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O espetacular trabalho de Michele Menezes pela cultural infantil

A diretora geral da Mostra Espetacular - um dos maiores eventos de arte para crianças no Brasil - fala sobre o evento, que começa neste final de semana

Serão nove dias de teatro, circo, dança, performance, música, artes visuais, literatura e contação de histórias, com atrações nacionais e internacionais. Os espetáculos, shows, exposições e outras ações da Mostra Espetacular – todos gratuitos – irão ocupar diversos espaços da cidade como teatros, centros culturais, praças e parques. Em sua terceira edição, a Mostra Espetacular teve quase 200 trabalhos inscritos. Destes, cerca de 20 foram selecionados. A curadoria ficou por conta da arte-educadora Luciana Varaschin, do site Muralzinho de Ideias, da diretora de teatro Fátima Ortiz e da própria idealizadora da Mostra, Michele Menezes.

Nesta entrevista, a diretora geral revela como teve a ideia de fazer uma mostra para crianças, sobre a responsabilidade que a mostra tem e por que luta tanto para que ela seja gratuita.

TOPVIEW: A Mostra Espetacular está em sua terceira edição em Curitiba. De que forma o evento cresceu ao longo desse tempo e quais são os aprendizados que ficaram?
Michelle Menezes: A Espetacular não cresceu em quantidade de programação, digo que ela “encorpou”. Ampliamos a quantidade de linguagens, estamos trazendo mais grupos de fora, inclusive internacional, aperfeiçoando a produção e ousando mais nas ações. A importância da Mostra também é reconhecida pelo país, pois estamos fazendo parte da Rede de Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil. O maior aprendizado é que sempre podemos ampliar e aperfeiçoar. Por isso, tentamos olhar o projeto em 360° e ter uma relação próxima com nosso público, com os artistas que participam, com a equipe, com patrocinadores e apoiadores, etc.

“Eu pensei em produzir uma peça ou trazer projetos de fora, mas achei pouco. Queria algo maior, uma experiência mais significativa, mais intensa.”

TV: Como surgiu a ideia de criar uma mostra só para crianças?
MM: Primeiro, por uma crise profissional. Eu sempre trabalhei com projetos culturais e eventos para adultos e chegou aquele ponto da carreira em que eu me questionei e percebi que não era completa. Eu amava o que fazia, mas faltava algo. Em 2015, entrei em processos de terapia e coaching para me resgatar. Sabe aquele bem-estar que você sente quando ouve uma música que ama? Ou aquela sensação de viagem quando lê um livro? Ou aquela tensão quando assiste a um filme de suspense? Ou o friozinho na barriga de entrar no teatro? Esse é o poder mágico que a arte tem de nos fazer voar para além do que é concreto, real. De nos permitir criar outras realidades e viver experiências através do sensível, mas sem tirar nossos pés do chão. E eu tenho uma paixão por isso desde criança… e adoro criança. A partir daí, comecei a pensar em projetos para crianças. Eu pensei em produzir uma peça ou trazer projetos de fora, mas achei pouco. Queria algo maior, uma experiência mais significativa, mais intensa. Tenho uma Mostra para adultos (chamada Novos Repertórios) e gosto da ideia de unir muita gente, público e artistas, em vários lugares, com um monte de gente trabalhando E crianças por todas as partes era meu sonho de viver. Foi assim que surgiu a Espetacular.

“A arte é um instrumento importantíssimo de desenvolvimento pessoal e social e é a minha forma de fazer algo positivo pelo o mundo.”

TV: A Mostra é voltada ao público infantil e isso aumenta ainda mais a responsabilidade da organização. De que forma é feita a curadoria do evento?
MM: A curadoria é a parte mais delicada do projeto. Trabalhamos meses para definir critérios e escolher os espetáculos e ações. A Mostra é voltada ao público infantil, mas também às famílias, aos artistas e às educadoras e educadores. A curadoria olha para todos. Nessas três edições, tivemos processos diferentes de curadoria, realizadas por curadores convidados diferentes. Este ano, por exemplo, fizemos um chamamento. Recebemos mais de 200 inscrições. Eu, a Fatima Ortiz (Pé no Palco) e a Luciana Varaschin (Muralzinho de Ideias) nos debruçamos sobre elas para assistir e discutir, não só a programação, mas sobre o que pensamos sobre o fazer de arte para criança, sobre qual a nossa relação e responsabilidade, sobre qualidade artística e sobre o que gostaríamos que a nossa cidade visse. Por mais que a metodologia mude todos os anos, fundamentalmente é um processo de meses de muita reflexão.

TV: Há uma preocupação muito grande de o evento ser acessível, por ser gratuito e pelo trabalho que é feito com a rede pública de ensino. Por que a Mostra Espetacular trabalha dessa forma?
MM: Muitas pessoas me questionam se não estamos deseducando as pessoas que gastam com tantas coisas e poderiam pagar para ir ao evento. Pode ser. Mas no ano passado e neste, o projeto conta com lei de incentivo. Passo o ano inteiro buscando patrocínios diretos e apoios para complementar os recursos e com isso poder realizar a Mostra sem depender de bilheteria, que é uma coisa incerta. Com tudo pago, quero lotar as atividades! Quero que os artistas fiquem felizes, quero que as famílias não precisem escolher uma ou outra coisa, que sejam assíduas, como algumas que já nos acompanham. Quero ver o brilho nos olhos de todas as crianças, não só das que podem pagar por isso. A arte é um instrumento importantíssimo de desenvolvimento pessoal e social e é a minha forma de fazer algo positivo pelo o mundo.

TV: Em sua opinião, quais são os destaques da Mostra deste ano e por quê? E o que podemos esperar dela nos próximos anos?
MM: É difícil destacar atrações, porque a programação já é um recorte e resultado de uma superseleção, por isso o que indico é que as pessoas aproveitem ao máximo! A gente inclusive aproveita essa data, que tem o feriadão, pra criar programações diferentes para a família.
Para os próximos anos, queremos crescer cada vez mais, projetar Curitiba no mundo e a trazer a arte do mundo pra cá.

Serviço

Mostra Espetacular 2018_De 10 a 18 de novembro.

Locais e programação completa aqui.

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