB).

Organizações estão reforçando a ajuda nesse período. O Cemir, assim como a Missão Paz, fez uma campanha para atender a todos que tivessem dúvidas quanto ao processo de inscrição para o Auxílio. Durante essa época de pandemia, o centro organizou, também, uma campanha de emergência, a Mulheres Imigrantes em Pé pela Vida, para compra de cestas de alimentação e produtos de higiene, que serão destinados às costureiras.

Os casos dentro das oficinas Rosana perdeu as contas da quantidade de infectados depois que o número de pessoas mortas por Covid-19 na comunidade boliviana passou de 10. Conta que existem oficinas que estão completamente contaminadas. O risco de proliferação aumenta, já que muitas famílias convivem em um espaço pequeno, que dividem entre o trabalho e a moradia. Outro fator assusta a comunidade: os índices de tuberculose entre eles. Na dissertação Equidade em Saúde: o Caso da Tuberculose na Comunidade de Bolivianos no Município de São Paulo, Vanessa Nogueira Martinez expõe que as “as condições de trabalho as quais os imigrantes estão expostos na indústria de confecção são degradantes, com carga horária abusiva em um ambiente adverso – geralmente, porões com pouca luminosidade e ventilação, aumentando o risco de doenças respiratórias”. Ela explica que “a associação entre a tuberculose e a pobreza ocorre devido à aglomeração, a habitações mal ventiladas, à desnutrição, ao tabagismo, ao estresse e à privação social”. É esse o grande desafio para o controle da tuberculose nessas comunidades.

A pesquisa também mostra que o tratamento é mais difícil, porque essa população encontra, com maior frequência, dificuldade no acesso a cuidados de saúde e medicamentos, além de menos adesão às indicações médicas. A conclusão, em dados, é que, no período entre janeiro de 1998 e dezembro de 2008, os casos da doença diminuíram 45% entre brasileiros e aumentaram 250% entre bolivianos, em São Paulo. “Essa doença [tuberculose] é um problema sanitário bem sério dentro da comunidade [de bolivianos]. Então faz com que o grupo se torne mais vulnerável. Eles são um grupo de risco, independentemente da idade e do gênero”, ressalta Rosana.

O acesso à informação também tem sido uma barreira na contenção do coronavírus. “Muitas pessoas não têm o conhecimento da magnitude da pandemia. Com essa cultura de fake news, todo mundo fica duvidando e desafiando a sorte. Infelizmente, é a triste realidade que todos nós vivemos e o nosso presidente também ajuda nisso”, lamenta Rosana. “São muitas situações em que a gente fica sem saber como auxiliar. Podemos auxiliar por meio de solidariedade e informação. Mas é um quadro assustador.”

Muitas famílias estão tentando voltar para a Bolívia, mas o país fechou as fronteiras para conter a disseminação
do coronavírus. Outras estão apenas esperando a pandemia passar para fazê-lo. “Existem muitas pessoas que estão paradas na fronteira e não conseguem entrar [no país]. Existem muitos bolivianos que ficaram no aeroporto porque estavam fazendo ponte em São Paulo e não conseguiram pegar o outro voo”, afirma Rosana.

“Podemos auxiliar por meio de solidariedade e informação. Mas é um quadro assustador.” – Rosana

Além do visível

Lidia e Fernanda são líderes comunitárias do Cemir em seus bairros. Isso é motivo de orgulho e realização para elas: poder usar a própria experiência para ajudar outras bolivianas que chegaram à capital paulista. “Foi difícil aprender a falar. Hoje, consigo me comunicar e posso ajudar quem precisa. Passei por muitas coisas e não quero que outras pessoas passem pelas mesmas situações”, compartilha Lidia.

Durante a pandemia, o aspecto emocional fica mais evidente. Devido ao isolamento social, as poucas atividades de lazer e acolhimento que as mulheres tinham pararam. O Cemir promovia rodas de conversa warmis (a palavra, em quíchua, significa “mulher”), em que elas conversavam sobre suas situações de trabalho nas oficinas de confecção. Agora, tentam manter o contato por WhatsApp e dividir entre elas as demandas que chegam. “[A pandemia] psicologicamente afeta muito, dói a cabeça, estamos muito preocupadas. É muito triste ouvir o relato das outras mães, porque há famílias que me dizem que estão comendo apenas uma vez ao dia, porque vai acabar a comida”, relata Fernanda. O futebol do fim de semana era o momento de desestressar – para muitas, o único momento de lazer.

A igreja é outro lugar importante. O padre Paolo viu crescer a participação da população nas missas quando a cerimônia começou a ser transmitida em espanhol e ele passou a rezar pelos doentes e mortos pela Covid-19.

“É muito triste ouvir o relato das outras mães, porque têm famílias que me dizem que estão comendo apenas uma vez ao dia, porque vai acabar a comida,” – Fernanda, costureira

Costurando um sonho

As histórias de como os bolivianos chegam até as máquinas de costura em São Paulo são variadas. Mas há algumas características que aparecem bastante: buscam um sonho, acreditam que vão passar um tempo para juntar dinheiro, querem oferecer condições de vida melhores para a família. “O pessoal, às vezes, vem com aquela ilusão de que vai fazer o pé-de-meia em um, dois, três anos, mas isso se prorroga por muitos anos. Acabam ficando, fazendo família aqui, criando raízes. Sempre sob a pressão desse sonho que não se concretiza”, percebe Rosana.

Mas Soledad nota que, hoje, imigrantes da América Latina chegam ao Brasil com mais conhecimento. “Antes, eles vinham com muito engano, falavam que iam ganhar bem e em dólar, já tinham os documentos… isso diminuiu bastante. [Hoje] eles já têm mecanismos desde a Bolívia, têm amizades, têm contatos.” E é essa uma das razões para ingressarem na costura. As conexões já estão criadas desde o país de origem. Chegando aqui, há a facilidade de conseguir pedidos mesmo sem ter a documentação e a proximidade com conterrâneos que já estão trabalhando na área.

Uma realidade das mulheres

Como Sidney A. da Silva explica, no livro Imigração Boliviana no Brasil (Rosana Baeninger), a partir dos anos 1980, muitos imigrantes, em sua maioria jovens e solteiros, vieram para o país atraídos pelas promessas de bons salários feitas por empregadores coreanos, bolivianos e brasileiros da indústria de confecção. Uma década mais tarde, em 1990, a população boliviana se concentrava, em especial, em bairros centrais da cidade, como Bom Retiro, Brás e Pari – onde ficam a produção e a comercialização das confecções. Muitos vendiam seus produtos na Feirinha da Madrugada, no Brás. Época, também, de contradições, por conta do processo de terceirização que o setor passou.

“Elas estão vivendo a crise da pandemia, a ansiedade e o estresse de colocar comida na panela, e ainda ter que aguentar um agressor.” – Soledad

Ao longo dos anos seguintes, com a crescente demanda das oficinas de costura, a presença boliviana aumentou e se tornou mais feminina. “Mudou o perfil do imigrante. Antes era o homem que vinha na frente e logo vinha a
família. De uns cinco anos para cá, mudou esse perfil. Agora se fala na feminização da migração. A maior parcela vindo é de mulheres, com os filhos, e, depois, o marido”, percebe Soledad. Isso segue uma característica mundial da indústria de confecção. Estima-se que, no mundo, aproximadamente 80% dos trabalhadores do vestuário são mulheres, segundo informações do The World Bank. As mulheres representam 71% das pessoas presas na chamada “escravidão moderna” e o vestuário é a segunda categoria de produtos em maior risco, segundo a Walk Free, parte da organização Minderoo Foundation, que produz o Global Slavery Index.

No Brasil, são 1,5 milhão de empregados diretos, dos quais 75% são mulheres. Se adicionarmos os indiretos e o tefeito renda, a indústria reúne 8 milhões de pessoas. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), de 2018.

O recorte de gênero explicita questões muito particulares às mulheres, como a violência doméstica e psicológica. É aí que atua o Cemir, com o objetivo de promover o empoderamento dos direitos das mulheres migrantes que moram na cidade de São Paulo. São várias frentes: rodas de conversa sobre trabalho, combate à violência doméstica, direito sexual e reprodutivo, já que elas não conseguem dialogar com profissionais de saúde, além de discutir o direito da educação dos filhos.

A violência doméstica e sexual é um problema recorrente. Soledad explica que o machismo boliviano ainda é muito forte e as mulheres temem denunciar os agressores. Em meio à crise do coronavírus, há o agravante de não saberem o que vai acontecer com o marido, caso denunciem. “Tem toda uma lógica de pressão de grupo social, pressão da própria família. Elas estão vivendo a crise da pandemia, a ansiedade e o estresse de colocar comida na panela e ainda têm que aguentar um agressor”, lamenta Soledad.

As rodas de conversa e essa união entre as mulheres geram um alento. “É um espaço no qual elas podem desabafar, compartilhar experiências, tristezas e dúvidas. Temos estratégias de temas e conversas para trabalharmos. Já falamos sobre ferramentas para sair do círculo da violência e várias participantes pensaram em alternativas. O poder público tem muito discurso, mas ainda é muito ineficiente na vida real”, conta.

Uma das ferramentas usadas é a arpillera, uma técnica têxtil que facilita a expressão dos sentimentos. “Elas vão desenhando, por meio dos materiais, e construindo sua história, a maneira como se sentiram em situações de violência, quando foram agredidas. Depois, criam um painel grande com algumas possibilidades que elas poderiam colocar em prática para sair do círculo de violência”, descreve Soledad.

“Quem seria o melhor fiscal? Todos nós. Não consumindo aquele produto que a gente não sabe qual é a origem.” – Carmem

O trabalho das ONGs

Na prática, a ajuda vem de organizações independentes. Quando os casos envolvem trabalho análogo ao escravo em oficinas de costura, A Missão Paz acolhe as pessoas na Casa do Migrante. No espaço, que conta com 110 vagas, elas recebem refeições, têm quartos, sala de TV, sala para aprender português com voluntários, brinquedoteca para as crianças e lugar para lavar as roupas. Tudo acompanhado por psicólogos e assistentes sociais. “Temos também a intermediação de trabalho. As empresas vêm contratar. Então podemos oferecer novas saídas do mundo da costura, da exploração, para que a pessoa se insira em outro contexto laboral”, ressalta o diretor.

Manifestação pelos direitos das mulheres imigrantes. (Foto: Soledad Requena).

Segundo Paolo, há um desmonte progressivo das fiscalizações, que poderiam auxiliar na descoberta de trabalhadores em condições ilegais. De acordo com o artigo 149 do Código Penal Brasileiro, o trabalho análogo ao escravo é caracterizado por condições degradantes de trabalho, jornadas exaustivas, trabalho forçado e servidão por dívida.

“A gente colabora, trabalha junto, inclusive há casos andando agora. Eu chamo eles [fiscais] de heróis, porque, nos últimos anos, foram reduzidos os meios para atuar nas fiscalizações. Estão com poucos fiscais e muita demanda, então as ações diminuíram”, observa. Para Carmem, reside aí a importância da conscientização dos consumidores. “Quem seria o melhor fiscal? Todos nós. Não consumindo aquele produto que a gente não sabe qual é a origem”, resume a advogada.

“Os grandes grupos têm, sim, que se responsabilizar pela cadeia de fornecimento e garantir que as condições dos trabalhadores continuem dignas mesmo durante a pandemia.” – Eloisa

É hora de revolucionar a moda

Todo mês de abril, o universo da moda relembra o desabamento do Rana Plaza, em 2013, que marcou a história do setor. O prédio abrigava diversas confecções e, na queda, morreram mais de mil pessoas. Surgiu a partir desse episódio o Fashion Revolution, um movimento que pretende gerar discussões para construir uma indústria da moda mais ética e sustentável, em todas as etapas da cadeia produtiva. Entre as principais contribuições da iniciativa, está a cobrança por transparência.

É difícil responsabilizar uma marca por suas práticas se ela não tem transparência em seus processos. O Fashion Revolution incentiva pessoas a questionar as marcas sobre questões essenciais para transformar a indústria, com indagações como “quem fez suas roupas?” “Centenas postam fotos das peças e sinalizam as marcas para cobrar respostas. A exploração não está acontecendo só lá em Bangladesh, só lá na China, mas também debaixo do nosso nariz, no Brasil”, pontua Eloisa Artuso, designer e diretora educacional do Fashion Revolution no Brasil.

Nesse período, é importante questionar, também, o que os grandes grupos estão fazendo para auxiliar os trabalhadores diante da pandemia.” Eles têm, sim, que se responsabilizar pela cadeia de fornecimento e garantir
que as condições dos trabalhadores continuem dignas mesmo durante a pandemia, que estejam protegidos e seguros, que seus direitos sejam resguardados e que eles não percam seus empregos”, reforça Eloisa.

“A exploração não está acontecendo só lá em Bangladesh, só lá na China, mas também debaixo do nosso nariz, no Brasil.” – Eloisa

Os caminhos possíveis

Para Carmem Nicolodi, a moda vem passando por um ciclo de mudança há algum tempo. A pandemia apenas acelerou esse processo, o da moda com propósito. “Hoje, as pessoas estão mais conscientes. Precisamos parar de incentivar o consumo. O consumo tem que ser como na época das nossas mães: ter poucas roupas, mas peças muito boas, com tecidos que duravam”, sugere.

A chave é, também, retomar a indústria nacional, em que toda a matéria-prima e a mão de obra sejam brasileiras. “Não tem que fechar a indústria da moda, não temos que deixar de fomentá-la, muito pelo contrário. É [o momento de] valorizar a moda nacional e pensar no regionalismo. Isso é, inclusive, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, defende. Eloisa percebe a iniciativa surgindo entre os próprios consumidores: “Eles estão exigindo cada vez mais informação das marcas.” Para ela, essa pressão do consumidor é o que faz as marcas mudarem, quando o próprio cliente começa a reagir e questionar.

Obs.: A reportagem entrou em contato com o Ministério Público do Trabalho mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

*Fernanda preferiu manter o anonimato para conceder esta entrevista.

*Matéria originalmente publicada na edição #236 da revista TOPVIEW.

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