Os novos movimentos
“Temos que entender o turismo como um elemento da sociedade. Aquilo que a impacta reflete no setor”, diz Juliana Medaglia, professora da UFPR e coordenadora do Observatório de Turismo do Paraná.
A pandemia, a tecnologia, o consumo digital, o envelhecimento da população, as questões políticas e as mudanças climáticas são alguns dos fatores apontados por Medaglia para exemplificar a relação estreita entre aquilo que impacta a sociedade e o turismo.
Para ela, a personalização é uma das mudanças. “Acho que é a economia da experiência: um turismo que deixa de ser passivo para ser ativo. Até os anos 1990, as pessoas compravam o que era vendido. Agora, elas querem a experiência, o sabor, a cor, querem escolher o que fazer de acordo com a sua personalidade”, analisa. Com a customização em alta, encontram-se outros caminhos e tendências para se explorar no universo turístico.
Wellness tourism
Um desses novos movimentos é o turismo de bem-estar, que visa à promoção de atividades que tragam benefícios à saúde espiritual, psicológica e física. Ruiz afirma que esse estilo apresenta um crescimento 50% mais rápido do que os outros setores.
A empresa de consultoria de dados HTF Market Intelligence divulgou, neste mês, um relatório a respeito do wellness tourism. Conforme pesquisas da instituição, o destino mais popular nessa categoria, em 2019, foram os Estados Unidos. No ano passado, o país recebeu 47,5 milhões de turistas exclusivamente para esse fim.
O relatório também concluiu que a personalização será mais predominante no turismo de bem-estar, salientando a tendência urban wellness, marcada pelos spas em cidades e metrópoles.
A tecnologia
A personalização também dá espaço ao consumo digital dentro do turismo – e vice-versa. As redes sociais também contribuem para a democratização do setor de viagens. Segundo Medaglia, elas mudaram a forma de fazer turismo, porque aproximam situações do cotidiano das pessoas.
“Um exemplo claro disso são os grupos de Facebook: lá, há grupos exclusivos para quem quer visitar a Disney, para quem quer ir a Portugal… quando você tem acesso à informação, consegue personalizar aquilo que quer. O que permite isso é a tecnologia. A base do produto turístico é a informação”, pontua Medaglia.
Além do consumo de informações por parte do viajante, a relação entre tecnologia e turismo pode ser refletida na divulgação: “as redes sociais transformaram o que a gente divulga e como promovemos o destino. Acho que precisamos pensar em ideias inovadoras. Vamos usar a tecnologia a favor do turista, para melhorar a estruturação”, diz Ruiz.
“Você pode imaginar um novo turista, mas a ‘prova dos nove’ vai ser o comportamento das pessoas na realidade.” – Robson Gonçalves
Os pontos turísticos
Além das tendências que estão surgindo, o turismo “tradicional” terá de se reinventar por conta da pandemia. A visita aos pontos turísticos foi interrompida por algum tempo e, com a flexibilização das restrições por conta da proteção contra o coronavírus na maior parte do mundo, essa é uma prática que está voltando à tona.
Segundo Robson Gonçalves, economista e professor da FGV, a reabertura dos atrativos tem relação com a oferta e a demanda. “Haverá uma demanda de conhecimento de que lazer é uma questão de saúde mental e, assim, novos protocolos. Você tem uma demanda, que agora é mais intensa, e restrições para o lado da oferta.”
Essas novas restrições ainda não são baseadas em certezas: “imagine o Central Park, em Nova York, ou o Champ de Mars, em Paris, ou o Montjuic, em Barcelona, lugares em que você diz que existe uma regra de distanciamento. Como ter um aparato de fiscalização disso? Será que haverá uma legitimação dos novos protocolos? Haverá alterações e restrições. Qual será o equilíbrio entre essas coisas só o tempo vai dizer”, afirma Gonçalves.
“Você pode imaginar um novo turista, mas a ‘prova dos nove’ vai ser o comportamento das pessoas na prática”, conclui o especialista, sobre as visitas aos pontos turísticos.
Os novos movimentos do turismo se encontram também na maneira de viajar. O setor da aviação, por exemplo, foi severamente afetado pela pandemia. O Grupo LATAM, em relatório enviado à TOPVIEW, diz que, apesar dessa crise ter sido devastadora para o turismo, as pessoas continuarão viajando, pois há conexões que apenas o avião permite realizar.
“Antes da pandemia, o Grupo LATAM Airlines operava voos para 146 destinos em 25 países e transportava passageiros de e para cinco continentes. A LATAM oferecia um voo por minuto e, em alguma parte do mundo, estava decolando ou pousando um voo da companhia. Agora, a LATAM está retomando gradualmente os seus voos em todo o Brasil”, pontua o relatório.
O impacto também se reflete nos dados. Segundo a International Air Transport Association (IATA), somente neste ano, as empresas aéreas devem perder mais de 55% em receita. No Brasil, as companhias aéreas esperam uma queda de US$ 10,2 bilhões no lucro em 2020 e de 53% em relação ao total registrado em 2019.
De acordo com o gerente-geral da AirEuropa no Brasil, Gonzalo Romero, a companhia adotou medidas para minimizar os impactos nos passageiros. No início da pandemia, ela optou por dar suporte ao cliente. “O primeiro ponto era ajudar os passageiros que queriam voltar ao Brasil ou ao país de origem”, explica. Desde o dia 15 de julho – depois de suspender parcialmente as operações –, a empresa voltou a operar voos para lugares além da Espanha – país-sede da empresa.
“Temos que entender o turismo como um elemento da sociedade. Aquilo que a impacta reflete no setor” – Juliana Medaglia
A indústria de cruzeiros também foi afetada. De acordo com dados da Associação Internacional das Companhias de Cruzeiros (CLIA), o prejuízo nesse setor foi de € 25,5 bilhões só na Europa. No continente, ainda segundo a Associação, 53 mil empregos são gerados e movimenta-se € 14,5 bilhões ao ano.
Em nota enviada à TOPVIEW, a assessoria de imprensa da MSC Cruzeiros pontua que, à medida que a Covid-19 se propagou pelo mundo, houve um aprimoramento dos processos de higienização e a introdução de medidas de limpeza cada vez mais rigorosas nos navios da marca. Em 17 de agosto, saiu da Itália o primeiro transatlântico pós-Covid-19 no país. O MSC Graciosa está sendo considerado um “teste de risco” para a indústria de cruzeiros em todo o mundo.
*Matéria originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW.