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Será que chove hoje?

Apesar de toda a inovação e tecnologia, o clima continua sendo o fator que mais influencia o agronegócio

Muito desenvolvimento, tecnologia e inovação. É inegável o quanto o agronegócio cresceu e, claro, evoluiu nos últimos anos. Novos maquinários, novas sementes, novas propostas de produção. As novidades são inúmeras. No entanto, há um fator muito importante na produção agrícola para a qual ainda não há controle: o clima.

Luiz Renato Lazinski, meteorologista que trabalhou na área durante 34 anos no Ministério da Agricultura, confirma que este, hoje, é o único fator que o produtor não consegue controlar. “Ele controla tudo. Escolhe a variedade mais produtiva, faz tudo, mas o clima ele não consegue. Por isso, o clima se torna um fator fundamental para o sucesso ou não das lavouras”, explica. O clima em uma produção agrícola não é apenas chuva, sol, calor e frio. Ele influencia no crescimento das culturas, na ocorrência de pragas, na quantidade e necessidade de água e fertilizantes e no rendimento das plantações. 

Em um mercado tão competitivo quanto o agronegócio, em que tudo pode depender do resultado de uma safra, minimizar fatores externos é o mais indicado. E, para lidar com as variáveis climáticas, é preciso contar com a meteorologia, já que se trata de uma ciência fundamental para evitar esses tipos de problemas.

É comum, porém, que as pessoas confundam a previsão de clima com a previsão de tempo. Na agricultura, apesar de a previsão do tempo também ser importante, é a previsão do clima que de fato impacta as decisões de plantio. Isso porque a previsão de tempo se refere às condições climáticas em um curto período de tempo. Já a previsão do clima é um panorama prolongado e completo dos padrões do tempo.

“Com a previsão do clima, nós conseguimos ter um horizonte de como será a situação durante três, cinco meses. Esse tipo de previsão não consegue dizer quando chove, mas dá uma estimativa se o período terá mais ou menos chuvas, mais ou menos frio”, explica o meteorologista. Luiz ainda afirma que, nos últimos anos, a previsão também evoluiu muito e, com isso, é possível garantir um horizonte maior, previsões mais avançadas e de um tempo prolongado. 

“Hoje, o agricultor não ‘planta no escuro’, ele tem uma ideia do que pode encontrar pela frente. Por exemplo, nós estamos prevendo a continuidade do La Niña – fenômeno climático-oceânico caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico. Isso significa chuvas acima da média no Centro-Sul, por exemplo, com veranicos mais prolongados. Um ano assim não é um clima muito favorável para as lavouras na região”, conclui Luiz. 

A meteorologia é de extrema importância para o sucesso do agronegócio. Geada em uma plantação de alface. (Foto: reprodução)

O clima do Paraná é favorável ao agronegócio

O Paraná é um dos maiores produtores rurais do Brasil. Segundo dados do Ministério da Agricultura de 2021, o estado é o segundo maior produtor do país. Isso se deve, também, pelo clima favorável da região. “Nós temos bons solos no Paraná e um clima propício para fazer duas culturas por ano. Sem contar que há regiões em que é possível plantar milho, soja e feijão e, no inverno, trigo e cevada. Ou seja, é uma região bem favorecida, tanto na questão de solo quanto de clima”, revela o meteorologista.

O agronegócio e as mudanças climáticas

Os efeitos das mudanças climáticas aparecem em eventos – catastróficos ou não – do mundo todo. O tema é tão discutido que a Organização das Nações Unidas criou o COP26, o maior e mais importante evento climático do mundo. Apesar deste ser um efeito visível da falta de cuidado dos humanos com o planeta, o meteorologista diz que, no caso da agricultura, esse tipo de problema – mudanças bruscas de clima – sempre existiram e sempre continuarão existindo. “O planeta já passou por períodos mais frios e mais quentes, ele sempre variou. Por isso, nós vamos continuar observando as mudanças e prevendo nossas ações”, conclui Luiz.

No entanto, segundo o engenheiro florestal e professor do curso de Agronomia da PUCPR Pablo Georgio de Souza, as mudanças citadas por Luiz acontecem com maior frequência agora. “Se você pegar uma base de dados climáticos, verá que há chuvas com maior intensidade. Isso, de fato, é normal. No entanto, o intervalo entre esses eventos está mais frequente, irregular. Isso gera uma maior dificuldade de planejamento”, explica.

Além disso, o engenheiro aponta a necessidade de realizar uma agricultura mais sustentável, a fim de preservar a natureza e, consequentemente, o clima. “Se a gente tem um clima mais equilibrado, essas oscilações param de acontecer com tanta frequência e é mais fácil fazer um planejamento com maior precisão de resultado.”

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*Matéria originalmente publicada na edição #260 da revista TOPVIEW.

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