Parece um retrocesso, mas é uma revolução
Que ano, meus caros! Nunca na história de cada um (aposto eu) alguém pensou que passaríamos por uma pandemia a nível mundial. Essa crise sanitária nos colocou em outro lugar de sentir e viver. Estamos aprendendo pela falta, a importância do toque, da convivência e da troca bem próxima. Todo esse cenário quase apocalíptico nos fez refletir sobre tudo, sobre os nossos relacionamentos, nossos trabalhos, familiares, projetos e, principalmente, sobre o nosso futuro.
Entendemos que, apesar das diferenças, são as similaridades que nos unem e nos fazem falta, não importa o aspecto. Um que eu destaco é a necessidade de espaço maior para morar. Não teve uma pessoa nestes últimos 4 meses que não desejou ter uma casa com jardim. E olha que nós não passamos por um completo lockdown. Foi necessário termos parte da nossa liberdade de ir e vir limitada para entender que esse mercado de nanorresidências não é saudável. É preciso mais que 18 m2 para se viver bem. É claro que essa discussão passa pelo aspecto social, que também ficou ainda mais evidente nesse momento.
“Mercúrio retrógrado é simplesmente uma ilusão de ótica que faz parecer que o nosso planeta está retrocedendo, a partir da nossa perspectiva. ‘Mercúrio retrógrado é uma definição científica real, que descreve o que acontece quando esse planeta parece estar se movendo para trás, da perspectiva da Terra´, diz a astrofísica de Oxford Rebecca Smethurst” (BBC)
Nós teremos que construir um “novo normal”. Apesar de eu achar essa expressão descabida nesse momento. Quero propor a todos vocês uma mutação, melhor, uma transmutação de conceitos que estavam tão arraigados em nós. É fundamental que esse momento sirva para que a gente reflita e transforme todo o incômodo, medo, ansiedade e descobertas em evolução. Neste ano, vocês perceberão que grande parte dos projetos aqui expostos trazem em seus bojos qualidades fundamentais para esse cenário pós-pandêmico: biofilia, sustentabilidade, acessibilidade, beleza e arte.
Na realidade que estamos construindo, o homem e a mulher terão que reencontrar a sua humanidade e será necessário que todos nós transcendemos para algo ainda mais humano, mais conectado com a natureza e mais consciente das limitações que o nosso meio pode nos impor. Não se engane ao achar que a arquitetura não terá nada a ver com isso. Pelo contrário, ela será uma das maiores influenciadoras: seu poder de acolher, agregar, bem como de limitar e de separar, será algo fundamental nesse momento “Mercúrio retrógrado”.
*Carta do publisher originalmente publicada no Anuário Premium 2020 (edição #241) da TOPVIEW.