ESTILO

Pertencer ao todo

Brasileira de nascença e parisiense de criação, Daniela Busarello define sua arte como uma experiência de transformação de si, dos outros e dos próprio ambiente

Daniela Busarello, nossa primeira convidada de 2022, realizou sua primeira exposição individual, intitulada VIDA, em setembro de 2020, na Galerie Mouvements Modernes,em Paris. No ano de 2021, o Mobilier Nacional incluiu em seu acervo duas de suas pinturas e, no momento, a artista tem exposições na Sage Culture Gallery de Los Angeles, na Fondazione dell’Albero d’Oro, em Veneza, e, também, em Curitiba, no Museu Oscar Niemeyer, a exposição Afinidades.

A pintura de Daniela propõe um espaço de conciliação entre a natureza – sua primeira inspiração – e a cultura, alicerce para o seu trabalho. Uma obra restauradora e que, ao mesmo tempo, celebra a vida, algo que se confunde com sua própria personalidade calorosa e entusiástica.

Sua obra surge pixelada: não se sabe se assistimos a algo muito ampliado ou absurdamente distante, dentro de um universo decomposto ou em formação. A paleta terrosa, justa e equilibrada não esconde a conexão telúrica. Formas orgânicas surgem da aglomeração de células-mundo contidas em cada toque da espátula, em um movimento de crescimento e ocupação da tela e representações semoventes e mutantes.

O trabalho não se pretende figurativo e não se fixa em um único elemento – antes, pretende representar o que está dentro e o que está fora dos seres. O resultado é elegante e sofisticado, em uma obra que não se constrange ao incorporar o belo e o sublime. Boa fruição!

Daniela Busarello

Daniela Busarello. (Foto: Colombe Clier)

É infinitamente grande e infinitamente pequena a observação do humano: células e líquidos, sensualidade, batimentos cardíacos, ondas magnéticas e emoções. Mergulho na memória íntima e no “tempo que passa”, ciclos de vida-morte-imortalidade. Observo a estética intuitiva da natureza – flora e cosmos – seus líquidos, respirações e movimentos. A fascinação pela metamorfose e os mitos de Ovídio. A ousadia de criar um “abrigo” ideal em que ser humano, natureza e universo são um continuum – respeitar o outro é respeitar a si.

Retomo o conceito latino de Genius Loci (“o espírito do lugar”). Exploro territórios, desenho paisagens abstratas, coleto “materiais testemunhos” – de um ecossistema frágil e ameaçado, mas também forte e autoregenerador. Me preocupo com a nossa atualidade, as ações desta era antropocena, e tento, da minha maneira, restabelecer a harmonia entre cultura e ecossistema.

Lusco Fusco de Très Sóis A.(Foto: Vilma Slomp)
Lusco Fusco de Très Sóis B. (Foto: Vilma Slomp)

*Matéria originalmente publicada na edição #257 da revista TOPVIEW.

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