O Festival de Cinema e os outros atrativos da Lapa
Novembro está sendo um mês de fôlego para o cinema: na sequência do Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba, FICBIC, e de uma mostra de documentários, começa nesta terça-feira (17) o Festival de Cinema da Lapa.
Para que você entenda melhor o evento e ainda aproveite tudo que a cidade tropeira possui, preparamos um verdadeiro Guia da cidade e seu evento. Para começar, saiba tudo sobre o Festival e seus filmes, na sequência embarque nas dicas turísticas e gastronômicas e aproveite ainda mais a viagem!
Festival
Em sua oitava edição, o evento exibe gratuitamente cerca de 50 filmes até o dia 21 de novembro, reforçando o aspecto cultural da cidade histórica. Como no ano passado, as exibições se concentram em praça pública, o que leva a curadoria a desviar do caráter inicial do festival, então focado em filmes de época.
“Como quase todos [os filmes de época] têm censura, resolvemos mudar para que todo mundo pudesse assistir”, explica Maria Inês Borges da Silveira, presidente do Instituto Histórico e Cultural da Lapa, que promove o festival. Exceção é Muitos homens num só, de Mini Kerti, ambientado no início do século 20.
Além do filme de Kerti, outros três longas integram a Mostra Competitiva deste ano: o suspense Romance policial, de Jorge Durán; as histórias cruzadas de Travessias, de Salete Machado, gravadas no Paraná; e o thriller Cormorant, do catarinense radicado em Curitiba Beto Carminatti.
A programação traz ainda as mostras infantil e infanto-juvenil, uma seleção de curtas-metragens paranaenses e lapeanos, documentários e dois filmes de terror exibidos em sessões à meia-noite. Destaque para Mostra Memória CineFAP, que promete contrastar com o tom aparentemente mais tradicional da Mostra Competitiva. São dez curtas-metragens voltados a temas como sexualidade, gênero e representação feminina no universo cinematográfico.
“É um recorte mais provocativo, com filmes híbridos, experimentais, tentando identificar tendências dos últimos anos”, define Fábio Allon, curador da mostra – ela mesma um passo em direção à renovação e expansão do festival.
A organização planeja receber inscrições de curtas e longas-metragens na próxima edição – neste ano, o tempo de captação de recursos via Lei Rouanet impossibilitou tal abertura, segundo Maria Inês Borges da Silveira. “O importante é não parar, é continuar incentivando para o festival se tornar referência”, afirma a coordenadora, comemorando novidades como o concurso para vídeos de celular (promovido em parceria com a RICTV), um seminário que vai discutir como levar cinema às escolas (inclusive nos lugares mais longínquos) a partir da polêmica lei federal que torna obrigatória a exibição de filmes nacionais nas salas de aula, e a consolidação do Oficine, projeto que envolve estudantes locais na produção de curtas-metragens.
O olhar de 19 jovens locais abre esta edição do Festival da Lapa. O documentário Agricultura: amor ou profissão? foi realizado por alunos do Colégio Estadual Prof. Pedro José Puchalski ao longo de quatro fins de semana. Eles participaram do Oficine, projeto coordenado por Solange Stecz, professora do curso de cinema da UNESPAR, que há quatro anos realiza tais oficinas e fornece equipamentos para que a comunidade local produza um curta-metragem. “O filme tem o olhar do jovem sobre a questão de estar no campo, e os moradores da região também refletem sobre sua realidade a partir da ótica desses jovens”, afirma Stecz. Leva-os além da condição de espectador, conferindo-lhes protagonismo.
Em quatro anos, cerca de 100 jovens participaram do Oficine – o número de vagas varia conforme o orçamento. “É interessante a multiplicação desse contato com o cinema com as famílias, com os colegas que não participaram”, avalia Solange. Apesar de considerar que as novas gerações têm mais contato com o audiovisual – fazendo vídeos com seus celulares, assistindo a outros no Youtube –, a professora ressalta a importância de fornecer recursos técnicos e, sobretudo, conferir protagonismo aos jovens.
Essa efervescência em torno da sétima arte, no entanto, cessa pouco depois, já que o Cine Teatro Imperial, único cinema da cidade, está desativado, aguardando reformas estruturais: palco, forração acústica, rede elétrica e telhado são alguns itens com maiores danos. “É uma pena que uma cidade tombada, que faz há oito anos um festival de cinema, não tenha uma sala cinema”, critica Maria Inês Borges da Silveira. O edifício integrando a área tombada pelo patrimônio histórico, no centro da Lapa.
Segundo Abelardo Ferreira Padilha Neto, diretor de projetos na área cultural e de patrimônio histórico da prefeitura, “o prédio se degradou e não houve manutenção correta”. Padilha Neto afirma que o projeto para restauração, orçado em R$ 1 milhão, está pronto, em fase de captação de recursos junto ao Ministério da Cultura e outros órgãos. O Cine Teatro Imperial, com cerca de 300 lugares, foi doado à prefeitura da Lapa há um ano e meio pelo governo estadual. A expectativa é de que a reforma seja concluída no final de 2016.
TURISMO E GASTRONOMIA
Impossível ir até a Lapa e não aproveitar o que é possível aprender sobre a história e as delícias que o lugar reserva. Aliás, unir os atrativos da tropeira cidade com o Festival de Cinema faz parte do script.
“A Lapa acolhe muito bem, é aconchegante, tem rica história, patrimônio tombado e é procurada para muitas filmagens”, afirma Maria Inês Borges da Silveira, coordenadora do festival, lembrando que mostrar a cidade é um dos objetivos do evento.
Para começar este passeio atente-se ao charme histórico da também chamada “Cidade dos Heróis”. Parada estratégica de tropeiros do caminho do Viamão, que ligava no Rio Grande do Sul a São Paulo, a Lapa cresceu como cidade durante o século 18.
Hoje, como um palco que nunca foi desfeito tem suas ruas de paralelepípedos originais, luminárias antigas e as construções em estilo colonial português dos séculos 18 e 19 totalmente preservadas.
Nesse charmoso cenário permanece a memória de um episódio que marcou a trajetória da política brasileira e ficou conhecido como Cerco da Lapa, ocorrido durante a Revolução Federalista, em 1894.
As lutas que ali se desenrolaram contribuíram de forma direta para a consolidação da República, no ano de 1894. Cada casa, cada rua, cada monumento, tem sua própria e antiga história. A cidade toda é um convite a um passeio e fica ainda mais interessante em tempos de festival de cinema com o vai e vem de artistas.
Vale dar uma volta pelo centro histórico, passar pelo Panteão dos Heróis – monumento que guarda a memória dos soldados que participaram do Cerco da Lapa – e visitar o Theatro São João, uma joia de estilo neoclássico com influência elisabetana que chegou a ser visitada por D. Pedro II em 1880 e que foi convertido em enfermaria durante a Revolução Federalista.
Aliás, esse você vai ter tempo para apreciar. Basta chegar um pouquinho antes da exibição de algum dos filmes do Festival, sentar-se e embasbacar-se com o patrimônio cultural.
Uma dica? Visite a cidade ao cair do sol, quando as luminárias estão acesas dando um ar romântico à cidade. Continue a noitada com vinho, quitutes generosos e música ao vivo no aconchegante Restaurante e Bar Expedito.
Para quem vai com as crianças
Já imaginou sair dos longos textos de livros e aprender história na prática? O Aprendiz de Tropeiro é um pequeno passeio turístico promovido pelo Hotel Tropeiro da Lapa em parceria com o empresário e tropeirista lapeano Márcio Assad.
A ideia é levar crianças e adultos para vivenciarem o cotidiano das tropas num roteiro repleto não só de história, mas também de aventura, tradições antigas e – o mais gostoso de tudo – delícias da gastronomia lapeana.
O passeio começa com a alegre recepção de dois “tropeiros” devidamente trajados contando a história e as curiosidades do tropeirismo. Após saborear o bolinho-pipoca (pãozinho típico assado feito de polvilho), a turma segue em cavalgada.
No caminho, uma parada na mata para tomar café do jeito que os tropeiros tomavam: preparado na fogueira, sem o uso de coador. O pó é misturado à água fervente e para separar resíduos do líquido, uma brasa é jogada no bule.
É hora de montar novamente e seguir rumo à vilazinha que reproduz a Rua das Tropas, por onde os tropeiros entravam e passavam pela Lapa no passado. É lá que uma costela assada em fogo de chão (de lamber os dedos) espera os “turistropeiros” para o almoço.
Ao redor da fogueira saboreia-se também arroz a carreteiro, feijão tropeiro, saladas e, uma novidade: a tropeiroxinha, uma coxinha feita com carne seca e pinhão, ingredientes que remontam ao antigo cardápio das tropas.
O ciclo completo com passeio ao pequeno caminho das Tropas, almoço, roteiro histórico-cultural ( guiado pelo centro histórico da Lapa) e café com mistura – o café colonial local: R$ 65 crianças ( até 12 anos) e R$ 100 adultos. Informações (41) 9986-1011 e 3622-0055 e www.tropeirodalapa.com.br
Onde e o que comer
* Culinária ítalo-tropeiro do Expedito
Aqui, a Itália mistura suas colheres com as da cozinha regional formando um cardápio…ítalo-tropeiro! As delícias, que unem massas a carnes e temperos da região, são servidas no restaurante Expedito, comandado pelo chef local Rheinard Pfeiffer. O Expedito é restaurante, bar e pizzaria. Suas porções são generosas e supersaborosas – caso da mandioquinha frita extremamente cremosa, o bolinho de carne seca, a sopa de quirerinha com suã e paio, a abóbora com carne e cebola caramelizada, o nhoque de pinhão com ragu de linguiça…
Rua Amintas de Barros, 260, (41) 3622-9845. Quarta-feira a domingo das 12h à 0h. www.expeditorestaurante.com.br
*Culinária lapeana do Lipski
A comida tradicional lapeana, originada no tropeirismo, é servida há quase 40 anos nesse restaurante na avenida principal, do ladinho do centro histórico. Virado de feijão com torresmo, ovos e linguiça, arroz carreteiro, quirera e bisteca de porco são algumas das delícias.
Avenida Manoel Pedro, 1.855, (41) 3622-1202. Segunda-feira das 11h às 14h, terça a sábado das 11h às 14h30 e das 18h30 às 22h e aos domingos e feriados das 11h30 às 16h. www.lipskirestaurante.com.br
*Coxinha de Farofa nas padarias
A guloseima surgiu na Lapa meio que por acidente lá pelos anos 1940 durante uma festa de igreja. A carne tinha acabado, mas a festa prosseguia com massa de pastel e farofa ainda abundantes. Foi quando uma senhora teve a brilhante ideia de juntá-los em formato de trouxinha e fritá-los. Surgiu o salgado que, mais tarde, foi informalmente elevado a iguaria lapeana . Encontra-se na maioria das padarias da cidade.