A política frente pode estar à arquitetura e ao urbanismo? Entenda!
Política e arquitetura: será que uma interfere a outra?
A polarização da sociedade é só um dos aspectos do momento político em que vivemos. Mas a adoção de um lado, de um polo oposto ao outro, não deveria significar interrupção no processo de desenvolvimento e progresso de uma sociedade. Infelizmente, não estamos mais conseguindo estabelecer o diálogo entre diferenças, escutar a opinião do outro e contrapor de forma coerente. Em parte, porque o discurso oficial se baseia em um discurso de ódio às diferenças. Ou seja, deliberadamente não respeitamos mais o que é divergente. De outro lado, também porque assistimos aos fatos através de fake news fabricadas somente para criar ruído e inviabilizar o debate que a sociedade precisaria fazer. Como sociedade democrática, ainda temos muito o que aprender antes de atingirmos alguma maturidade.
A arquitetura e o urbanismo, dentro desse contexto de ineficácia do diálogo político, continuam procurando se ocupar da cidade, dos lugares onde vivemos. Na última década, de forma ainda não consistente, tentamos lidar com a questão da habitação: como as nossas cidades poderiam dar melhores respostas na questão da moradia, da qualidade de espaços públicos, enfim, nas questões espaciais que interferem na qualidade de vida do cidadão.
Temos tido a oportunidade de desenhar novos bairros, novos núcleos de desenvolvimento urbano, em cidades como Brasília, Ceilândia e São Paulo. Nesses lugares, como em todo Brasil, há carência de discussão e falta qualidade nas intervenções urbanas. Também estamos desenvolvendo, em conjunto com estudantes de arquitetura, um ensaio teórico sobre a habitação de interesse social em Curitiba, no qual discutimos o uso do solo como oportunidade de promover arquitetura e moradias de qualidade em toda a cidade e não só na sua periferia.
De qualquer forma, a atividade profissional no nosso campo depende das políticas de governo e das políticas de Estado. No Brasil, acabamos desperdiçando muita energia em bons projetos, boas reflexões, que nunca são construídas, simplesmente porque, quando muda de um governo para outro, há uma tendência de se engavetar propostas de adversários políticos. Muito se fala no combate à corrupção, que de fato é importante, mas se fizéssemos uma conta de quanto dinheiro a sociedade perde no nosso país em função de não desenvolvermos políticas de estado duradouras, ficaríamos assustados. Conheça alguns projetos que mesclam política e arquitetura.
Política e arquitetura
Operação Urbana Consorciada da Água Branca em São Paulo-SP
Urbanização que contempla habitação de Interesse Social para 1400 famílias, além do projeto das ruas e praças do novo Bairro. Como equipamentos previstos estão um parque junto à Marginal Tietê, uma Escola, Centro Comunitário e Unidade de Saúde.
Setor Habitacional Pôr do Sol – Ceilândia-DF
Urbanização que contempla habitação de Interesse Social para 1300 famílias, além do projeto das ruas, calçadão, praças e um parque de cerrado junto a uma área de preservação ambiental. Nessa expansão Urbana da cidade satélite de Ceilândia são previstos também equipamentos como um Centro de ensino, uma escola de ensino médio e um centro comunitário de bairro.
Masterplan da Orla do Lago Paranoá
Projeto urbano e paisagístico da Orla do Lago Paranoá em Brasília no Distrito Federal. Trata a Orla como um parque público e contínuo com áreas de lazer para toda a população, conforme idealizado pelo Plano Piloto de Lúcio Costa. Três áreas, duas no lago sul e uma no lago norte recebem tratamento para se tornarem parques de escala metropolitana.
Estúdio 41
Para a edição deste mês, dedicada à arquitetura, fomos desafi ados a convidar alguém que pudesse nos oferecer um ponto de vista que conectasse as questões políticas e socias do momento com a arquitetura. A escolha do Estúdio 41, escritório que nasceu da colaboração entre arquitetos interessados nas discussões e debates dos problemas da arquitetura e das cidades, nos pareceu uma alternativa natural. Boa leitura!
*Matéria originalmente publicada na edição 227 da revista TOPVIEW e com a colaboração do Estúdio 41.