Coluna Paola Gulin, agosto de 2018
Saímos da Pousada de Lisboa da forma que eu mais gosto de conhecer uma cidade: a pé. Dois dos meus principais interesses em Portugal eram, como para muitos outros viajantes, a história e a gastronomia. Já tinha uma lista de restaurantes para ir, dos mais tradicionais aos mais badalados, mas a intenção era conhecê-los com uma pessoa local. Foi então que contratamos o Jorge, um guia que, além de dar uma aula de história, também nos encaminhou pelas tradições gastronômicas lisboetas. Logo na saída do hotel, demos de cara com a histórica Praça do Comércio – e, para vê-la de cima e admirar também o Rio Tejo, nada melhor do que subir no Arco da Rua Augusta. Lá de cima, já dava para ver onde as degustações teriam início: começamos, é claro, com um bolinho de bacalhau acompanhado de vinho do Porto na Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau. Logo ali ao lado, já demos um pulinho na tradicional Conserveira de Lisboa, que abriu em 1930 e parece ter parado no tempo. Suas prateleiras possuem uma infinidade de latinhas cheias de charme e conservas saborosas de peixes, como sardinhas, atum, anchovas e muito mais.
Em uma cidade cheia de ladeiras como essa, não tem nada melhor do que ter um guia que saiba todos os atalhos: entre ruelas, mirantes, elevadores e passagens disfarçadas, passamos por pontos históricos como a Sé de Lisboa até o Castelo de São Jorge, para ter uma vista ainda mais impressionante do que iríamos experimentar. A próxima degustação foi no simpático e minúsculo boteco A Ginjinha, que vende única e exclusivamente o tradicional licor de ginja. “Com ou sem?”, o atendente pergunta. “Você quer que o seu licor venha com a frutinha que lembra uma cereja (mas é muito mais azeda!)?”Mais animados depois do licor, a jornada nos levou até a tradicional Cervejaria Beira Gare, um ambiente bem informal e antigo, onde provamos a famosa bifana portuguesa – basicamente, um pão francês com carne de porco e alho, perfeito para comer com as mãos mesmo, acompanhado de um ótimo vinho verde. Caminhamos pelo charmoso bairro do Chiado, fizemos algumas compras na pequena Manteigaria Silva, uma mercearia cheia de personalidade que, há mais de 125 anos, oferece o melhor dos produtos tradicionais portugueses. O Chiado é também o bairro favorito do chef José Avillez, que tem alguns restaurantes por ali e valem a visita!
A maior recompensa pelas andanças viria logo em seguida: A Manteigaria serve deliciosos pastéis de nata e você pode acompanhar a produção com água na boca enquanto espera o seu sair do forno. Impossível comer um só! Não confunda com os pastéis de Belém: estes são produzidos exclusivamente na Fábrica de Pastéis de Belém, ao lado do Mosteiro dos Jerônimos, com uma receita patenteada e guardada há décadas em segredo. Depois das comilanças, deveríamos continuar andando pelas ladeiras, mas optamos por pegar um tradicional bondinho até o Bairro Alto, o mais boêmio de Lisboa. Terminamos essa jornada fugindo um pouco da tradição no bar Gin Lovers, no bairro Príncipe Real, que é, hoje, o mais trendy da cidade, repleto de restaurantes, lojas e bares para quem busca uma Lisboa revisitada. Ufa! Depois dessa caminhada e imersão nas tradições lisboetas, a visita aos restaurantes daquela lista inicial fez muito mais sentido. Com tantas opções, só será necessário voltar algumas vezes – o que não é nada mal, não é?!
*Coluna originalmente publicada na edição 214 da revista TOPVIEW.