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Talentos daqui: conheça 4 curitibanos por trás do Festival de Curitiba

Conheça quatro curitibanos por trás de um dos mais prestigiados festivais do Brasil

Pelo 23º ano seguido, a capital paranaense é palco do maior festival de teatro do Brasil. Com início marcado para o dia 25 de março, o Festival de Curitiba 2014 tem se revelado uma grande vitrine de talentos. Atores, diretores, produtores, iluminadores, sonoplastas… No total, são mais de 600 pessoas envolvidas diretamente com o evento – cujo trabalho é observado atentamente por uma plateia exigente, incluindo olheiros de grandes grupos e emissoras de TV. Tamanha visibilidade permite que muitos curitibanos conquistem um reconhecimento maior e até uma projeção nacional. Um dos casos mais recentes é o do ator curitibano Alexandre Nero, no ar hoje na novela Além do Horizonte, da Rede Globo. Visto por olheiros consecutivas vezes durante várias edições do festival, Nero é um bom exemplo de como o evento pode catapultar talentos locais para a cena artística nacional.

Segundo Leandro Knopfholz, criador e diretor do Festival de Curitiba, o evento pode ser traduzido como um grande encontro, um lugar onde a troca e o intercâmbio de experiências são constantes e, naturalmente, resulta em mil e uma possibilidades. Ainda assim, ele não enxerga o festival como um trampolim tão óbvio. “Tem esse potencial de revelar nossos talentos para o teatro nacional, mas não é a regra. É consequência de um processo e da experiência de cada um deles”, explica.

Até o dia 6 de abril entrarão em cena mais de 430 companhias, de 19 estados brasileiros e, excepcionalmente este ano, também de quatro países. A internacionalização do evento, segundo Knopfholz, é um processo inevitável – que deve crescer cada vez mais. Entre ruas, calçadões, parques e praças, além dos principais teatros da cidade, o evento ocupará 65 espaços. De tantos talentos que pavimentaram a estrada do sucesso a partir do Festival de Curitiba, apresentamos quatro rostos ainda pouco conhecidos, mas que merecem sair de trás das cortinas.

Muga Riesemberg

Produtora cultural

É ela quem, há oito anos, está por trás da mais famosa mostra de humor da cidade, o Risorama. Antes dos comediantes subirem ao palco, é essa curitibana que cuida de todos os detalhes, desde a liberação dos alvarás temporários até a organização das apresentações. Muga faz parte de um grupo essencial, mas pouco reconhecido: os talentos escondidos atrás das cortinas.

A função do festival como ponte para outras conquistas, segundo ela, é inegável. “O mais bacana, além da troca de contatos, é que as pessoas conhecem seu trabalho ali, já sendo executado. Essa é a melhor referência que alguém pode ter”, analisa. A dedicação ao Risorama chamou a atenção de nomes como a humorista Nany People e foi em grande parte por esse contato que, há um ano, a produtora se mudou para São Paulo.

Longe da capital paranaense, ela trabalha em grandes produções e para várias emissoras de televisão. Ainda assim, ter acompanhado a evolução do humor no Brasil e o amadurecimento dos próprios humoristas, segundo Muga, foi sem dúvida o melhor prêmio proporcionado pelo Festival de Curitiba. “Conheci Fábio Porchat, Danilo Gentili e Dani Calabresa quando ninguém os conhecia. Ver onde eles estão hoje, em grande parte pela visibilidade do Risorama, é incrível.”

Psicóloga por formação, ela chegou a trabalhar em um manicômio, mas largou a função exaustiva para se arriscar na publicidade. Durante o trabalho em uma agência, descobriu que produção é isso, fazer tudo acontecer, e se apaixonou. O prazer em trabalhar durante o festival faz com que ela volte todos os anos. “Jamais vou cortar esse laço”, garante. Além do Risorama, realizado entre os dias 29 de março e 3 de abril, este ano Muga também assina a produção do Guritiba e da festa de abertura do festival.

Leandro Daniel

Ator, diretor e produtor

O Fringe surgiu em 1998, e, com a mostra, nasceu também a relação de Leandro com o Festival de Curitiba. Seus trabalhos de mais sucesso dentro do evento foram pela Vigor Mortis (companhia de Paulo Biscaia Filho), como o assustador Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos, espetáculo que repercutiu por todo o país e faz sucesso até hoje. A vantagem do festival está, segundo ele, na possibilidade dos artistas daqui mostrarem seus trabalhos para críticos e produtores do Brasil e do mundo. No entanto, para este curitibano, mais relevante é a trajetória profissional de cada um. “É para isso que os olheiros vão se atentar”, garante. Ainda assim, acredita que para a produção local é um evento pouco relevante. “O festival sofre com o inchaço, não cresceu de forma saudável. Os profissionais têm que dividir espaços, não há tempo para montagens, o público fica confuso.”

No total, ele acumula 17 anos de carreira e mais de 40 peças no currículo. Há seis anos morando no Rio de Janeiro, participou de grandes produções para a televisão, como A Teia, Amores Roubados, Avenida Brasil e Fina Estampa, todas da Rede Globo. Deixou a capital do Paraná rumo a um público maior, novas formas de teatro e um clima mais agradável. “Literalmente vim em busca do sol”, finaliza.

Marino Junior

Ator, diretor e produtor teatral

Provavelmente você já viu este rosto, afinal, há 19 anos Marino está à frente do Teatro Lala Schneider, ao lado de João Luiz Fiani. No Festival de Curitiba, começou por meio do Fringe. Sobre o evento, Marino concorda que as condições atuais não são as ideais – falta espaço para tantas peças. Ainda assim, analisa que ficar de fora é dar um tiro no próprio pé. “Muitos grupos têm grande potencial, mas não participam. Não veem que estão abrindo espaço para aventureiros e ajudando a criar uma imagem negativa sobre o teatro feito em Curitiba”, destaca.

Para ele, estar dentro do festival aperfeiçoou sua carreira em Curitiba, mas nacionalmente não fez diferença. “Consegui público para continuar trabalhando aqui, mas acho ingênuo pensar que basta passar pelo festival para acontecer.” Entre suas participações no evento, destacam-se as atuações em Nem Freud Explica (este ano, pela décima vez no festival) e Werther, cuja primeira exibição, em 2006, foi palco para uma irônica situação. Na ocasião, coincidentemente, existia outro espetáculo com o texto de Goethe na mostra oficial. O crítico teatral Helio Ponciano assistiu ao Werther da companhia paulista e depois ao Werther de Marino. Ao final, concluiu que, apesar de homônimas, as adaptações eram completamente diferentes. “Ele ficou muito emocionado e veio me cumprimentar ao final do espetáculo”, relembra. A surpresa foi tanta que Ponciano decidiu organizar outra sessão da peça de Marino apenas para jornalistas. No entanto, uma queda de luz no meio da apresentação comprometeu o espetáculo, que teve de ser terminado à luz de velas.

Nesta 23ª edição, é a primeira vez que Marino surge como diretor na Mostra Oficial, com o espetáculo Tumba de Cães. Além disso, é possível assistir suas atuações em Nem Freud Explica, Uma Cama para Três e Hamlet na Máfia (todas do Fringe).

Nadja Naira

Atriz, iluminadora e produtora

Ela nasceu em Castro (PR), mas escolheu Curitiba para criar suas raízes. Nadja é o que costumamos chamar de “faz tudo”, alguém que passeia por várias funções – e consegue brilhantemente se destacar em todas elas. Formada em Artes Cênicas, ela tem sua trajetória profissional e pessoal ligada diretamente à história do Festival de Curitiba. Afinal, esteve lá, na primeira edição do evento, operando a sonoplastia de uma peça de Edson Bueno.

Além de atuar, já foi iluminadora, produtora e diretora. Foi ela quem assumiu o papel de Guta Stresser em O vampiro e a polaquinha, quando Guta saiu do elenco para morar no Rio de Janeiro. Ao contrário da conterrânea, porém, Nadja não pensa em sair de Curitiba ou se arriscar na televisão. O palco, segundo ela, é seu principal material de trabalho, e o Festival de Curitiba é “um prato cheio”.

Nesses dias de trocas e contatos preciosos, a grande visibilidade desperta o interesse de muita gente que convida a Companhia Brasileira de Teatro, da qual faz parte, a se apresentar Brasil afora. Por outro lado, lembra, apesar de promissor, o evento é momentâneo e acostuma o público a consumir teatro apenas nesta época. “É como se as pessoas esquecessem que temos teatro o ano todo”, acrescenta.

Recentemente, ela ganhou o prêmio de melhor iluminação pelo espetáculo Esta criança (apresentado durante o festival do ano passado), no 25º Prêmio Shell de Teatro, no Rio de Janeiro. Não por acaso, foi dentro do festival que aconteceu o fato mais importante da sua vida. Entre uma montagem e outra, Nadja teve sua “luz mais linda”, o filho Frederico, nascido em março de 2000.

Este ano, ela atua em Descartes com Lentes (na mostra Novos Repertórios, do Fringe) e em Nus, Ferozes e Antropófagos (na Mostra Oficial, nos dias 5 e 6 de abril), onde também faz a iluminação.

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