Tapeçaria de velocidade e um mundo mais silencioso
A nossa fixação por motores só tem uma explicação: todos querem voar – a ver os praticantes de base jump do Yosemite, que corriam o risco de ser presos só para terem o prazer de flutuar numa queda de alguns segundos. E, se é assim, nada mais justo que darmos asas à imaginação. Sem trocadilhos. Tenho certeza de que nada nos faltaria se os engenheiros tivessem mais aulas de literatura, se os químicos lessem os manuais de bruxaria dos personagens de Harry Potter e se, claro, ficção científica fosse matéria obrigatória para quem trabalha em montadoras. Estamos falando de meios de transporte, mas ainda falta tanta estrada para que um cenário pontilhado por carros voadores vire realidade. Há outra opção mais simples: os tapetes voadores. Já imaginou unir o saber milenar dos tapeceiros à tecnologia das montadoras de automóveis? Andaríamos por aí trocando de estampa e não cores metalizadas. Barulho de motor, nunca mais. A minha implicância com as onomatopeias não quer guerra com ninguém: quem não é mais feliz ouvindo o som que escolheu? Não aboliríamos, óbvio, os alto-falantes. Podemos viver sem carros, mas não sem música. Nesse ponto, você pode argumentar que o minidisco voador dos Jetsons é mais funcional: permite trilha sonora privativa e, além de ejetar pessoas em cápsulas direto para os seus destinos, ainda vira uma maleta assim que chega à porta da empresa em que trabalha George (lembram da robô Rosie recitando autoritariamente esse nome?). Mas quem é que disse que os tapetes não podem virar rolinhos portáteis? Praticantes de yoga, ouvi um grito? Engarrafamentos, nunca mais. E logo, logo, a tecnologia daria conta de criar um campo magnético que restringisse o som do vizinho: cada um no seu tapete com a sua própria playlist.
Se o ponto é velocidade, a concorrência não tardaria. O hoverboard de Marty McFly seria apresentado como a última grande novidade do momento. Como resistir a um skate que passeia sobre qualquer superfície, atinge quase 110 km/h e brilha? Piruetas também são um atrativo, admito. Ainda assim, meu voto vai para o Aladim. Já imaginou se, próximos de atingir o solo, um tapete 4×4 m, com molas, aparecesse para abraçar os aventureiros que se jogam de penhascos? Tarefa impossível para um skate ou um carro voador. O tapete, esse veículo naturalmente conversível, completamente inviável em Curitiba, mas poético e nostálgico como as invenções de 2018 devem ser, é a solução para a mobilidade urbana. Sem ESTAR, sem estacionamento, sem mensalidade em marinas ou hangares. E, principalmente, sem exigência de asfaltos. Assim, quem sabe, possamos sobrevoar florestas. Talvez, por aqui, a gente só precise de um novo sistema de guarda-chuvas para fazer com que a engenhoca pegue. Professor Pardal, cadê você? Uma infância inteira a vapor por aqui me diz que os motores do futuro ainda não foram inventados. Bom para os escritores, que ainda têm o que imaginar.
*Matéria publicada originalmente na edição 215 da revista TOPVIEW.
Julie Fank (@juliefank) é escritora, professora e fundadora da Esc. Escola de Escrita. juliefank@gmail.com